domingo, 16 de dezembro de 2018

Bico calado

  • «(…) Mas os enfermeiros não são remunerados por um fundo de greve, com regras claras e que resulta de anos de trabalho de um sindicato. São remunerados através de crowdfunding. Dirão: é outra forma de fazer o mesmo, já que um conjunto dos enfermeiros se cotizou para isto. Só que a plataforma usada para esta recolha de fundos permite o anonimato dos doadores. O dinheiro pode não vir apenas de enfermeiros. Especulando, para se perceber o risco, poderia vir de quem sirva os interesses privados que mais ganham com esta greve. Não digo que seja o caso, digo que o perigoso precedente de podermos ter financiamento anónimo de greves por concorrentes de empresas ou instituições está aberto. (…) Com um pormenor: os 42 euros pagos por dia a estes grevistas não estão sujeitos a impostos ou descontos. Depois há a origem da greve. Não é os sindicatos que a marcam serem próximos do PSD. Há muitos sindicatos próximos de partidos e isso nunca foi problema. Não é o descarado envolvimentos (ou direção) da bastonária, também do PSD, numa luta sindical, violando a delegação de funções do Estado na Ordem. É estes dois pequenos sindicatos (ASPE e Sindepor) terem sido fundados há apenas um ano e limitarem-se a entregar pré-avisos de greve em resposta às exigências de um movimento inorgânico que é presa fácil de oportunismos, aproveitando o desespero dos enfermeiros. Não é por acaso que, apesar de terem as mesmas reivindicações, o maior sindicato da classe (SEP) e a Federação que junta outros dois sindicatos (FENSE) não participam nesta greve. Estão em negociação e têm consciência que a perda de vidas por causa de uma greve continuada às cirurgias teria repercussões dramáticas para a imagem do sindicalismo e para a credibilidade SNS.(…)» Daniel Oliveira, in Expresso 15dez2018.
  • «(…) Quando se trata de decidir o que quer que seja, sobre as leis propostas para promulgação, ou simplesmente em preparação, Marcelo cuida de marcar a linha vermelha, que alerta não deixar ultrapassar. A respeito do Serviço Nacional de Saúde - cuja criação recorde-se que mereceu o seu voto contra quando era deputado na Assembleia da República - apressou-se a vir-se pôr ao lado da lobista Maria de Belém que, com o seu grupo de consultores, formulara uma Lei de Bases defensora dos interesses privados e das oportunistas Misericórdias, em detrimento dos hospitais e clínicas do setor público. Aproximando-se bem mais dos princípios defendidos pelo criador do SNS, António Arnaut, que subscrevera com João Semedo uma proposta de reactualização da Lei existente, a ministra Marta Temido cuidou de aparar tudo quanto pudesse prejudicar a medicina pública e beneficiasse os que fazem da saúde dos portugueses um negócio. Já não bastava que a ministra tivesse encontrado no próprio Conselho de Ministros a oposição dos que nele têm assento e mantém firme resistência ao espirito da atual maioria parlamentar, e já conta com o aviso de Marcelo em como é na lobista dos grupos económicos privados, que se reconhece.(…)» Jorge Rocha, in Ventos Semeados.
  • No Reino Unido, os diretores da Crossrail receberam bónus de 725 mil libras na véspera do projeto da linha férrea ter registado um atraso de um ano e ter ultrapassado o orçamento previsto. The Times.
  • Agentes da autoridade norte-americana destruíram cerca de 4 mil garrafões de água disponibilizados por grupos solidários a migrantes que atravessam o deserto para tentar entrar nos EUA. Cerca de 7 mil pereceram ao tentar a sua sorte. Vagamente relacionado: a migrante Jackeline Caal, de sete anos, morreu de sede quando em custódia dos EUA.

  • John Bolton, conselheiro para a segurança nacional dos EUA, considera os investimentos chineses e russos em África não só uma atitude predatória e neocolonialista mas também uma ameaça para a segurança dos EUASerá caso para pensar que tudo seria diferente para melhor se os investimentos fossem americanos. Só que o presidente da China visitou África 9 vezes para promover investimentos, enquanto Trump enviou a esposa numa visita de cortesia. Estranho é Bolton dizer o que disse quando os EUA têm tropas em 50 países africanos…
  • Diretores da Trafigura, da Vitol e da Glencore estão a ser investigados por suspeitas de suborno de 15,3 milhões de dólares a homólogos da brasileira Petrobras para conseguirem bons negócios. Global Witness.
  • Celebridades criticadas por fuga ao fisco através de offshores: Bono, Shakira, Nicole Kidman, Madonna, Jean-Jacques Annaud, Amitabh Bachchan, Akira Toriyama. ICIJ.

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