sábado, 14 de dezembro de 2019

Bico calado

  • Há títulos de notícias que, na sua factual sequência temporal, podem fazer-nos pensar. E sorrir: Marcelo vai passar o ano na ilha do Corvo (Observador, 6dez); Governo dos Açores assegura serviços de medicina veterinária à ilha do Corvo (Secretário Regional da Agricultura e Florestas, FB 7dez); Governo dos Açores já concluiu operação de retirada de bovinos vivos da ilha do Corvo (Gov. Reg. Açores 13dez)

  • «(…) Nós da esquerda não perdemos esta eleição. Perdemos as nossas últimas ilusões. O sistema está armadilhado - como sempre esteve - para beneficiar os que estão no poder. Nunca permitirá voluntariamente que um socialista, ou qualquer político profundamente comprometido com a saúde das nossas sociedades e com o planeta, tire esse poder dos ricos. Afinal, é esta a própria definição de poder. É para isso que servem os média corporativos. (...) O planeta não vai curar-se com Johnson, Donald Trump e Jair Bolsonaro no poder. Vai ficar muito mais doente, e mais depressa. A nossa economia não se tornará mais produtiva ou mais estável após o Brexit. O destino económico da Grã-Bretanha vai ficar ainda mais amarrado ao dos Estados Unidos, à medida que os recursos acabam e aumentam as catástrofes ambientais e climáticas (tempestades, subida do nível do mar, inundações, secas, más colheitas, escassez de energia). As contradições entre o crescimento infinito e um planeta com recursos finitos tornar-se-ão ainda mais fortes, os crash do tipo de 2008 mais frequentes. (…) Os blairitas poderão explorar esta derrota para tornar o partido Trabalhista mais uma vez um partido do capital neoliberal. Oferecer-nos-ão, mais uma vez, uma “escolha” entre o partido azul e e o vermelho dos Conservadores. Se o conseguirem, os apoiantes dos Trabalhistas abandonarão o partido, que se tornará mais uma vez uma irrelevância, uma concha oca do partido dos trabalhadores, tão vazia ideológica e espiritualmente quanto era antes de Corbyn tentar reinventá-lo. Esse golpe pode ser bom se acontecer rapidamente, em vez de se arrastar por anos, mantendo-nos presos por mais tempo na ilusão de que podemos consertar o sistema usando as ferramentas que os ricos nos oferecem.» Jonathan Cook.
  • «O que mais receio agora é o Serviço Nacional de Saúde, porque moro num país com cuidados de saúde totalmente privatizados. No último ano, envolvi-me intimamente com o sistema de saúde distópico da América. Acho chocantes os anúncios na TV que impingem remédios contra o cancro, analgésicos e esteroides. Mas há muitos anúncios sobre o que fazer se você não puder levar o seu filho doente ao hospital ou reabastecer a sua receita de asma. Se você acha que a imagem de uma criança deitada no chão de um hospital em Leeds é ruim, imagine quantas crianças igualmente doentes ficam na parte de trás dos carros dos seus pais nos estacionamentos dos hospitais americanos, enquanto os pais tentam descobrir como poderiam pagar para os receber. Esses são os pais com seguro. Os que não o tÊm nem sequer chegam ao estacionamento. (…) Com Boris Johnson no poder, temo que todos fiquemos menos livres. Temo que, numa aliança tóxica com Donald Trump, ele faça coisas que não podem ser desfeitas. E se esse resultado das eleições no Reino Unido apontar para um subida de Trump em 2020, aposto que a Grã-Bretanha vai sofrer as consequências.» Holy Baxter, in Como britânica na América, posso dizer-lhe exatamente por que motivo a vitória de Boris Johnson é assustadora - The Independent.
  • «(…) Stoltenberg sabe muito bem que a Rússia e a China não são inimigos do Ocidente, que são perigos inventados por Washington porque o império precisa deles para continuar a provocar conflitos e a travar guerras de biliões de dólares de modo a alimentar os lucros do complexo militar e industrial. Porque no nosso mundo neoliberal, aliás cada vez mais inclinado para um mundo de comportamentos fascistas, matar é bom para os negócios – na realidade, matar é o maior negócio do mundo ocidental. A NATO institucionalizou a matança como a nova normalidade. E para sustentar essa eterna “guerra contra o terrorismo”, que alimenta grande parte da economia dos Estados Unidos, é importante brandir a permanente iminência de um ataque terrorista – para manter vivo o medo, o armamento fluindo, a produção de armas, justificar o abuso policial e militar, a brutalidade e a repressão, instalando de tal maneira o controlo militar de modo a que nenhum “estado de sítio” necessite de ser declarado. E de facto, aterradas com as permanentes ameaças de que lhes falam, as pessoas aceitam as correspondentes manobras de protecção. (…)» Peter Koenig, in New Eastern Outlook.

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