segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Bico calado

  • «(…) Ao retirar com pouca cerimónia os titulares de cargos públicos da sua lista de honra, Vieira acaba por reforçar a ideia de que é o futebol que manda nisto tudo e que são os presidentes de clube os únicos a poderem verdadeiramente tomar decisões, nos tempos que correm, sem temerem consequências por parte da opinião pública. Mesmo aí, Vieira teria podido tomar uma atitude mais cívica, e humilde, declarando publicamente que lamentava a situação criada e que, embora agradecesse a disponibilidade dos titulares de cargos públicos em causa, os desejava dispensar do compromisso que eles tinham assumido. Mas as boas-maneiras parecem não fazer parte do acervo do presidente de clube de futebol. E foi assim que, tratando o chefe de governo como um daqueles treinadores a quem se dá uma chicotada psicológica dias depois de se lhe ter demonstrado confiança, Vieira acabou por pôr e dispor das pessoas que o tinham querido honrar com os seus nomes. (…)» Rui Tavares, A lista de Vieira: da tragédia à farsa em cinco dias – Público 18set2020.
  • «(…) É preciso um agudo exercício de memória para nos recordarmos de um enxovalho tão gritante à dignidade institucional de um chefe do Governo da República como este. Vejam bem: um presidente de um clube a braços com suspeitas judiciais e embrulhado nos calotes ao BES recusou a “honra” que o primeiro-ministro lhe concedera em apoiá-lo.(…) Manuel Carvalho. Um enxovalho ao primeiro-ministro – Público 18set2020.
  • Um fuzileiro naval norte-americano estacionado nas Filipinas matou uma transgénero. Regressou ao navio e confessou o crime. O caso foi a tribunal e, 14 meses depois, Pemberton foi condenado a 10 anos de prisão. Acabou deportado para os EUA após perdão do presidente Duterte. Jim Gomez, AP/USA Today.
  • «(…) Rui Rio, sem querer, põe o dedo na ferida: é aqui que reside justamente a grande resistência à descentralização administrativa do país. O que mexe o Estado português raramente são os seus interesses próprios, o interesse público que ele devia servir, mas sim os interesses particulares dos que o servem. No caso concreto, os funcionários do Estado não estão onde interessa ao Estado que eles estejam, mas onde lhes interessa a eles estar. (…) A Administração Pública portuguesa está montada de forma em que a ascensão profissional arrasta os funcionários para onde está o poder — para Lisboa, sobretudo, e, em parte remanescente, para o Porto, com os casos à parte das administrações regionais. Para subir na pirâmide é preciso ir-se aproximando de Lisboa e do Porto — e, uma vez lá chegado, ninguém quer voltar à terrinha, nem que seja como chefe. E, para tornar o sistema inexpugnável, o mesmo esquema é reproduzido dentro da estrutura dos partidos do poder, que gerações de nomeações partidárias tornaram a espinha dorsal dos quadros superiores da Função Pública. Uns e outros confundem-se e não querem arredar o pé de onde estão. (..) Descentralizar é, de facto, aquilo que Rio propõe agora, embora em versão minimalista: deslocar centros de poder. E não só: como disse Mao, não basta dar uma cana de pesca a quem tem fome, é preciso também ensiná-lo a pescar. Dar força a uma região, dar-lhe futuro, é transferir para lá centros de poder e centros de criação de riqueza: empresas, universidades, centros de investigação e capital humano qualificado. Mas não é isso que os regionalistas querem fazer. O que eles querem fazer é dar ocupação aos seus quadros partidários que não encontram lugar no Terreiro do Paço ou na Avenida dos Aliados — por isso é que o mesmo Rio e Costa já trataram de escolher entre ambos os presidentes das Comissões de Coordenação Regio­nal (embrião das sonhadas regiões) que supostamente serão depois “eleitos” pelos autarcas. Eles querem dar-lhes uma legitimidade política própria e autónoma que servirá para criar problemas onde eles não existem e, a seguir, despejar-lhes sacos de dinheiro, com o qual não saberão o que fazer. Já vimos este filme no passado: acaba mal.» Miguel Sousa Tavares, A hora das verdades - Expresso 19set2020. João Moniz (BE de Aveiro): o atual processo tem como objetivo travar a verdadeira regionalização, prevista constitucionalmente; trata-se de um “atropelo à democracia” ao optar-se por “um mau e bizarro modelo para eleger os presidentes destes organismos”, de forma indireta por colégio eleitoral. “O processo só tem piorado com o negócio descarado e lamentável que o PS e o PSD têm feito para distribuir cargos pelas CCDR”. Ribau Esteves, presidente da Câmara, subscreveu as críticas que motivaram “um raro momento de afinidade total com o BE”. Notícias de Aveiro.

  • O pedido de máscaras faciais para proteger os alunos da COVID-19 feito pelo ministério da saúde grego cometeu um “erro de grafia” no tamanho e, como resultado, centenas de milhares de máscaras gigantescas foram entregues nas escolas gregas. O ministro do Desenvolvimento, Adonis Georgiadis, atribuiu o erro à pressão exercida pelo principal partido da oposição, o Syriza, para fornecer máscaras gratuitamente nas escolas. Sarantis Michalopoulos, EurActiv.
  • Apesar de terem sido espiados e visto a sua privacidade invadida pela empresa UC Global que tinha como alvo Assange, repórteres dos principais media norte-americanos não disseram nada em protesto. Enquanto isso, surgiram novas evidências das ligações dessa empresa com a CIA. Max Blumenthal, The Grayzone.
  • Documentos secretos do governo dos EUA revelam que o JPMorgan Chase, o HSBC e outros grandes bancos desafiaram a repressão contra a lavagem de dinheiro ao movimentar somas incríveis de dinheiro ilícito para personagens obscuros e redes criminosas que espalharam o caos e minaram a democracia em todo o mundo. Os registos mostram que cinco bancos mundiais - JPMorgan, HSBC, Standard Chartered Bank, Deutsche Bank e Bank of New York Mellon - continuaram a lucrar com «players» poderosos e perigosos, mesmo depois de as autoridades dos EUA multaram essas instituições financeiras por falhas anteriores em conter os fluxos de dinheiro sujo. ConsórcioInternacional de Jornalistas de Investigação.

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