quinta-feira, 20 de julho de 2017

O colapso anunciado da sardinha

Imagem capturada aqui.

O Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES, na sigla em inglês), organismo científico que aconselha a Comissão Europeia sobre as quotas de captura de peixe, traça perspetivas negras sobre a evolução da população de sardinhas e sugere a suspensão total da pesca em Portugal, sendo preciso esperar 15 anos para que os estoques recuperem. JNegócios.

Já em maio de 2012 o Ministério da Agricultura e das Pescas admitia que a quantidade de sardinha diminuíra mais de 50% na costa portuguesa nos últimos dez anos, sendo o Centro e o Sul do país as zonas mais afetadas.
Por essa altura, um estudo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, do Porto, sugeria que um parasita andava a matar as sardinhas nos mares de Portugal e Espanha.

Mas gostamos mesmo de sardinha e tudo fazemos para a apreciar várias vezes ao ano, e em grandes quantidades. Para além do consumo massivo por altura dos santos populares, investigadores da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche fomentaram projetos para turistas verem e comerem. 

Só festa, só consumo. Preservação, nenhuma. Preservação é invenção dos ambientalistas, inimigos figadais do comércio, do consumo, do progresso. 
Um dia a coisa tinha que acabar. E assim, no fim de setembro de 2014, a captura da sardinha era proibida até ao fim do ano por causa da manifesta escassez da espécie.

Lá fora, o cenário não era diferente. Em novembro de 2012, uma reportagem do Guardian dava conta de que o colapso das capturas da sardinha nas Caraíbas podia ter sido provocado pela sobrepesca e pela redução do plancton durante a última década.
Em março de 2015, cientistas conselheiros da indústria de pescas da Costa Oeste dos EUA alertavam para a redução dramática da população da sardinha no Pacífico capaz de não poder ser capaz de sustentar a pesca comercial.
Não foi, por isso, novidade, que, em abril de 2016, as autoridades reguladoras das pescas dos EUA proibiam a captura da sardinha ao largo da costa oeste do país pelo segundo ano consecutivo.

Curiosamente, o nosso escritor Raul Brandão escrevia, em 1923, em «Os Pescadores»:
«É aos montes que a sardinha é apanhada por essa costa para enriquecer meia dúzia de felizes. Daqui a meio século não há uma escama nas nossas águas fertilíssimas. O planalto que se estende até algumas milhas da costa, e que foi revolvido pelos vapores de arrasto, matando a criação e reduzindo à pobreza os pescadores primitivos, é agora explorado pela indústria por todos os processos e feitios. Sardinha – sardinha – sardinha...»

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