«Boris Johnson, Nigel Farage, Donald Trump, Narendra Modi, Jair Bolsonaro, Scott Morrison, Rodrigo Duterte, Matteo Salvini, Recep Tayyip Erdoğan, Viktor Orbán e uma série de outros homens fortes ridículos - ou homens fracos, como tantas vezes acabam sendo – dominam países que teriam rido deles fora do palco. A questão é porquê? Porque é que os tecnocratas que dominavam quase tudo estão a dar lugar a estes palhaços extravagantes? (…) Porque é que os milionários, que até há pouco tempo usavam o seu dinheiro e jornais para promover político sem carisma, financiam agora este circo? (…)
A razão, creio eu, é que a natureza do capitalismo mudou. A força dominante do poder corporativo dos anos 90 e início dos anos 2000 exigia um governo tecnocrático. Exigia-se pessoas que pudessem simultaneamente administrar um estado competente e seguro e proteger os lucros da mudança democrática. (…)
As políticas que deveriam promover a empresa - reduzindo os impostos para os ricos, arrasando as proteções públicas, destruindo os sindicatos - estimulavam uma poderosa espiral de acumulação de riqueza patrimonial. As maiores fortunas são agora feitas não por meio do empreendedorismo, mas por herança, monopólio e renda: garantir o controlo exclusivo de ativos cruciais como terrenos e edifícios, utilidades privatizadas e propriedade intelectual, e concentrar monopólios de serviços como centros comerciais, software e plataformas de redes sociais, cobrando taxas de uso muito mais altas do que os custos de produção e comercialização. (…)
Hoje, o poder corporativo transforma-se em poder oligárquico. O que os oligarcas querem não é o mesmo que as antigas corporações queriam. Segundo o seu teórico favorito, Steve Bannon, eles buscam a “desconstrução do estado administrativo”. O caos é o multiplicador do lucro para o capitalismo de desastre onde prosperam os novos bilionários. Cada rutura é usada para agarrar bens de que dependem as nossas vidas. O caos de um Brexit litigioso, as constantes paralisações da administração Trump são exemplos de desconstruções previstas por Bannon. À medida que instituições, regras e supervisão democrática implodem, os oligarcas ampliam a sua riqueza e poder à nossa custa.
Os palhaços assassinos também oferecem aos oligarcas outra coisa: distração. Enquanto os cleptocratas nos abafam, somos levados a olhar para o lado. Somos hipnotizados por bobos que nos encorajam a canalizar a raiva que deveria ser dirigida contra os bilionários para imigrantes, mulheres, judeus, muçulmanos, pessoas de cor e outros inimigos imaginários e outros bodes expiatórios do costume. Assim como foi nos anos 1930, a nova demagogia é um golpe, uma revolta contra os impactos do capital, financiados pelos capitalistas.
Os interesses do oligarca estão sempre numa offshore: em paraísos fiscais e regimes de sigilo. Paradoxalmente, estes interesses são mais bem promovidos por nacionalistas e nativistas. Os políticos que mais proclamam o seu patriotismo e defesa da soberania são sempre os primeiros a vender as suas nações. Não é por acaso que a maioria dos jornais que promove a agenda nativista, incitando o ódio contra os imigrantes e bramando sobre soberania, seja propriedade de exilados bilionários, vivendo numa offshore. (...)
Defender-nos da oligarquia significa taxá-la ao máximo. É fácil enredarmo-nos em discussões sobre qual o nível de imposto que maximiza a geração de receita. Existem infinitas discussões sobre a curva de Laffer, que pretende mostrar onde está este nível. Mas essas discussões ignoram algo crucial: aumentar a receita é apenas um dos propósitos do imposto. Outra será quebrar a espiral de acumulação patrimonial.
Quebrar essa espiral é uma necessidade democrática: senão os oligarcas, como vimos, passam a dominar a vida nacional e internacional. A espiral não pára por si só: somente a ação do governo pode fazê-lo. Esta é uma das razões pelas quais, durante a década de 1940, a taxa máxima de imposto de sobre os rendimentos nos EUA subiu para 94% e no Reino Unido para 98%. Uma sociedade justa precisa de correções periódicas nesta escala. Mas hoje em dia os impostos mais altos seriam mais bem direcionados para a riqueza acumulada não adquirida.(…)»
George Monbiot, in From Trump to Johnson, nationalists are on the rise – backed by billionaire oligarchs - The Guardian.
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