domingo, 15 de março de 2020

Bico calado

Um anúncio sobre a Covid-19 surpreendentemente 
honesto e informativo.
  • Finalmente, vejo uma revista criticar o New York Times por ter liofilizado a borrada que foi a conferência de imprensa de Trump acerca da Covid-19. 
  • A Presidência Trump acabou. Demorou muito mais do que devia, mas os americanos já toparam o vigarista atrás da cortina, escreve Peter Wehner, Republicano de longa data, na The Atlantic.  «A desinformação e a mentira do presidente sobre o coronavírus são impressionantes. Ele alegou que estava controlado na América quando de facto estava a espalhar-se. Ele alegou que tínhamos "desligado" quando não tínhamos. Ele afirmou que o teste estava disponível quando não estava. Ele afirmou que o coronavírus um dia desaparecerá "como um milagre"; não vai. Ele alegou que uma vacina estaria disponível dentro meses; Fauci diz que só estará disponível dentro de um ano ou mais. Trump culpou falsamente a administração Obama de impedir os testes de coronavírus. Ele afirmou que o coronavírus atingiu os Estados Unidos mais tarde do que realmente aconteceu. O presidente afirmou que o número de casos na Itália estava a diminuir quando estava a aumentar. E numa das declarações mais impressionantes que um presidente americano já fez, Trump admitiu que preferia manter um navio de cruzeiro ao largo da Califórnia, em vez de o fazer atracar, porque ele queria manter o número de casos coronavírus artificialmente baixo. Para piorar a situação, o presidente fez um discurso na Sala Oval destinado a tranquilizar a nação e os mercados, mas abalou ambos. O presidente empolgou-se e decidiu improvisar o texto do teleponto, deturpou as políticas do seu governo, o que forçou o governo a corrigi-lo. As ações caíram enquanto o presidente discursava. No seu discurso, o presidente pediu aos americanos para que "se unissem como uma nação e uma família", apesar de ter chamado “cobra” ao governador de Washington Jay Inslee dias antes do discurso e atacado os democratas na manhã seguinte. No fundo, este é um enorme fracasso na liderança que resulta de um enorme defeito de caráter. Trump é um mentiroso compulsivo, incapaz de ser honesto, mesmo quando ser honesto serviria os seus interesses. Ele é tão impulsivo, míope e indisciplinado que é incapaz de planear ou até pensar além do momento. É uma figura tão fraturante e polarizadora que há muito tempo perdeu a capacidade de unir a nação sob quaisquer circunstâncias e por qualquer causa. É tão narcisista e pouco reflexivo que é totalmente incapaz de aprender com os seus erros. A personalidade desordenada do presidente fá-lo tão mal preparado para lidar com uma crise. O que Trump disse não é só inútil, é absolutamente prejudicial. Demorou muito mais do que deveria, mas os americanos já toparam o vigarista atrás da cortina. O presidente, enfurecido por ter sido desmascarado, vai ficar mais desesperado, mais amargurado, mais desequilibrado. Ele sabe que nada será como dantes. A sua administração pode cambalear, mas será apenas uma concha oca. A presidência de Trump acabou.»
  • A Rússia imita a China e começa a construir hospital com 500 camas para lidar com a Covid-19, conta o insuspeito Daily Mail.
  • Matt Gaetz, congressista republicano pela Florida, decidiu entrar em quarentena depois de contatar com um indivíduo que testou positivo para a Covid-19. Ironicamente, o congressista votou contra a baixa por doença. The Intercept.
  • «Há 15 dias, quando a situação em Itália já estava também em descontrole, um bar do centro de Madrid (região onde ocorreu metade dos casos de infecção) ostentava um cartaz que rezava ufanamente: “Aqui não há máscaras nem desinfectantes: morremos como heróis, a beber uma copa.” Muy bravos, pero peligrosos. Sucede que, como é de tradição, milhares destes bravos vão provavelmente invadir Portugal dentro de dias, no período da Páscoa. Apesar do coronavírus ou justamente por causa do coronavírus: porque estão mais seguros aqui, não precisando de vir de avião, antes bastando-lhes viajar de carro pelas fronteiras da Galiza, de Trás-os-Montes, Vilar Formoso, Caia e Ayamonte. Seria uma machadada brutal para o turismo, já em agonia, mas, se houvesse coragem, fechávamos a fronteira. (...) A única coisa que retive foi um último pormenor ainda mais constrangente: durante todo o tempo daquele penoso jantar, o homem [José Oliveira e Costa] esgrimia na minha direcção um dedo mindinho onde despontava uma unha que deixara crescer em forma de estilete, não um pouco mais que as outras, mas uns bons 5 cm, como faziam os caixas dos bancos para contar notas no século XIX.» Miguel Sousa Tavares, in  O novo vírus e o velho virus - Expresso 14mar2020.
  • A Guatemala fechou as suas fronteiras à entrada de norte-americansos a fim de limitar a propagação da Covid-19. Twitter.
  • Há quem preveja, como consequência da Covid-19, o estoiro do negócio da aviação como a conhecemos e preveja uma espécie de regresso ao passado quando as companhias de aviação eram companhias de bandeira dos respetivos países.
  • «Fui corrido do Facebook porque não contei a minha história, mas a das tropas dos EUA que a coberto do coronavírus estão a invadir a Europa com objetivos precisos. Fui corrido do Facebook porque publiquei a solidariedade do governo chinês a auxiliar os italianos no combate à COVID-19 e denunciei a angústia de milhões de norte-americanos sem condições para se tratarem. Fui corrido do Facebook porque não publiquei o que almocei, nem onde e denunciei a fome que o neoliberalismo provoca em todo o planeta. Os “padrões do Facebook” não são os meus e as minhas “publicações” não se destinam a entreter e muito menos a bestealizar quem as possa ler. O Facebook tem a faca, mas somos nós que temos o queijo na mão, e é nestes momentos de desnorte que podemos ver com mais clareza como atua e quem apunhala.» Cid Simões, in Já sei!As palavras são armas.

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