terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Bico calado

  • “Disseram-me para prestar esta declaração”. A estranha história dos dois ciganos que apareceram a apoiar Ventura. Hélder Gomes, Expresso.
  • John McCain pode em breve conseguir controlar as terras dos índios Apache do Arizona. Tudo começou em 2014, sob a capa da sua eleição como senador daquele estado. Dissimulado num pacote de verbas para financiamento militar, McCain incluiu uma cláusula, a 3003, que lhe permitiu cumprir o que tentava fazer através de medidas legislativas desde 2005 - entregar 2.400 acres de terras sagradas Apache à mineradora Rio Tinto, que há muito estava interessada nas terras de Oak Flat enormes depósitos de cobre. Embora a Casa Branca e o Senado fossem controlados pelo Partido Democrata na época, o presidente Barack Obama assinou em 2012 o projeto de lei, com a Secção 3003 intacta, em lei, contra as repetidas objeções dos Chefes índios e do próprio Departamento de Agricultura. Seis anos depois, a visão de McCain está prestes a concretizar-se. Tudo isso após muita oposição, muita tentativa de negociação que envolveu Wendsler Nosie, cuja oposição ao projeto valeu o corte de subsídios governamentais para o combate à SIDA no território Apache de San Carlos. Refira-se que em 1955, o presidente Dwight Eisenhower retirara aos Apache a posse das terras de Oak Flat. NewRepublic.
  • Subiu para 72 o número de jogadores em quarentena rigorosa em vésperas  do Open da Austrália, depois que um quinto teste positivo para coronavírus apurado nos voos charter que traziam jogadores, treinadores, oficiais e jornalistas de Doha, Catar para Melbourne. The Hindu.
  • «O Jornal Económico entende que o hacker Rui Pinto cometeu um crime punível com prisão, por ter revelado nas redes sociais o seu voto hoje, na votação antecipada das eleiçoes presidenciais. É obviamente um rotundo disparate, pois o segredo de voto só se refere obviamente à proibição de revelação de voto alheio. Nem poderia ser de outro modo. A que propósito é que numa democracia liberal fosse proibido que alguém revelasse publicamente o seu voto? » Vital Moreira, Causa-Nossa.
  • A gigante petrolífera francesa Total decidiu abandonar o lóbi de energia American Petroleum Institute por discordar das políticas relacionadas com o clima. Sylvie Corbet.
  • Mapa dos países onde Cuba presta atualmente assistência médica contra a Covid19 versus mapa dos países onde os EUA atualmente têm tropas estacionadas. Alan R MacLeod.
  • Perspetivas de perdões alimentam mercado de acesso a Trump. Aliados do presidente angariam dezenas de milhares de dólares de pessoas em busca de perdão. O artigo de Michael S. Schmidt e Kenneth P. Vogel no NYTimes de 17jan2021, revela uma coisa que muito boa gente dizia ser fruto dos amigos das teorias da conspiração: que nos EUA há um mercado estabelecido de compra de perdões presidenciais. Os angariadores são gente como Brett Tolman, John M. Dowd, Rudolph W. Giuliani, Matt Schlapp, Mark D. Cowan, Karen Giorno. 

1 comentário:

OLima disse...

“Disseram-me para prestar esta declaração” - atualização:
«A história não contada de Ventura em Bragança e o vídeo do cigano que, afinal, não o é», por MIGUEL CARVALHO, Visão 18jan2021
https://visao.sapo.pt/atualidade/2021-01-18-a-historia-nao-contada-de-ventura-em-braganca-e-o-video-do-cigano-que-afinal-nao-o-e/

«(...) Fátima Gomes publicou nas redes sociais um pedido de desculpas pelas ofensas involuntárias, considerando ter existido “um mal-entendido”.

O caso de Natanael é mais bicudo: num vídeo pessoal gravado horas depois do sucedido – embora circule uma versão curta, a VISÃO acedeu à versão completa, de cinco minutos – confessa, afinal, que não é cigano e garante que “em nenhum momento” se identificou como tal. Nascido em Portugal e criado em Madrid, Natanael garante ter sido convidado a aparecer na sede quando “já estava na cama”. E relata: “O segurança do senhor Ventura agarrou-me pelo braço e meteu-me lá dentro (…) Entrei porque me agarraram”. Depois, sim, manteve-se no local “de livre vontade”. Pedindo desculpa aos ciganos por toda a polémica criada, confessa ter muitos amigos daquela etnia, alguns dos quais, admite, até já estiveram com ele na cadeia. “Não quero ofender nenhum tipo de etnia”, garante, depois de ter recebido mensagens ameaçadoras. “Não sou esse género de pessoa, para mim somos todos iguais”. Confessando-se distante da política, Natanael André admite: “O que gosto é de fumar um porro [charro] de erva e estar com os amigos tranquilamente”. No vídeo, assume não ter recebido qualquer contrapartida financeira para aparecer ao lado de André Ventura. “Oxalá me tivessem pagado”, admite. “Se soubesse antes que ia ter mil pessoas a ameaçarem-me no Facebook, teria pedido cinco mil euros…”.
O “patrão” das discotecas

A sede de candidatura de André Ventura em Bragança, onde ocorreu o polémico momento “cigano”, tem, contudo, outra curiosidade.

A loja foi emprestada ao partido pelo empresário do imobiliário Norberto Lopes Garcia, apoiante do Chega e amigo do líder da distrital do partido, José Júlio Vaz Pires, antigo presidente de junta de freguesia do PSD em Bragança, e pelo filho Telmo Garcia, dono das três discotecas da cidade: Mercado Club, Moda Café e Club Havana. “A loja estava vazia há bastante tempo, os dirigentes do Chega comprometeram-se a limpar aquilo tudo e cedemos o espaço por um mês, sem custos. Foi bom para todos. Mas se fossem mais meses, já não dava. Não há almoços grátis”, assume Telmo Garcia à VISÃO.
Segundo o empresário e vice-presidente da Associação Nacional de Discotecas, o pai “é que é grande defensor do Ventura, acha que o Chega devia ser governo”. Telmo é um pouco mais moderado. “Se integrasse uma geringonça de direita já ficava satisfeito. Agradam-me algumas ideias do Ventura, sobretudo quando ataca os corruptos e promete combater a metade do País que anda a chular a outra metade que cumpre e paga impostos”. Telmo Garcia é contestatário das medidas do Governo para combater a crise económica gerada pela pandemia e até participou na manifestação dos empresários da restauração em frente à Assembleia da República, em novembro, promovida, entre outros, pelo chefe de cozinha Ljubomir Stanisic. “Quando fechei as discotecas em março tinha 200 mil euros em depósitos à ordem, mas já foram”. Telmo Garcia desmente, entretanto, ter voado de Bragança para Lisboa para participar na referida manifestação, uma vez que é piloto de aeronaves. “Por acaso nesse dia fui de carro…”, contesta. “Já tive uma avioneta minha, mas agora tenho uma em regime de copropriedade”.

Nas eleições presidenciais, não vai, porém, deslocar-se às urnas. Se pudesse, “quase de certeza votaria no André Ventura”. Mas não pode. “A minha residência fiscal continua a ser em Marrocos, onde tenho uma empresa de relvas desportivas”, explica. O candidato Ventura pode, pois, ficar sossegado: este, pelo menos, parece ser dos tais “portugueses de bem”. E não é refugiado.