Um estudo recente publicado pelo laboratório de ideias Competitive Enterprise Institute (CEI), levanta preocupações ambientais em relação aos veículos elétricos no que parece ser a mais recente tentativa de organizações associadas ao financiamento de combustíveis fósseis para travar a transição do petróleo para produtos mais limpos. Há muito que o CEI é um disseminador de desinformação sobre ciência do clima e patrocinado pelas petroliferas como a ExxonMobil e pelas fundações do bilionário petroquímico Koch. (…)
De acordo com David Pomerantz, diretor executivo do
observatório Energy and Policy Institute, o CEI e outros não são autoridades
confiáveis em questões de política climática, uma vez que adotaram uma
ideologia anticientífica. «Se alguém passou grande parte de sua carreira negando
as alterações climáticas é um problema, e agora essa pessoa escreve um artigo
de opinião disfarçado de investigação, dizendo 'os veículos elétricos são maus
porque não fazem o suficiente para resolver as alterações climáticas’ - e essa
pessoa escreve em nome de uma entidade financiada por empresas de petróleo -
talvez não devêssemos aceitar os seus argumentos, todos eless há muito
apresentados e desmascarados, de boa fé», diz Pomerantz.
Outros artigos publicados por entidades patrocinadas pelos combustíveis fósseis levantaram afirmações enganosas semelhantes de que os veículos elétricos não são melhores para o ambiente do que os carros movidos a gasolina. O Manhattan Institute (outro beneficiário do dinheiro de Koch e da ExxonMobil), argumentou, por exemplo, num relatório de 2018 que a ampla adoção de veículos elétricos provocaria mais poluição do ar e poucos benefícios climáticos - afirmações que os especialistas em energia do Rocky Mountain Institute e de outros organismos desmascararam.
Os principais argumentos apresentados neste relatório do CEI resumem-se às críticas à produção e eliminação de baterias elétricas, bem como à fonte de eletricidade que alimenta esses veículos. Isso já foi desmascarado. Embora os veículos elétricos tenham algum nível de impactos ambientais adversos, particularmente no processo de fabrico de veículos e baterias, o CEI usa o truque retórico de focar exclusivamente esses impactos – por vezes exagerando ou deturpando-os - enquanto praticamente ignora as desvantagens ambientais comparativas dos transportes movidos a petróleo. Embora Lieberman reconheça que os veículos elétricos não têm escape nem emissões associadas, ele não discute esses benefícios.
Outro ponto refere-se aos materiais usados para fabricar os carros. As baterias dos veículos elétricos são feitas de materiais como cobalto e lítio, extraídos de minas. No entanto, o cobalto e o lítio são usados em muitas coisas e não são exclusivos da tecnologia dos veículos elétricos. O estudo do CEI afirma que os impactos ambientais resultantes da mineração desses materiais receberam “pouca atenção”. No entanto, a questão foi explorada em profundidade num relatório do CongressionalResearch Service de junho de 2020 intitulado «Efeitos ambientais de veículos com motor de combustão elétrica e bateria interna». (…)
Ao tentar argumentar que as baterias e o fabrico de veículos elétricos são um desastre ambiental prestes a acontecer, o relatório do CEI também refere a intensidade energética do fabrico de veículos elétricos. E embora o processo tenha alguns impactos negativos, as emissões da produção desses veículos são mais do que compensadas durante a operação dos veículos, pois não há emissões do tubo de escape. De acordo com fontes que vão da Bloomberg New Energy Finance aos analistas da indústria Wood Mackenzie, os veículos elétricos são muito mais limpos do que os a gasolina em termos de emissões de gases de efeito estufa, durante as operações dos veículos e durante todo o ciclo de vida do carro. Várias análises apoiaram esta conclusão, incluindo um estudo publicado no início de 2020 na revista científica Nature Sustainability. Esse estudo descobriu que mesmo em áreas mais dependentes da eletricidade a carvão, os veículos elétricos são mais limpos em termos de emissões gerais do que os veículos a gasolina.
Outra questão é o que acontece com os veículos elétricos no fim de vida. As baterias (normalmente de íon-lítio) são geralmente seguras para aterros, mas a reciclagem está a desenvolver-se. De acordo com uma análise de 2019 da McKinsey & Company, a reciclagem e reutilização de baterias de veículos elétricos são indústrias emergentes com aplicações úteis de reaproveitamento, já que as baterias poderão ser usadas em outras aplicações de armazenamento de energia para ajudar na confiabilidade da rede elétrica à medida que mais fontes de energia renováveis como a solar e a eólica seinstalem.
No geral, o artigo de Lieberman parece ser menos um exame objetivo das preocupações ambientais em relação aos veículos elétricos e mais uma defesa subtil do sistema de transportes dominado pelo petróleo, com o objetivo de pressionar os legisladores a não acelerar a transição para o transporte eletrificado. No final de seu artigo, por exemplo, Lieberman afirma que os veículos movidos a gasolina estão a tornar-se mais limpos, e a concorrência com os elétricos ameaça esse progresso. «Assim, não é claro se a substituição de veículos a gasolina por veículos elétricos algum dia resultará em emissões reduzidas», escreve ele. «A maior parte da redução nas emissões no setor de transporte nas últimas duas décadas deve-se à maior eficiência de combustível e menores emissões em veículos a gasolina, em vez da introdução de elétricos. Quaisquer reduções contínuas nas emissões de veículos a gasolina seriam prejudicadas por medidas para colocá-las de lado em favor dos elétricos». Lieberman baseia o seu argumento citando um relatório (intitulado “The Battery Car Delusion”) por outro grupo que dissemina a negação da ciência do clima, a Global Warming Policy Foundation, com sede em Londres.
A tentativa de Lieberman apontar para padrões mais elevados de eficiência de combustível em veículos convencionais cai por terra, considerando que o CEI lutou para enfraquecer, e até mesmo eliminar, essesmesmos padrões.
«Esta é a mesma organização que está a processor judicialmente os padrões de eficiência de combustível porque eles acham que a reversão de Trump não foi suficientemente longe», diz Reichmuth, Union of Concerned Scientists. «Estar a reivindicar os benefícios dos padrões de Trump na redução de emissões dos veículos ao mesmo tempo que se vai a tribunal argumentar que não deveríamos ter esses padrões de eficiência mostra que este não é um argumento de boa fé.»
E ainda…
A Aston Martin viu-se no centro de uma tempestade de relações públicas por não reveler a autoria de um estudo, amplamente desmascarado, que criticava os veículos elétricos. Verificou-se que o estudo foi redigido por uma empresa de relações públicas recentemente registada em nome da esposa de um diretor da fabricnte automóvel britânica. Sam Hargreaves, Transport & Environment.
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