domingo, 1 de novembro de 2020

Reflexão – O negócio do hidrogénio: quem o diaboliza e quem o endeusa

O negócio do hidrogénio continua a dividir opiniões. Há os que o deitam abaixo e ridicularizam, como Clemente Pedro Nunes, prof. Catedrático do Instituto Superior Técnico. E há os que sublinham as suas altas potencialidades, como António Vidigal, presidente da EDP Inovação.

O primeiro considera que «estamos a retomar o circo mediático iniciado em 2005 pelo governo Sócrates para promover as potências elétricas intermitentes, solares e eólicas, à custa dos consumidores. Para atrair investidores para essas tecnologias, na altura imatuas, foram-lhes oferecidas FIT – Feed in Tariffs que dão, a quem delas beneficia, generosas tarifas garantidas em simultâneo comum reserva absoluta de mercado durante 15 anos! E ainda hoje as famílias e as PME são obrigados a pagar 380 Euros/Mwh pela eletricidade solar dos parques concedidos pelo Governo Sócrates em 2010, quando o preço atual de mercado está abaixo de 40 Euros/MWH! E agora, (…) a Resolução do Concelhos de Ministros nº 63/2020 de 14/Agosto estabelece “sete medidas obrigatórias a cumprir até 2030 “, das quais duas de particular impacto nos membros do ACP: 1 a 5% no transporte rodoviário e a criação de 50 a 1OO postos de abastecimento de hidrogénio. Como não existem ainda tecnologias que permitam alcançar estes objetivos em segurança e sem um verdadeiro “saque aos consumidores’, estas metas constituem um verdadeiro filme de terror. Pelas suas caraterísticas físicas, o hidrogrénio é extremamente difícil de armazenar e transportar, o que acarreta sempre um custo enorme! Por exemplo, um depósito de hidrogénio liquefeito que um veículo teria de transportar para ter uma autonomia de 300km, teria uma pressão de mais de 600 atmosferas e pesaria mais de 1 tonelada. Que o seu automóvel terá que carregar às costas… E imagine um reservatório de hidrogénio a mais de 600 atmosferas de pressão, para poder abastecer junto a uma autoestrada! Imaginem-se os riscos envolvidos e as medidas necessárias para os prevenir… Pois a RCM exige aos consumidores que “paguem o que for preciso para viabilizar estas metas”, sem qualquer estudo tecnológico ou económico que o justifique!»

Do outro lado da barricada, Clemente Pedro Nunes defende que o H2 Verde é uma solução para os fornos de alta temperatura, o transporte rodoviário de longa distância, o transporte urbano de passageiros, a aviação e o transporte marítimo. Para ele, «faz sentido que a Comissão europeia tenha eleito o investimento em H2, em particular o Verde, como instrumento para a recuperação da crise do COVID-19, prevendo um investimento de €180-470 milhares de milhões até 2050; a expectativa é que esta aposta contribua para a industralização da Europa assegurando uma vantagem comparativa sustentada. O H2 Verde é produzido por eletrólise da água utilizando eletricidade renovável dedicada. E é qui que surge a oportunidade para Portugal; com efeito a eletricidade corresponde a 70% do custo do H2 e, no nosso país, existe uma boa conjugação de recurso Solar e Eólico que nos permite ser competitivos. Por razões históricas existe, também, nesta matéria, muito “know-how” na Academia e na Indústria. Um projeto de referência é o H2 Sines, que planeia a criação, em Sines, de um “Hub” de H2 Verde com o objetivo de satisfazer consumo interno e de exportação para o hub da Holanda. O projeto reúne empresas de referência que promovem um CoLab que assegurará o desenvolvimento de conhecimento em Portugal. Uma aposta a não perder!»

Fonte: Revista do ACP outono 2020

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