terça-feira, 22 de setembro de 2020

Bico calado

  • «Roberto Saviano, o autor de Gomorrah, onde expõe a máfia italiana, diz que o país mais corrupto do mundo é o Reino Unido (RU). O RU é o centro de uma rede global de corrupção. A City de Londres é o centro de um regime secreto de paraísos fiscais onde os criminosos escvondem o seu dinheiro. Não admira, pois, ver Robert Jenrick, um ministro do governo de Boris Johnson, ostensivamente conluiado com um patrão imobiliário e ex patrão de pornografia e ex dono dos jornais Express, Richard Desmond, empenhados em fazer aprovar um enorme projeto antes de ser submetido a provas de garantias de que há habitação a preços razoáveis. Ele atropelou o conselho dos seus colaboradores e dos inspetores governamentais. Se este projeto vier a ser aprovado, Desmond terá poupado 50 milhões de libras em a troco de uma doação de 12 mil libras ao partido Conservador. Um outro ministro do governo Boris Johnson, Nadhim Zahawi, foi à BBC tentar justificar o que estava a acontecer e disse, com a maior naturalidade, que se os cidadãos quiserem falar com o governo basta aparecerem a um dos eventos de recolha de fundos do partido Conservador. Isto chama-se corrupção. No meio deste escândalo, Robert Jenrick continua no seu posto, e perante a avalancha de provas, Boris Johynson diz que o assunto está encerrado. O passar do tempo pode fazer esquecer este escândalo, mas isto é uma catástrofe para a Democracia. E isto é apenas um minúsculo olhar sobre a corrupção instalada no coração do estado britânico. Não se poderá enfrentar a corrupção no RU enquanto não se assumir que ela é sistémica no governo. Não se poderá acabar com a corrução no RU enquanto não destronarmos a City de Londres como rainha mundial da corrupção, como centro desta teia de corrução que se alastra a paraísos fiscais e jurisdições secretas.» George Monbiot, O país mais corrupto do mundo é o Reino Unido.
  • Barbados anunciou que vai remover a rainha Isabel da chefia de Estado e vai tornar-se uma república em novembro do próximo ano. NYTimes.
  • 167 políticos, incluindo chefes de estado do passado e do presente, apoiam o apelo do Lawers for Assange ao governo do Reino Unido para encerrar o processo de extradição de Julian Assange e conceder-lhe a liberdade há muito esperada. Estejam tranquilos: não há um único português na lista.
  • «(…) Os populistas usam a corrupção para atacar a democracia divulgando o mito de que regimes de ditadura como o de Salazar-Caetano não tinham corrupção. Completamente falso, e isso seria evidente se se tirasse a tampa da censura. Mas os políticos sérios em democracia ajudam a demagogia dos populistas a ter sucesso pela flacidez com que numa sociedade estruturalmente corrupta defrontam a corrupção. O problema da corrupção não vem da democracia, daí que o seu principal agente não seja sequer a chamada “classe política”, mas vem da sociedade, das debilidades do nosso tecido social, de uma burocracia assente em favores, da desigualdade de acesso ao poder e informação, e das várias promiscuidades entre poderes fácticos, como o contínuo que vai da construção civil aos clubes desportivos e terminando no poder político. (…) Uma das coisas que faz o populismo é centrar as suas acusações à corrupção “deles” e isolá-la como alvo principal, deixando de lado o meio em que ela é partilhada com “forças de segurança”, “agentes económicos”, “empresários de sucesso”, magistrados, protagonistas de um mundo em que o populismo não toca. Já viram alguma especial indignação com a corrupção nos grandes clubes quando não é o “nosso”? Como se as pessoas que vociferam nos cafés e nas redes não tivessem uma ideia de onde vem e para onde vão os muitos milhões e milhões que custam os jogadores. (…) O populismo é contraproducente para combater a corrupção; pelo contrário, até a reforça. Não é aumentar as penas, não é diminuir as garantias do Estado de direito, não é oscilar entre a complacência e a intransigência. É pensar de uma ponta a outra a administração, das autarquias aos ministérios, é cortar radicalmente os milhares de pequenos poderes discricionários que por aí existem, obrigar a que sejam transparentes e escrutináveis muitos processos que nada justifica não serem públicos. Agora que vêm aí vários barris de dinheiro, é vital que tal se faça. Mas é também dar o exemplo de que não se mistura “honra” com mundos muito pouco honrados. Por isso é que a participação do primeiro-ministro, do presidente da Câmara de Lisboa e de vários deputados num acto de promiscuidade com o poder fáctico do futebol é muito grave, porque significa indiferença face à corrupção, numa altura crítica do seu combate. Como não se retractaram, ficam com uma manchaJosé Pacheco Pereira, Não deixem aos populistas a conversa sobre a corrupção… - Público 19set2020.

Sem comentários: