quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Bico calado

Imagem colhida aqui.
  • Diz um velho ditado popular que «quem não tem amigo certo dorme com um olho fechado e outro aberto. Mas Bruno de Carvalho, o chefe do Sporting, muito vivido e vivaço, não arrisca: garante que dorme com os três olhos fechados. Perante este caso sério de gestão de gases, deverão os paineleiros desportistas acautelar-se perante as eventuais emissões súbitas, tempestuosas e pestilentas guardadas sob enorme pressão pelo dito chefe. Diz a ciência popular que, em casos semelhantes, é vulgar os gases tomarem os dois elevadores ao mesmo tempo e provocar danos incalculáveis.
  • «(…) De facto que interesse tem para a Polis que um governante ou um deputado tenham ido a um jogo de futebol a convite de um clube e se veja nisso uma tenebrosa conspiração de corrupção. (…) duvido muito sinceramente que alguém acredite pelo menos que o pagamento tenha sido feito em bilhetes para o jogo, porque é que a gente, jornalistas, comentadores, políticos, procuradores, perdem o seu tempo precioso com isso que de corrupção nem sequer tem uns fumos. Uma resposta é que de facto não acham que o seu tempo é precioso, a outra é que não têm mais nada para fazer. E no entanto… há muita coisa para investigar, para saber, muitas histórias para esclarecer que continuam obscuras ou silenciadas. Por exemplo, anda para aí um clamor que os sindicatos estão a empurrar a Autoeuropa para fora de Portugal. Talvez. Mas onde é que eu leio o que levou à falência da Triumph ou da Ricon, onde é que eu encontro a história? – que se fosse jornalista económico gostaria muito de esclarecer. Temos histórias sobre o desespero dos trabalhadores atirados para o desemprego, mas não temos a história das falências, dos erros de gestão, da ganância, da incompetência, ou dos erros do crédito e da banca, ou do Estado ou da intransigência do fisco, ou das autarquias que possam explicar a morte daqueles postos de trabalho. Alguém tomou decisões muito erradas, mas esse alguém está certamente melhor do que aquelas mulheres e famílias que vemos à porta a fazer uma vigília. Por exemplo, quantas startups que receberam nos últimos anos os maiores elogios de governantes em trânsito ou de artigos de jornais económicos desapareceram? Ou alguém me explica, e aos portugueses, como é que para publicar uma notícia, por exemplo sobre uma empresa, ou um escritório de advogados, ou um novo restaurante, é preciso pagar a uma agência de comunicação e qual é o papel dos jornalistas nas redacções para privilegiarem uma notícia sobre a outra, e para encherem páginas mais ou menos especializadas só, e insisto só, com notícias que chegam através de agências? Como é? São pagos com bilhetes de futebol, ou viagens às Seychelles? Silêncio. Podia continuar até ao fim da Sábado. (…)» José Pacheco Pereira, in O problema deve ser meu - Sábado 4fev2018.

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