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No filme Darkest Hour, Hollywood presta homenagem a um assassino em série, escreve Shashi Tharoor*
no Washington Post de 10 de março de 2018.
(Tradução livre de excertos)
«"A História", disse Winston Churchill, "será simpática para comigo, pois eu próprio pretendo escrevê-la." Apesar de ter sido um dos grandes assassinos em série do século 20, é o único, ao contrário de Hitler e Stalin, que tem conseguido escapar ao ódio ocidental. Já lhe tinham dado o Prémio Nobel da literatura. Agora, Oldman, o ator que o retrata no filme, recebeu um Óscar. Hollywood confirma que a reputação de Churchill assenta numa frase dita na hora certa de viragem da Segunda Guerra Mundial: "Não devemos render-nos nem falhar. Temos que continuar até o fim. ... Temos que lutar nas praias, temos que lutar nos campos de aviaão, temos que lutar nos campos e nas ruas. ... Nunca devemos render-nos.”
Durante a Segunda Guerra Mundial, Churchill declarou-se a favor do "bombardeamento de terror". Ele escreveu dizendo que queria "ataques devastadores, exterminadores de bombardeiros muito pesados". O resultado foram os horrores dos bombardeamenstos de Dresden.
Na luta da independência da Irlanda, Churchill, na qualidade de secretário de Estado da Guerra e do Ar, foi uma das poucas autoridades britânicas a favor do bombardeamento dos manifestantes irlandeses, sugerindo em 1920 que os aviões deveriam usar "metralhadoras ou bombas" para os espalhar.
Como secretário de Estado das Colónias, Churchill atuou como um criminoso de guerra ao lidar com um conflito na Mesopotâmia, em 1921: "Sou fortemente a favor do uso de gás venenoso contra as tribos incivilizadas; isso provocaria imenso terror.” Ele ordenou bombardeamentos em larga escala na Mesopotâmia, tendo uma aldeia inteira sido destruída em 45 minutos.
No Afeganistão, Churchill declarou que os Pashtuns "precisavam de reconhecer a superioridade da raça [britânica]" e que "todos os que resistem serão mortos sem direito a prisioneiros". Ele escreveu: "Avançámos sistematicamente, aldeia por aldeia, e destruímos as casas, tapámos os poços, derrubámos as torres, cortámos as grandes árvores que davam sombra, queimámos as colheitas e arrasámos as albufeiras com devastação punitiva ... Os indígenas capturados foram todos mortos à espadeirada ou decapitados na hora.»
No Quênia, Churchill dirigiu ou foi cúmplice de políticas que envolveram a deslocalização forçada de nativos das terras altas férteis para abrir caminho a colonos brancos e que forçaram mais de 150 mil pessoas para campos de concentração. Violações, castrações, cigarros acesos em zonas sensíveis e choques elétricos foram usados pelas autoridades britânicas para torturar os quenianos às ordens de Churchill.
Mas as principais vítimas de Winston Churchill foram os indianos - "um povo besta com uma religião besta", como ele os chamava. Ele queria usar armas químicas na Índia, mas foi impedido pelos colegas do governo.
A beatificação de Churchill como apóstolo da liberdade parece ainda mais absurda, tendo em conta que ele recusou ver as pessoas de cor terem os mesmos direitos que ele próprio. "O Gandhism e tudo o que representa", declarou, "mais cedo ou mais tarde terá de ser controlado e esmagado.”
Até mesmo o seu próprio secretário de Estado para a Índia, Leopold Amery, confessou que via poucas diferenças entre a atitude de Churchill e Adolf Hitler.
Graças a Churchill, mais de 4 milhões de Bengalis morreram de fome em 1943. Churchill ordenou o desvio de alimentos de civis indianos famintos para soldados britânicos bem fornecidos e até mesmo para reforçar estoques na Grécia e arredores. Quando lhe lembraram o sofrimento das suas vítimas indianas, ele respondeu que a fome era culpa deles porque “eles crescem como coelhos”. Enquanto os indianos morriam à fome, os preços dos cereais eram inflacionados pelas compras britânicas e o excesso de cereais era exportado, enquanto os navios australianos carregados de trigo não podiam descarregam a sua carga em Calcutá. Em vez disso, Churchill ordenou que os cereais fossem enviados para serem descarregados em armazéns no Mediterrâneo e nos Balcãs para aumentar os estoques de reserva para uma possível invasão futura da Grécia e da Jugoslávia. Os armazéns europeus enchiam-se enquanto os Bengalis morriam.
Os Óscares desta semana é outra hagiografia deste homem revoltante.
Muitos de nós vão lembrar-se de Churchill como um criminoso de guerra e um inimigo da decência e da humanidade, um imperialista insensível para com a opressão dos povos não-brancos.»
*Shashi Tharoor - presidente do grupo parlamentar dos Negócios Estrangeiros da Índia e autor de “Inglorious Empire: What the British Did to India.” (O Império Vergonhoso: o que os britânicos fizeram à Índia.
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