Recortes de notícias ambientais e outras que tais, com alguma crítica e reflexão. Sem publicidade e sem patrocínios públicos ou privados. Desde janeiro de 2004.
quinta-feira, 4 de julho de 2019
Bico calado
Os 29 eurodeputados do partido de Nigel Farage levantaram-se e viraram costas ao plenário quando soaram os primeiros acordes de Hino à Alegria. Irão estes ***** fazer o mesmo no fim do mês para receber o salário?
«No pino do Verão de 1901, os partidos então dominantes na monarquia portuguesa decidiram juntar esforços para alterar a lei eleitoral de forma a contrariar a ameaça de crescimento dos republicanos e de um novo partido “regenerador liberal”. Chamou-se a essa manobra a “Ignóbil Porcaria”. Pois bem, o que acabou de se passar no Conselho Europeu foi uma ignóbil porcaria à escala europeia. Talvez os envolvidos não tenham ainda noção disso, talvez alguns até estejam convencidos das suas boas intenções, ou queiram convencer-nos delas, mas a verdade é que se não quiserem chamar-lhe “ignóbil porcaria” chamem-lhe “conchavo vergonhoso” ou outro qualquer sinónimo. Pior do que isto era impossível. Os europeus foram votar há pouco mais de um mês, aumentando até as taxas de participação em resposta a um apelo para que se socorresse o projeto europeu contra aqueles que o querem destruir. Nesse processo foram apresentados candidatos à Presidência da Comissão Europeia, transmitiram-se debates em que eles estiveram presentes, redigiram-se e legitimaram-se plataformas programáticas. E que fazem agora os chefes de estado e de governo reunidos no Conselho? Mercadejam lugares à porta fechada como no passado, eliminando todos os candidatos à presidência da Comissão Europeia que foram a votos e apresentando a 500 milhões de cidadãos da UE alguém escolhido à revelia do processo democrático que se tentava construir. Pior era impossível: os chefes de governo aceitaram eliminar o segundo candidato mais bem posicionado à Presidência da Comissão Europeia, e o único que até agora tinha demonstrado ter uma maioria no Parlamento Europeu, o holandês Frans Timmermans, por causa deste ter defendido o estado de direito e os valores da UE, fazendo o seu trabalho de comissário, em processos envolvendo os governos da Hungria e da Polónia. Não adianta tapar o sol com uma peneira. Foi por isso, e exclusivamente por isso, que os governos polaco e húngaro bloquearam o nome de Timmermans. E que fizeram os outros governos, incluindo os socialistas de Portugal e Espanha? Puseram-se de joelhos. Não acreditam em mim? Acreditem em Orbán: “Mantivemos a nossa linha como prometemos. Os Quatro de Visegrado [a Hungria, a Polónia, a República Checa e a Eslováquia] ganharam”. Qual é a mensagem que passa para o próximo comissário com a pasta do estado de direito? Não te dês ao trabalho de defender os valores europeus se queres ter carreira política. Já se sabia que a suspensão de Orbán do PPE era uma farsa. Agora sabe-se que Orbán “suspenso” manda mais ainda do que antes: manda no PPE, e de caminho humilha os socialistas europeus também. Pior era impossível: os chefes de estado e de governo não esperaram sequer para para ver se a liberal Margrethe Vestager, a terceira candidata mais bem posicionada, conseguiria formar uma maioria parlamentar. É verdade que Vestager não foi uma cabeça de lista formal, mas esteve presente como candidata liberal à presidência da Comissão nos debates eleitorais, e foi apresentada como tal pelo seu partido ao Conselho Europeu. Como Timmermans, Vestager foi uma comissária corajosa (pelos vistos, uma cláusula de exclusão para o Conselho) contra as multinacionais do digital americanas e as suas práticas de evasão fiscal. Além disso, seria a primeira mulher à frente da Comissão. Quando os chefes de governo nos quiserem convencer que escolheram também uma mulher, urge a pergunta: e por que não escolheram uma mulher legitimada pelos votos? Pior era impossível: os chefes de estado e de governo apresentaram a sua escolha com uma sobranceria e uma arrogância que está já para lá da política do facto consumado, quando na verdade só têm poder formal para um decidir um dos cargos que apresentaram — o de presidente do Conselho. Dizer que “Ursula von der Leyen será Presidente da Comissão”, como escreveu António Costa, é esquecer-se que ela só o será se for aprovada pelo Parlamento Europeu. Só que, pior ainda, o Conselho decidiu escolher também o presidente do Parlamento. E não contentes com isso, escolheram já dois, o próximo e o seguinte! Então para que raio votaram os europeus a 26 de maio? E para rematar, os nossos queridos líderes nacionais fizeram aquilo que disseram que não fariam, e embrulharam no pacote também a futura presidente do BCE (talvez querendo disfarçar a falta de paridade das outras escolhas), escolha que antes tinham dito obedecer a critérios diferentes de independência e competência técnica. Pior, de facto, era impossível. Não está em causa a competência (aliás pouco consensual no seu país, onde ela terá de enfrentar um julgamento por irregularidades de contratação pública) de Ursula von der Leyen, a ministra da defesa alemã com que os líderes nacionais decidiram presentear-nos. Nem dos outros escolhidos. Está em causa andarem a gozar com os eleitores, desrespeitarem o Parlamento Europeu e deixarem que os aprendizes de ditadores como Orbán lhes ditem as suas estratégias. E Portugal, no meio disto tudo? Como pode um governo minoritário, sem qualquer debate na Assembleia da República, mergulhar o nome e o voto de Portugal neste repugnante cozinhado que levará a direita austeritária alemã diretamente à presidência da Comissão, permitindo ao PPE dominar vinte anos inteiros o executivo da UE? Quem votou no PS em maio pode não ter sabido que votava nisto. Mas quem votar em outubro, saberá o que estará a legitimar. Neste momento, só um sobressalto do Parlamento Europeu rejeitando por inteiro as escolhas do Conselho nos salvaria. Não sei se virá, mas seria um gesto de revolta, de maioridade e de sanidade democrática.» Rui Tavares, in A ignóbil porcaria – Público 2jul2019.
«(…) At first glance, the affable 60-year-old minister with a camera-ready smile looks to be a perfect fit, with the requisite experience, political pedigree and personality to handle the EU’s toughest job. And yet a nagging question remains: Is she too good to be true? In the German capital, the answer is clear. “Von der Leyen is our weakest minister. That’s apparently enough to become Commission president,” former European Parliament President Martin Schulz seethed in a tweet Tuesday evening. Though Schulz is a Social Democrat, his analysis of the minister’s record is shared by many of von der Leyen’s fellow Christian Democrats, though most are reluctant to criticize her publicly. Instead, they point to the state of the German military. “The Bundeswehr’s condition is catastrophic," Rupert Scholz, who served as defense minister under Helmut Kohl, wrote last week before von der Leyen was nominated to the EU’s top post. “The entire defense capability of the Federal Republic is suffering, which is totally irresponsible." Among friends and foes alike, von der Leyen’s stewardship of the defense ministry, which she has headed since 2014, is regarded as a failure. “There is neither enough personnel nor material, and often one confronts shortage upon shortage,” Hans-Peter Bartels, a Social Democrat MP charged with monitoring the Bundeswehr for parliament, concluded in a report published at the end of January. “The troops are far from being fully equipped.” In addition to problems surrounding the German military’s readiness, von der Leyen’s ministry also faces an investigation into suspected wrongdoing surrounding its use of outside consultants, including Accenture and McKinsey. The Bundestag, the German parliament, is currently holding hearings into the affair, including accusations that von der Leyen’s office circumvented public procurement rules in granting contracts worth millions of euros to the firms. Those hearings have taken a dramatic turn in recent days as testimony from key witnesses appeared to confirm suspicions of systematic corruption at the ministry. Von der Leyen is also under fire for agreeing to refurbish the German navy’s three-masted training ship, the Gorch Fock. The overhaul of the ship, christened in 1958, has ended up costing more than 10 times what was originally projected. Though von der Leyen has acknowledged making mistakes along the way, she has ignored repeated demands from the opposition benches for her resignation. Even though von der Leyen doesn’t have many friends in Berlin, the ones she does have matter. The minister is close to Wolfgang Schäuble, the influential president of the German parliament. For more than a decade, the two met for breakfast once a week, a tradition that only ended when Schäuble became Bundestag president. Her most important ally, however, is Angela Merkel, whom von der Leyen has stuck by through thick and thin. Merkel has returned the loyalty by leaving von der Leyen in place despite mounting problems at the defense ministry — and by backing her for the Commission leadership. Von der Leyen blamed many of the problems facing the armed forces on her predecessors. Von der Leyen has never worked for the EU, but she is no stranger to Brussels, where she spent most of her childhood. Ernst Albrecht, her father, worked for the European Coal and Steel Community and the European Economic Community, precursors to the EU, before moving back to Germany where he pursued a career in regional politics. He became premier of Lower Saxony in 1976, a position he held until 1990 (he lost reelection that year to Gerhard Schröder, who would go on to become German chancellor). Though von der Leyen was born into a political family, she was a late bloomer in pursuing her own career in politics. It was only after she had finished her medical studies and lived for several years in the U.S. with her family that she set her sights on a political career in Germany. After climbing through the ranks in Lower Saxony, von der Leyen joined Merkel’s first Cabinet in 2005, heading the Ministry for Family, Seniors, Women and Youth. She became labor minister in Merkel’s second Cabinet in 2009 before taking over the defense ministry in 2014, becoming the first woman to hold that office. Von der Leyen’s rapid rise fueled speculation that she could one day step into Merkel’s shoes. Yet her failure to put the German military back on track dashed whatever hopes she may have had of becoming chancellor. Fixing the German army, which had been starved of resources for years after the end of the Cold War, was a herculean task. Von der Leyen blamed many of the problems facing the armed forces on her predecessors. Now in her fifth year atop the ministry, she can no longer point fingers. Her biggest failure at the ministry may have been in not winning over the officer corps and troops. As a woman in a male-dominated universe, von der Leyen was never going to have an easy task. But current and former aides describe her management style as distant and defensive. She surrounded herself at the ministry with a small group of aides who kept tight control on the flow of information. Many interactions with rank-and-file troops were in the form of photo-ops, which often showed the minister in dramatic poses alongside military equipment. She offended many service members by saying publicly in 2017, after the discovery of a right-wing extremist in the ranks, that the Bundeswehr suffered from “weak leadership at various levels.” Such episodes opened up von der Leyen to criticism that she was more interested in her own image than backing the troops. If so, she had plenty of reason for concern. In 2015, well before the procurement scandal erupted, von der Leyen faced plagiarism accusations in connection with the thesis she wrote when she studied medicine. Several years earlier, similar accusations had forced one of her predecessors as defense minister, Karl-Theodor zu Guttenberg, to resign. In 2013, Annette Schavan, another Merkel confidante who served as education minister, was also forced to step down after evidence emerged that she had plagiarized passages in her thesis. Von der Leyen was luckier. Though a university commission confirmed that von der Leyen had failed to properly cite the sources for much of the material in her dissertation, it determined that the omissions weren’t intentional and didn’t undermine her central thesis. Though von der Leyen is an engaging speaker and a favorite on Germany’s talkshow circuit, the perpetual whiff of scandal surrounding her and her ministry has eroded her ratings among voters. Once one of Germany’s most popular politicians, she fell out of the top 10 last year. That’s just one reason her party would be more than happy to see her go to Brussels. Another is that her departure would open up a key slot in Merkel’s Cabinet. If all goes according to plan, the chancellor would fill the post with her hand-picked successor, Annegret Kramp-Karrenbauer, who succeeded Merkel as CDU leader in December. Von der Leyen’s departure would offer Kramp-Karrenbauer a perfect opportunity to prove herself in a big job. What the rest of Europe gets out of the bargain is another question.» Matthew Karnitschnig, in The inconvenient truth about Ursula von der Leyen - Politico.
Sem comentários:
Enviar um comentário