«O capitalismo é um sistema notável. Por um lado, produz muita riqueza e tecnologias fantásticas para criar mais riqueza. E, por outro lado, cria novas formas de depravação, humilhação, pobreza e desespero. Então desespero, pobreza e telemóveis, sendo criados pela mesma linha de produção, isso é capitalismo.
É um sistema que produz a sua própria crise, que se enfraquece constantemente.
E quando há uma crise, gerações inteiras de pessoas são jogadas no lixo da história.
Eles ficam com raiva.
É nessa altura que o fracasso da esquerda em organizar a humanidade contra a misantropia do capitalismo alimenta o fascismo, porque o fascismo é sobretudo a colheita da amarga cultura de descontentamento.
Desde as geração de 1929, o que obviamente ocorreu em 2008, a tarefa número um do sistema era transferir as perdas dos banqueiros,
para as costas dos cidadãos mais fracos; no fundo, transferir a enorme riqueza dos que nada têm para os banqueiros.
Mas a austeridade provoca níveis muito baixos de procura, o que leva a níveis muito baixos de investimento.
Quando você dá todo esse dinheiro aos banqueiros, quer tenha imprimido ou apenas transferido eles olham para os pobretanas e percebem que essas pessoas não podem comprar os seus produtos, e então eles não investem em produção. O que eles fazem é usar o dinheiro que lhes foi transferido para recomprar as suas próprias ações. Portanto, os seus ativos aumentam, acontecendo o mesmo aos preços das ações, aos bónus e assim por diante; os preços das casas atingem níveis exorbitantes. Entretanto, não há investimento.
Isso contribui para o fracasso da humanidade em fazer qualquer coisa sobre a crise climática,
porque a menos que você invista em tecnologias verdes isso não acontecerá. Contribui também para a perpetuação do desastre econômico, e isso requer mais austeridade.
Mas, para continuar seguindo as linhas dessa rota catastrófica, você precisa de mais doses de autoritarismo, a fim de impor essas políticas idiotas à maioria.
Temos a internacional nacionalista, por um lado, e a internacional do terror, por outro -
os banqueiros, as grandes corporações e uma classe política que foi alimentado por aqueles oligarcas, preparada por eles, lobotomizada por eles, e, claro, os meios de comunicação que são propriedade dos mesmos oligarcas, cujo trabalho é vender os pontos de vista do sistema.
Mas ao mesmo tempo temos a internacional nacionalista, aqueles que supostamente estão cheios de raiva contra a internacional do terror, mas que no final usam o descontentamento criado pela austeridade e pelo autoritarismo para se tornarem homens fortes, como nos anos 1930 e 1920; os nazis protestaram contra os banqueiros, contra o capitalismo, para se tornarem os cães de estimação dos piores capitalistas. Eu a falar dos Trumps, dos Savinis, dos Farages, dos Le Pens. etc.
A razão pela qual a esquerda é a única força política que não beneficiou da sua capacidade de prever a crise de 2008 é porque temos uma notável capacidade de desunião, incoerência, fragmentação.
Qualquer pessoa que tenha visto as primeiras sequências da Vida de Brian sabe exatamente do que estou falando.
É hora de agirmos juntos, de organizarmos e imitarmos a maneira pela qual os fascistas e os banqueiros conseguem colaborar internacionalmente.
O sistema é fantástico na propaganda. Eles utilizam palavras como liberdade e competitividade para promoverem exatamente o contrário. Então, o que nós de esquerda precisamos fazer é primeiramente denunciar a hipocrisia, e em segundo lugar, para recuperar o que nos foi tirado.
Precisamos fr recuperar a liberdade quando se trata de decisões económicas.
Neste momento ninguém tem qualquer poder de decisão, liberdade ou escolha, exceto os muito poucos que têm capacidade de transferir as suas perdas para as costas de todos os outros.
Precisamos de concretizar três ideias. A primeira é a pobreza. Precisamos de criar programas contra a pobreza. Precisamos de fazer isso através da armamentização das instituições existentes.
Como, por exemplo, na Europa, os enormes lucros obtidos pelo Banco Central Europeu
através do seu programa de flexibilização quantitativa deve financiar a luta contra a pobreza.
Em segundo lugar, precisamos de investir 5% do PIB na transição verde. Imediatamente.
Em terceiro lugar, vivemos num mundo onde o dinheiro flui livremente e há gente atrás das grades; precisamos reverter isso.
Precisamos de ter liberdade de movimento para pessoas e controlos de capital. Precisamos reformular o sistema financeiro internacional.
Mas, ao mesmo tempo, precisamos planear o pós-capitalismo para forçar as grandes empresas a dar uma proporção da suas ações para um fundo global de ações, um fundo de capital internacional, um europeu, um britânico, um fundo de capital público.
A privatização do capital socialmente produzido deve terminar, e devemos começar a socializar o capital socialmente produzido.
A esperança vive eternamente nos nossos corações, não podemos fazer nada sobre isso, felizmente.
Enquanto houver algo dentro de nós que seja o cerne da nossa humanidade
vamos manter a esperança contra todas as evidências. Porque todas as evidências são muito sombrias. Mas não temos o direito de ser empíricos sobre isso. Ao contrário do clima, que é independente do que pensarmos sobre isso, a história é feita por pessoas que não se importam com previsões e que fazem o que acham certo.» Yanis Varoufakis, Capitalism in Crisis - Youtube.
- Cerca de um milhão de pessoas foram afetadas por um apagão que atingiu hospitais, aeroportos e redes ferroviárias em várias zonas de Inglaterra e do País de Gales. O governo de Boris Johnson vai avançar com uma investigação.
- O banco HSBC foi intimado a pagar 336 milhões de dólares à Bélgica após grande fraude fiscal - criando esquemas ilegais para ajudar os investidores a canalizar dinheiro através de paraísos fiscais e lavagem de dinheiro. Aljazeera.
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