segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Bico calado

  • «A emissão de ontem com o atual presidente da República pôs uma vez mais em evidência algumas tristezas do jornalismo português. (…) o entrevistado estava ali como candidato às próximas eleições presidenciais. Não deveria pois ser tratado por “Senhor Presidente” mas sim por “Marcelo Rebelo de Sousa”, por extenso, para evitar intimidades inadmissíveis. Ou então por “Senhor Professor”. (…) os 40m48s de emissão foram tristemente lamentáveis. Tratava-se da entrevista de um candidato a futuras eleições para a presidência da República. O que supunha que fosse interrogado sobre o seu programa para o próximo mandato. Ora, os jornalistas começaram por interrogá-lo sobre o assassinato do imigrante ucraniano, depois sobre o Novo Banco e a TAP, sobre a gripe, a pandemia e o estado de emergência. E só aos 24m51s (já para além de metade da emissão!) perguntaram ao candidato se, no futuro mandato, não “deveria ser mais interventivo”. (…) Em resumo: pouquíssima substância, sendo as perguntas pouco pertinentes e consistentes, numa entrevista notoriamente mal preparada e mal conduzida. Procurou o candidato, no entanto, responder com seriedade, apesar das interrupções constantes (a tal ponto que foi obrigado, quase no início, a ter que perguntar se podia “terminar a resposta”), de os dois jornalistas falarem muitas vezes ao mesmo tempo, de um quase permanente ruído de fundo provocado pelo repetido balbuciar de um dos jornalistas, enquanto o outro evocava mesmo os seus próprios gostos musicais!» J.-M. Nobre-Correia,  Insuficiências de uma entrevistaNotas de circunstânicia2.
  • Uma trituradora Molinex não teria conseguido o que J.-M. Nobre-Correia fez ao José Gomes Ferreira, Diretor-adjunto de Informação da SIC, em Um rafeiro rosnador.
  • «(…) Se a memória não me falha, terminou primeiro o País Regiões, e depois o próprio País País. Entrámos na era do copy paste e das fake news, e de repente “notícias  regionais” voltaram a soar a provincianismo, a pequenez, ao culto do coitadismo e do pobre  lavrador nas aldeias serranas – com aquele insuportável “o Ti Zé” dito e escrito por extenso nos  jornais da TVI no seu período mais medíocre – irremediavelmente condenado ao  envelhecimento e ao abandono.  Mas há algo que me incomoda sobremaneira nos blocos informativos actuais da RTP. Para quem  nunca reparou, o genérico de entrada mostra em sucessão rápida uma série de dez imagens:  oito delas em Lisboa (Marquês de Pombal, Praça do Comércio, Rossio, Parque das Nações, Arco  da Rua Augusta, Ponte 25 de Abril, Gare do Oriente, Ponte Vasco da Gama), e duas no Porto (Câmara Municipal do Porto, Ponte Luís I). E assim se representa Portugal.   E era isto que esses quase esquecidos blocos regionais contrariavam, com os mesmos dinheiros  públicos, e que agora se manda ostensivamente às urtigas. Até os genéricos mostravam  monumentos dos vários distritos: o castelo de Bragança, o Palácio de Mateus, o Monte de Santa  Luzia, e por aí ia. E isto é a ilustração do nosso pensar de Estado com uma clareza e simplicidade  brutais. O país são oito partes de Lisboa e duas de Porto: o resto são detalhes ou bens no portefólio, geríveis como melhor convier a partir de uma capital que se impõe custe o que custar  e doa a quem doer.  Olho lá para fora e penso no meu distrito, Bragança, com meia dúzia de quilómetros de  caminhos-de-ferro e uma auto-estrada, com ligações viárias internacionais simplesmente  péssimas, pejada de barragens que prometeram muito e trouxeram nada e prontas a serem  vendidas apesar de tão defendidas pelo esquivo “Interesse do Estado”, e com três deputados  para nos representar entre os 230 da Assembleia da República. Olho, e nestas alturas sinto-me  esmagado pela revolta que me assalta: sinto-me trasmontano, mas não me sinto português.» Daniel Conde, Oito partes de Lisboa, duas de Porto - Interior do avesso.
  • Como a Coca-Cola gastou milhões para comprar cientistas. Publicamos com exclusividade um trecho do livro de Marion Nestle sobre as práticas da indústria alimentícia para influenciar a produção académica e a ciência a seu favor. APublica.

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