sábado, 27 de junho de 2020

Reflexão – «Nem palma nem soja»


A monocultura da soja para responder à procura de biocombustíveis europeus tem sérios impactos socioambientais, concluiu um relatório dos Ecologistas en Acción.

Os impactos da monocultura da palma e da soja ultrapassam a crise climática: causam desmatamento, perda de biodiversidade e alterações nos ecossistemas, o que estará relacionado com o aparecimento e rápida expansão de doenças zoonóticas como a Covid-19.
Os regulamentos europeus aprovados em fevereiro de 2019 classificaram o óleo de palma como uma matéria-prima de alto risco devido à sua estreita relação com a degradação do solo com altas reservas de carbono. Entretanto, a soja foi classificada de baixo risco, apesar da clara evidência do seu alto impacto. Calcula-se que, por cada hectare de cultivo de soja, se pecam entre 16 e 30 toneladas de solo.
Neste contexto, e considerando a redução obrigatória do biodiesel à base de palma a partir de 2023, a soja emerge como um substituto ideal para o óleo de palma. Os EUA, o maior exportador de soja para a Europa, podem ser o principal beneficiário. Em 2019, após a publicação da legislação europeia, as importações de soja aumentaram 9%, o que aponta para uma clara tendência de substituir o uso de óleo de palma por soja na fabricação de biocombustíveis. Em Espanha, os biocombustíveis de soja passaram de 10,3% do biodiesel total consumido em 2016 para 28% em 2019. Por sua vez, a inclusão do óleo de palma caiu no mesmo período de 77,44% para 11%.
O relatório dos Ecologists in Acción conclui que a monocultura de soja pode ser tão devastadora como a monocultura de palma, porque o problema não é a planta - palma, soja ou qualquer outra -, mas o funcionamento estrutural do sistema do agronegócio.
Para Rosalía Soley, porta-voz da organização ambiental, «a transição energética dos transportes através dos biocombustíveis alimentares em que o governo aposta contribui para a perda de biodiversidade, a alteração dos ecossistemas e danos sociais. O objetivo do uso de fontes renováveis nos transportes deve ser alcançado através do uso de biocombustíveis avançados 1, eletricidade renovável ou combustíveis sintéticos. Tudo isso sob rigorosos critérios de sustentabilidade, respeitando a hierarquia de resíduos, seguindo o princípio do dominó e evitando qualquer deslocalização de usos que possam levar a mais emissões». 

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