terça-feira, 21 de agosto de 2018

Bico calado

  • Uma avozinha de 87 foi intercetada pela polícia quando, com uma faca, apanhava dentes-de-leão na sua vizinhança. Imigrante síria, com nacionalidade norte-americana desde 2001, não compreendeu o que o agente de autoridade lhe dizia. Aplicaram-lhe choque elétrico e detiveram-na. Na Georgia é assim. ABC.
  • «(…) Andávamos todos nós tão contentes com os voos low  cost, e antes disso com a velocidade que modificou as condições da viagem e do percurso. Sabemos agora que alguém, ou alguma coisa, desatou a rir-se de nós, fazendo-nos experimentar a situação paradoxal de ficarmos imobilizados por causa do excesso de mobilidade. A situação já era nossa conhecida nas entradas e saídas das grandes cidades. Mas agora todas as ligações aéreas de umas cidades às outras conhecem esse regime do trânsito parado. Este mundo que tende para a sua perda, isto é, para a entropia, é um mundo irónico que transforma toda a promessa de felicidade (temporária, é certo) num inferno e deixa toda a gente parada – por muito mais tempo do que aquele que conseguimos suportar – exactamente porque foi prometida a toda a gente a fácil mobilidade e a velocidade. Nunca o fenómeno da entropia foi tão espectacular como é hoje nos aeroportos e no tráfego aéreo. Talvez seja necessário ter em conta que há uma economia política da velocidade e não apenas da riqueza produzida. E quando somos submetidos nos aeroportos e nos aviões à condição de plebe desprezível, pensamos que ali pode estar a renascer uma nova modalidade de luta de classes: por onde circulam os ricos nos aeroportos? Em que aviões viajam para não correrem o risco de perder tempo? Porque é que a velha máxima do “tempo é dinheiro” continua a ser tão actual que ou se tem as duas coisas – tempo e dinheiro - ou não se tem nenhuma. (…)» António Guerreiro, in Low cost e luta de classesPúblico 17ago2018.
  • «(…) temos Santana Lopes armado em Noé, ansioso por comandar a nau da Aliança. Até ver nem acontece Dilúvio - o outro estava obcecado com o Diabo! -, que lhe desse razão de ser, como parecem poucos os animais aliciados por nela entrarem. Os bípedes, mais espertos!, adivinham fútil o aliciamento, mas ele contaria sobretudo com os quadrúpedes, pois sobram muitos na área política em que anseia ter, senão uma palavra a dizer (algo difícil a alguém com tanta inocuidade mental!), pelo menos um lugarzinho ao sol, onde sinta compensada a neurose narcísica.(…) O programa político agora apresentado é uma colagem requentada de coisas que as direitas andaram a propor nas décadas mais recentes e nenhuma delas dando outro resultado, que não a desgraça das maiorias: cheque-ensino para acabar com o ensino público e dar fôlego aos colégios privados; seguros de saúde para acabar com hospitais e centros de saúde estatais para que o negócio da saúde seja rentável para os empreendedores, que com ele querem enriquecer; e, sobretudo, reduzir impostos para que acabem as veleidades constitucionais de estarem garantidos os direitos fundamentais trazidos pela Revolução de Abril e traduzidos na Lei Fundamental.» Jorge Rocha in Parvoíces sazonais - Ventos semeados.

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