sexta-feira, 13 de março de 2020

Bico calado

  • 13 juízes de alto nível, incluindo um ex-vice-ministro da Justiça, foram detidos na Eslováquia por alegados atos de corrupção, interferência na independência dos tribunais e obstrução da justiça. EurActiv.
  • «Contrariamente ao que se possa pensar a propósito das investigações em curso no Tribunal da Relação de Lisboa, as suspeitas de fraude na distribuição dos processos judiciais não são de agora. A escolha do juiz mais conveniente à causa de quem tem dinheiro para pagar a batota é prática que se arrasta no tempo. Prova disso é a denúncia que fiz dessa viciação no “Jornal de Notícias” (JN), há cerca de 25 anos. Desmascarei também as “farsas” de julgamentos nos tribunais da Relação e no Supremo Tribunal de Justiça. Em 13 de Junho de 1996, assinei no JN um texto a que foi dado o título: “SUSPEITA DE “FRAUDE” COM A DISTRIBUIÇÃO DE PROCESSOS JUDICIAIS”. E a notícia começava assim:” Há suspeitas de irregularidades nos tribunais com a distribuição dos processos”. A viciação consistia em manipular o sorteio a quem o processo seria distribuído e, assim, permitir escolher o juiz suscetível de decidir de acordo com os interesses de quem subornou. (…) Alfredo Cunha, in Juízes por encomenda e sentenças pré-cozinhadas. Via Clube de Jornalistas.
  • Lava Jato fez de tudo para ajudar justiça americana – inclusive driblar o governo, titula a The Intercept.
  • «(…) Na Europa critica-se a China, tergiversa-se, “privilegia-se a economia” e, enquanto isso, a pandemia espalha-se. Em 2009, o vírus H1N1, que apareceu no México e nos EUA, infetou 1.600.000 pessoas e matou 284.000 em todo o mundo. Washington brilhou pela sua nulidade no tratamento dessa pandemia, e os media ocidentais olharam para o lado. Hoje, teremos que admitir que o nosso sistema está inoperante, enquanto o socialismo chinês demonstrou novamente a sua superioridade. (…) Num país onde a propriedade pública é negativa, onde os serviços públicos foram privatizados e desmantelados, onde o Estado é um refém voluntário dos meios financeiros, seriamos capazes de efetuar 10% do que os chineses têm feito? (…) Estranha ditadura, onde o debate é permanente, os erros denunciados, as manifestações frequentes, as instituições sujeitas a críticas. Será um regime totalitário, porque compele populações inteiras a uma contenção maciça que, segundo todos os especialistas, é a única medida eficaz? É sem dúvida um sistema imperfeito, mas funciona e tem em conta os seus erros. Enquanto no nosso país, a autossuficiência substitui a autocrítica, o denigrimento do outro substitui a responsabilidade e o blá-blá-blá permanente a ação eficaz. (…)» Bruno Guigue, in Le Grand Soir.
  • «O secretário de Comunicação do governo federal, Fábio Wajngarten, tem Covid-19, a doença também conhecida como o novo coronavírus. O Intercept confirmou com fontes que outras três pessoas da comitiva de Jair Bolsonaro que visitou Donald Trump na Flórida já apresentavam sintomas da infecção nos EUA. O evento reuniu Bolsonaro, o presidente americano, o chanceler Ernesto Araújo, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Os quatro brasileiros com suspeita de coronavírus não fizeram o teste em Miami. Em vez disso, optaram por retornar ao Brasil para fazer o teste em São Paulo, mesmo infringindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde.» The Intercept.
  • «Atacando a Europa pela disseminação do coronavírus "estrangeiro" para os Estados Unidos, o presidente Donald Trump anunciou que ia interromper todas as viagens e importações da Europa. Mas poucos minutos depois, funcionários da Casa Branca esforçaram-se por o corrigir, explicando que a suspensão por 30 dias só se aplicava a alguns estrangeiros que viajavam de alguns países europeus do espaço Schengen e não a mercadorias. Embora excluir o Reino Unido da proibição pareça não fazer sentido epidemiológico - e toda a política de restrição de viagens parece equivocada, agora que o vírus já se espalhou pelos Estados Unidos - Trump pode ver a medida como uma maneira de punir a União Europeia. Trump detesta a UE como concorrente económica e parece pessoalmente ofendido pela maneira como os seus líderes promovem uma identidade pan-europeia em contrapeso ao nacionalismo étnico que ele prefere. “A União Europeia é um grupo de países que se uniram para lixar os Estados Unidos - é tão simples como isto”, disse Trump num jantar privado, gravado por Rudy Giuliani. “Eles são piores que a China quanto a barreiras; perdemos 151 biliões com eles ”, acrescentou. Na sua arenga, Trump gabou-se de que a sua decisão de restringir as viagens da China atrasou a disseminação do coronavírus para os EUA e alegou que os países europeus tinham níveis mais altos de infeção agora porque "a União Europeia não tomou as mesmas precauções". De fato, o vírus pode ter chegado à Europa primeiro simplesmente porque está na mesma massa terrestre da China e a extensão da infeção nos EUA permanece desconhecida, uma vez que um número muito menor de pessoas foi testado para a doença. Sem citar evidências, Trump também alegou que a proibição era justificada porque "um grande número de novos grupos nos Estados Unidos tinham sido provocados por viajantes da Europa". Trump também afirmou que os executivos de seguros de saúde por ele contatados tinham “concordado em renunciar a todos os co-pagamentos por tratamentos ao coronavírus”. “Para testes. Não tratamento ”, sublinhou um porta-voz do poderoso lobi do seguro de saúde, o America Health Insurance Plans.» Robert Mackey, in The Intercept.
  • «(…) O discurso de Trump desta quarta-feira é a consagração desta politização nacionalista da epidemia. Ele fala em “vírus estrangeiro” que “invade” a América. Temos de ter cuidado com o vírus, sim, mas temos de ter ainda mais cuidado com os homens que vão aproveitar o vírus enquanto metáfora autoritária. Líderes da extrema-direita, como Salvini, estão a tentar associar o vírus aos migrantes africanos que atravessam o Mediterrâneo. Ou seja, estão a tentar associar a palavra “covid-19” às palavras “negro”, “africano” e “muçulmano”. A associação não faz sentido, o vírus não está a ser transportado por pobres e africanos, está aparentemente no turismo da classe média e dos mais ricos. A Fox News está a fazer o mesmo com os chineses e, agora, a proibição de voos da Europa vai fomentar o sentimento antieuropeu que grassa nos republicanos há anos. Para quem está preocupado com a ascensão dos Trumps, nada podia ser pior do que uma epidemia. Nada. É o pior cenário possível. Seja qual for a sua gravidade, uma epidemia agora funciona como um fator que alimenta todos os dias a psicose nacionalista. Quando tudo isto passar, vamos acordar em sociedades muito mais permeáveis à mão de ferro dos nacionalistas. (…)» Henrique Raposo, in O vírus estrangeiroExpresso 12mar2020.

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