Bico calado
- «(…) Estamos a poucos quilómetros da barragem de Alqueva (“Construam-me, porra!”), que nos garantiam ir gerar milhares de postos de trabalho no Alentejo e onde há uns anos circulavam à boca cheia histórias de empreiteiros que andavam em vão, de café em café, pelas aldeias vizinhas, à procura de quem quisesse trabalhar nas obras, ouvindo invariavelmente a resposta de que ganhavam quase o mesmo no subsídio de desemprego sem ter de trabalhar. Hoje, independentemente do crime ambiental e agrícola ali em curso (…) está transformado num olival espanhol financiado por subsídios europeus e dinheiro de impostos portugueses e onde trabalha uma mão-de-obra que atravessou dois continentes para substituir os nossos “desempregados”: nepaleses, paquistaneses, indianos. E em condições laborais e sociais que, se não chegam para fazer derrubar estátuas de novos esclavagistas, deviam pelo menos fazer corar de vergonha as silenciosas centrais sindicais sempre tão pressurosas a defender os que têm emprego garantido para a vida e horários de 35 horas por semana. (…)» Miguel Sousa Tavares, Expresso 27jun2020.
- «(…) O Chega é uma organização de vigaristas. Querem-me vender produtos contrafeitos por produtos originais. Não ao racismo, e eles são racistas. Não à corrupção, e eles são corruptos, a começar pelo chefe que trafica truques fiscais, acumula atividades públicas e privadas e está associado a mundos de sombras como o do futebol. Os ciganos, mesmo com os desagradáveis episódios dos acampamentos às portas dos hospitais, defendem o serviço nacional de saúde, o Chega é contra um serviço nacional de saúde e a favor da privatização de todos os serviços públicos. (…) Não gosto de falsos anjinhos. Nem que me façam anjinho! Eu não compro uma Lacoste ao Chega! Mas compro aos ciganos! São ambas contrafeitas, mas os Chega vendem-nas como se fossem originais, são uns vigaristas e os ciganos vendem-me como contrafações para eu me enfeitar, são gente séria.» Carlos Matos Gomes, FB.
- Suketu Mehta (12): «Corbyn trouxe à ribalta os pagamentos exorbitantes de dívidas que escravizam muitos países pobres. Ele citou Thomas Sankara, presidente do Burkina Faso, alguns meses antes de ser assassinado num golpe apoiado pela França em 1987: 'A dívida não pode ser resgatada. Primeiro porque se não a resgatamos, os credores não morrem. Mas se a resgatamos, vamos morrer’. Sankara ganhou a fama de "o Che Guevara africano"; ele desafiou abertamente o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. O líder do golpe, Blaise Compaoré, disse que ele tinha que matar o seu ex-amigo porque "ele colocou em risco as relações externas com a França, a antiga potência colonial". Logo que Compaoré assumiu o poder, avançou imediatamente na reversão das nacionalizações de empresas de Sankara e no regresso ao FMI. Em 2014, a BBC observou que Compaoré 'se tornara o aliado mais forte da França e dos EUA na região'. E o que é que o país ganhou com a reversão das políticas de Sankara? Hoje, Burkina Faso está entre os países menos desenvolvidos do mundo; no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, ocupa a sétima posição numa lista de 189 países. Portanto, a coisa lógica para os cidadãos de Burkina Fasso é levantar-se e mover-se. O país tem 19 milhões de pessoas; 1,5 milhão de pessoas emigraram para a Costa do Marfim, que é tão pobre como Bangladesh. Porém, os salários são duas vezes mais altos que em Burkina Faso, e os de Burkina, na Costa do Marfim, enviam anualmente 3,50 milhões de dólares de poupanças para casa todos os anos.» Suketu Mehta, This land is our land – an immigrant’s manifesto – Penguin 2019
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