domingo, 3 de novembro de 2019

Bico calado

  • Portugal em 12º lugar na lista de 180 países incluídos na Classificação Mundial da Liberdade de imprensa 2019. A lista mostra como o número de países seguros, onde os jornalistas podem trabalhar com total segurança, continua a diminuir, enquanto os regimes autoritários continuam a asfixiar ainda mais os media. «Apesar da crescente precariedade e falta de recursos, os jornalistas portugueses trabalham num ambiente relativamente pacífico. Alguns problemas, no entanto, persistem. A difamação e a injúria continuam a ser criminalizadas, apesar das reiteradas condenações de Portugal no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos por violar a liberdade de expressão. O mundo do futebol, dirigentes e torcedores misturados, mantém a sua atitude ofensiva em relação aos meios de comunicação, e os jornalistas são por vezes ameaçados de processo quando investigam os assuntos nebulosos dos principais clubes». RSF.
  • «(…) Agora, temos mais ferramentas para nos informar, mas o ruído tornou-se outra maneira de criar silêncio. Estamos cada vez mais na sociedade panótica, disse Foucault, em que todos atuamos como vigilantes daqueles que vigiam, onde estamos continuamente expostos e nus perante a disciplina de grupo, enquanto temos a sensação de sermos mais livres e estarmos mais bem informados. Só olhando mais alto para se obter uma visão mais geral, começaremos a discernir quem denuncia, quem intoxica, quem descreve, quem pensa e quem, como poder, cria ruído para criar confusão a partir de uma distância confortável.» Mar Capela, in Panóptico, CTXT.
  • «Vivemos tempos difíceis para a democracia e o momento é de exigência. Pela primeira vez na nossa história democrática, a extrema-direita sente-se representada no Parlamento e parte da nossa Direita, ao invés de traçar firmemente os seus traços distintivos, prefere incomodar-se com a quantidade de vezes que terá que se levantar para permitir passagem e assento a um deputado. Há sinais de aproximação. A incomodidade é nossa. É difícil conceber como deputados portugueses eleitos ao Parlamento Europeu conseguem votar negativamente ou abster-se, relativamente a uma matéria humanitária tão pungente quanto uma proposta que permitiria salvar pessoas através da criação de mecanismos europeus de protecção de vidas no Mediterrâneo. Abstenho-me de qualificar o que fica do sentido de voto dos deputados Nuno Melo, Álvaro Amaro e José Manuel Fernandes. (…) A proposta foi chumbada por dois votos, 290 contra 288, para regozijo bem sonoro da extrema-direita europeia. E foi assim, com esta candura, que deputados portugueses ajudaram a chumbar a única proposta que tinha hipóteses de ser bem-sucedida para salvar vidas humanas no Mediterrâneo.» Miguel Guedes, JN.

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