sábado, 25 de janeiro de 2020

Bico calado

  • «(…) O pobre, meus amigos, não inveja quem tem 50 milhões de euros ou dois mil milhões de euros, abstrações inconcebíveis para a sua cabeça remediada, mas o vizinho que tem mais 50 euros do que ele. É essa quantia irrisória que o atormenta — e não os 300 mil euros que Isabel dos Santos pagou para remodelar um apartamento de quatro milhões. Por isso vê-se mais indignação por causa de um bilhete de autocarro do que pelos milhões que terão sido desviados por Isabel dos Santos. Como todos os coletivos, o “martirizado povo angolano”, a vítima de que a nossa indignação necessita para condenar com alguma veemência “a princesa”, é outra abstração. Um povo inteiro não tem rosto. Eis a razão pela qual a indignação contra os corruptos nasce de um esforço racional, de civismo forçado, enquanto a indignação contra o ladrão de galinhas vem das vísceras, de um sentimento urgente, epidérmico, de injustiça. Apartamentos de 50 milhões de euros no Mónaco são uma ficção, uma galinha roubada é real. O “povo angolano” é uma ficção, o proprietário da galinha é real. Isabel dos Santos, que diz ter começado a vender ovos nas ruas de Luanda, deve saber uma ou duas coisas sobre galinhas, ovos e abstrações, sobre os pequenos delitos que nos agravam e os crimes que toleramos mesmo que estejam na origem de fortunas faraónicas. Só quem sabe sorri daquela maneira.» Bruno Vieira Amaral, in O sorriso de Isabel dos Santos – Expresso.
  • A construtora Soares da Costa e dois ex-altos responsáveis de topo da empresa estão entre os sete arguidos que o Ministério Público acaba de acusar de fraude na obtenção de subsídio e branqueamento de capitais, no âmbito de um projeto sobre a construção de um hotel de cinco estrelas na Praia da Tocha, concelho de Cantanhede, que começou em 2000, mas nunca chegou a ser concluída. JN/Executive Digest.
  • A polícia tributária italiana revistou os escritórios de Milão de três gerentes da Eni no âmbito de uma investigação sobre suspeita de obstrução da justiça por funcionários do grupo de petróleo italiano. O processo de corrupção está centrado na compra, em 2011, de um campo petrolífero nigeriano pela Eni e pela Shell. Reuters.
  • O parlamento belga rejeitou uma resolução pedindo a remoção das armas nucleares dos EUA estacionadas no país e a adesão ao Tratado da ONU sobre a Proibição de Armas Nucleares. 66 deputados votaram a favor da resolução, enquanto 74 a rejeitaram. Os partidários incluíram os socialistas, os verdes, os centristas (cdH), o partido dos trabalhadores (PVDA) e o partido francófono DéFI. Os 74 que votaram contra incluíram o partido nacionalista flamengo N-VA, os democratas-cristãos flamengos (CD&V), o extremo-direito Vlaams Belang e os liberais flamengo e francófono. EurActiv.
  • Aviso de Carlos Silva: «Não me vou embora sem dar um murro na mesa!» titula o Público. Comentário de Cid Simões: «Ortopedistas e «carpinteiros estão em alerta rosa-laranja, não sabem se o boss da UGT vai partir a mesa ou estilhaçar o pulso. Tão acarinhado que tem sido e cordato que sempre foi, apadrinhado pelo patronato, sempre compreensivo com os exploradores e à murraça aos trabalhadores, quer magoar a mão que assinou tudo o que lhe exigiram. Não acredito, certamente que se trata de qualquer exigência para receber um tacho como o que foi dado ao seu antecessor.» 
  • O The Guardian publica um artigo de Tony Blair sugerindo que o Reino Unido deve expandir a sua influência em África. Tudo patrocinado por Bill Gates. Não acredita? Carrege em «about this content», à esquerda, por cima de Toby Blair. 
  • Os Democratas, apesar das tentativas de impeachment de Trump, têm apoiado consistentemente a política de "defesa" do presidente e a destruição do que resta das redes de segurança social da América, escreve Roger D. Harris na Mint Press.
  • «Tenho amigos académicos que passam o tempo a reclamar que os jornalistas quando reproduzem o seu discurso simplificam-no de forma tão grosseira que nada de substancial fica. Do lado dos jornalistas oiço que os académicos não sabem expor complexidade com inteligibilidade.» Vitor Belanciano – Público 19 janeiro 2020.

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