A batalha de «limas» é o culminar do Carnaval em S. Miguel, Açores. Originalmente feitas em formas de cera, as «limas» foram paulatinamente substituídas por balões e sacos cheios de água. Em Ponta Delgada, vários grupos fazem-se transportar em camiões com caixas e bidões carregados de «limas» que jovens devidamente protegidos arremessam entre si. No fim, o espetáculo da avenida marginal de Ponta Delgada é o que a foto mostra: um mar de plástico. Mesmo que os responsáveis tentem «esverdear» o evento dizendo que tudo é varrido e reciclado, isto não passa de um colossal desperdício de recursos. Pior: este atentado ambiental é patrocínio, entre outras entidades, pela Câmara Municipal.
3 comentários:
https://www.dn.pt/vida-e-futuro/interior/ambientalistas-a-batalha-das-limas-de-ponta-delgada-e-um-atentado-ambiental-10650160.html
Vale a pena refletir nas palavras de Hugo Moreira, repulicadas pelo No more plastic bags for the Azores, que o ilustrou com imagens muito ilucidativas.
«É preciso começar a pensar em alternativas
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Todos os anos, na terça-feira de Carnaval, centenas de "guerreiros" juntam-se na baixa de Ponta Delgada (Açores) para a Batalha das Limas.
A tradição é centenária. No início, as armas eram flores. Mais tarde vieram as limas: espécies de bolas de parafina que mandavam uns quantos para o hospital. Hoje em dia, a luta é feita com sacos de plásticos e balões cheios de água.
Não é preciso ser militante d'Os Verdes para perceber (e, com este post, ver) o outro lado da diversão de mandar um saco à beiça de alguém.
São milhares e milhares de sacos, saquinhos e saquetas que enchem o "campo de batalha" com camadas sedimentares de plástico. Aquele plástico que todos somos contra nos hipermercados, nas palhinhas...
O argumento aqui (já) nem é que "não se deve sujar o chão".
O problema são as centenas de sacos que atravessam o campo de batalha de um lado ao outro e acabam diretamente no oceano.
O problema é o desperdício de metros e metros cúbicos de água.
O problema é a utilização de plástico quando, nos outros 364 dias do ano, fazemos manifestações para acabar com o exato problema que propagamos nesta "tradição", apenas por lhe chamarmos de "tradição".
O ideal seria estudar-se quais as consequências ambientais disto. Uma vez que pedir um estudo sobre uma atividade cultural politicamente tóxica é demasiado polémico, pelo menos que se aproveite o resto do dia de folga para pensar em alternativas.»
https://www.facebook.com/nomoreplasticsazores/posts/2376695629060014
No Carnaval de São Miguel há uma batalha de sacos de plástico: a tradição justifica tudo?
São “milhares e milhares” os sacos de plástico que cobrem as ruas de Ponta Delgada, em São Miguel, quando a Batalha das Limas acaba. Inicialmente feita com flores, a "batalha", que acontece no dia de Carnaval, passou a dada altura a ser feita com limas — uma espécie de bolas de parafina — e actualmente usa como "arma" sacos de plástico cheios de água. Terça-feira, 5 de Março, quando a diversão acabou, Hugo Moreira, fotógrafo açoriano de 22 anos, decidiu registar o reverso da medalha: “É verdade que a Batalha das Limas é uma tradição tipicamente micaelense, mas também é verdade que a tradição não justifica tudo”, aponta.
A tradição é, de facto, centenária, mas Hugo não é o único que se começa a manifestar contra aquilo que pode ser “um contra-senso”: “Os governos assinam programas e tentam educar as pessoas para a não utilização do plástico descartável, mas, por outro lado, permitem que se faça um atentado deste género”, afirma José Pedro Medeiros, presidente da associação ambientalista Amigos do Calhau. O fotógrafo subscreve: “É difícil compreender como se é contra a utilização de sacos de plástico nas compras e de palhinhas nos bares durante 364 dias por ano, mas depois se defende com unhas e dentes que nesta tradição ‘não se pode tocar’ ou pensar em alternativas.”
No ano passado, a associação tinha mostrado o seu descontentamento à Câmara Municipal de Ponta Delgada (CMPD) através de um comunicado: “O único efeito que surtiu foi uma limpeza mais rápida por parte dos serviços do município”, refere José Pedro Medeiros. “Antes do desfile [deste ano] também fizemos um comunicado, mas não surtiu efeito”, continua. Também Os Verdes se manifestaram contra a utilização de plástico no evento. Em comunicado publicado no site, o partido afirmou não se opor à tradição, mas ressalvou que “este festejo popular só deve ser permitido com materiais biodegradáveis ou reutilizáveis”.
Em declarações escritas ao P3, a CMPD garantiu que “os serviços de higiene e limpeza urbana de Ponta Delgada asseguraram uma rápida e integral limpeza e controlo das consequências do evento”. Mas “por maior que seja o esforço das equipas de limpeza”, Hugo Moreira refere que “há sempre ‘restos’ da batalha, pela cidade e junto ao mar, que está a poucos metros da marginal”. E “mesmo que a limpeza fosse perfeita”, não seria eliminado “o facto de se estar a falar de plástico utilizado apenas uma vez e de haver, decerto, outras soluções”. José Pedro Medeiros fala também no desperdício de água: “Temos preocupações com a seca durante o Verão, é ridículo desperdiçar milhões de litros de água numa situação destas.”
Alternativas? Voltar às flores “não seria sustentável”, acredita o presidente da Amigos do Calhau. “É preciso parar e pensar numa solução.” A CMPD afirma estar “a trabalhar com vista a encontrar alternativas ao uso do plástico que sejam, por um lado, mais amigas do ambiente e, por outro, que não coloquem em causa a tradição”. Afinal, “pedir que se pense em alternativas não significa que se seja a favor do fim da celebração”, remata Hugo.
https://www.publico.pt/2019/03/07/p3/fotogaleria/no-carnaval-de-sao-miguel-ha-uma-batalha-de-sacos-de-plastico-a-tradicao-justifica-tudo-393490
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