quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Harvey: segunda reflexão - Porque é que as perguntas cruciais sobre o furacão Harvey não estão a ser feitas?

Imagem recolhida aqui.

Porque é que as perguntas cruciais sobre o furacão Harvey não estão a ser feitas? pergunta George Monbiot, no The Guardian.
(Trad. Livre de excertos)

«Não é só o governo de Donald Trump que censura o debate sobre as alterações climáticas. É toda a opinião educada. 
Não é por acaso que a maioria das notícias sobre o furacão Harvey não menciona a contribuição humana para ele. Não é por acaso que esta autocensura acontece. Os repórteres e os editores ignoram o assunto para evitarem problemas. Falar sobre a degradação climática é questionar Trump, a sua política ambiental, a política económica atual, todo o sistema político e económico. É denunciar um programa que se baseia em roubar o futuro para alimentar o presente, que exige crescimento perpétuo num planeta finito. É desafiar a própria base do capitalismo, é informar-nos de que as nossas vidas são dominadas por um sistema que não pode ser sustentado - um sistema que está destinado a destruir tudo, se não for substituído.

Disseram-me nas redes sociais que levantar a questão das alterações climáticas é politizar o furacão Harvey, que é um insulto às vítimas e uma distração das suas necessidades urgentes e que o melhor momento para debater essa questão seria fora das notícias, quando tudo estivesse arrumado e reconstruído. 
Penso que o silêncio é que é político. Reportar a tempestade como se fosse um fenómeno completamente natural, como o eclipse do sol da semana passada, é tomar uma posição. Ao não relacionar esta tempestade com as alterações climáticas, os media não dão resposta às nossas perguntas acerca do nosso maior desafio. Eles ajudam a empurrar o mundo para uma catástrofe.

O Harvey mostrou-nos um pouco do que poderá ser o nosso futuro. Um futuro onde a emergência se torna regra, e nenhum estado tem a capacidade de responder. Um futuro onde desastres como este ocorrem em algumas cidades várias vezes por ano. Um futuro que, para pessoas em países como o Bangladesh, já chegou e que não foi registado pelos media do mundo rico. O silêncio é que torna possível a materialização deste pesadelo.

Tal como Trump, que nega o aquecimento global impulsionado pelos seres humanos, mas que quer construir um muro à volta do seu campo de golfe na Irlanda para o proteger da subida do nível das águas do mar, as petrolíferas, algumas das quais gastaram milhões a patrocinar negacionistas das alterações climáticas, aumentaram progressivamente a altura das suas plataformas no Golfo do México perante os alertas sobre mares mais altos e tempestades mais fortes. Fizeram subir as plataformas de 12 metros acima do mar, em 1940, para 21 metros, nos anos 90, e para cerca de 28 metros neste momento.

Ficamos escandalizados quando sabemos que a administração Trump instruiu funcionários e cientistas para purgarem das suas publicações todas as referências às mudanças climáticas. Mas quando os media fazem o mesmo, nem qualquer orientação superior, deixamos passar. Esta censura é invisível mesmo para os perpetradores, cosidos no tecido de organizações que são constitucionalmente destinadas a deixar sem respostas as questões principais dos nossos tempos. Reconhecer esta questão é desafiar tudo. Desafiar tudo é tornar-se um pária.»

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