quarta-feira, 11 de maio de 2016

Bico calado

  • Consta que os Panama Papers fazem referências a gente perto de nós. Em Arrifana, Vila Feira, uma certa Ms Jenny Wiryardi e um certo Mr Sjamsjur Bahari (este com residência no Brasil) aparecem relacionados com a ZENDEN INVESTMENTS LTD., registada nas Ilhas Virgens. No Porto, SALOMON ARMIN NIEGO BRAUN consta associado duas vezes à CONDOR TRAVEL GROUP CORP., baseada nas Ilhas Virgens, e Sarkis Meybatov relacionado com HEWMART PRODUCTS INC., sedeada na Ilhas Virgens. Neste carrossel, há muito mais gente em Perosinho, no Porto, Fafe, em Braga, Figueira da Foz, Arruda dos Vinhos, Ferreira do Zézere, Mangualde, Chaves, Vila Real de Trás-os-Montes, Monchique, Peniche, Maceira, Alverca e Alcabideche. Cascais e Algarve merecem 6 referências. E quem julgava que o Funchal liderava esta fila, desengane-se, porque Lisboa lidera com 41 nomes, enquanto a zona franca da Madeira se fica pelas 24 referências. Muito revelador deste meio é a referência a uma direção blindada pela opacidade de «Portugal». Lá apenas consta um Chen, Chun-Chieh com relações a uma Hurwill Trading Corp, baseada nas Ilhas Virgens e a uma PowerPoint Int’l Co., baseada em Taiwan. É uma festa. Para aceder à lista dos Intermediários dos negócios (40), consultem esta página e divirtam-se. Se tiverem tempo e paciência, podem também aceder aos escritórios onde se cozinharam estes negócios, são 300 e podem ser consultados aqui.
  • Foi apanhado na rede dos Panama Papers? Se foi, pode admitir o erro, o lapso, o engano, o esquecimento, a distração, a vigarice, a evasão, o truque, a aldrabice, tudo o que quiser. Na Noruega, através de uma linha aberta especialmente criada para o efeito. Os que confessarem tudo voluntariamente verão a sua pena reduzida num terço. Reuters.
  • «Quando o Estado identifica uma área onde a oferta pública não é suficiente, paga a um colégio para receber os alunos que não tiveram vaga na Escola Pública. Não se trata de liberdade de escolha das famílias, porque é o Estado quem identifica as carências e escolhe os colégios. Há escolas privadas que exercem este serviço público de forma exemplar, compreendendo que o financiamento que recebem não é um subsídio à sua existência, mas o justo pagamento de um serviço que prestam ao Estado. (…) O Ministério da Educação veio agora clarificar critérios relativamente à abertura de turmas de início de ciclos para 2016/2017, dizendo duas coisas: primeiro, se a justificação do contrato é a carência naquela freguesia então os colégios não podem percorrer o concelho ou o distrito para ir buscar alunos que têm vaga na Escola Pública e desta forma abrirem mais turmas pagas a 80.500 euros cada. Ou seja, não vale desviar alunos da escola pública para receber mais dinheiro do Estado. Segunda, a determinação do número de turmas a abrir em cada início de ciclo não depende de qualquer mão invisível, mas da análise das carências existentes na respetiva freguesia. Ou seja, os contratos de associação não são uma renda garantida a determinados colégios só porque sim. (…)O maior ataque ao “ensino público de qualidade” é milhões de euros dos nossos impostos estarem a ser desviados da Escola Pública para os colégios privados. (…) Há dezenas de Escolas Públicas a esvaziarem-se de alunos e a despedirem pessoas enquanto o Estado paga 80.500 euros ao privado para aceitar cada turma que tem lugar na escola pública por menos 30 mil euros. O abuso sai-nos caro está a destruir a Escola Pública. (…) Desmistificados os argumentos só podemos concluir que todo o ruído é para calar uma verdade simples: o Estado tem andado a pagar uma renda de milhões aos donos de colégios privados sem qualquer razão. O motivo da indignação? Querermos acabar com este abuso.» Joana Mortágua in Queremos acabar com este abusoPúblico 10mai2016.
  • «Marques Mendes fez esta semana uma fervorosa defesa do modelo em que recursos públicos são canalizados para financiar colégios privados, apesar de existir oferta do Estado nessas áreas. Para ilustrar a ideia, escolheu o exemplo de Santa Maria da Feira, opondo à escola pública de Paços de Brandão ("que tem vindo a perder alunos") o exemplo do Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas (que, sendo financiado pelo Estado, "está a rebentar pelas costuras"). A conclusão de Marques Mendes é simples: as escolas privadas são por natureza melhores ("não é por acaso que nos rankings as escolas públicas vêm todas cá para baixo") e o corte do financiamento público deixará o acesso à melhor educação apenas ao alcance dos ricos. Se a referência aos rankings reduz ao absurdo a defesa do indefensável, o exemplo escolhido prova a falácia do argumento. É que o Agrupamento de Escolas de Paços de Brandão recebeu em 2015, pela mão do ex-ministro Nuno Crato, um crédito de horas "pela eficácia educativa" e "redução do abandono escolar". Foi mesmo, de entre todos os agrupamentos do país, um dos oito que receberam a distinção máxima. (…) Numa única coisa Marques Mendes tem razão: a discussão deve ser feita "retirando daqui o preconceito partidário e ideológico". Se assim fosse, certamente não assistiríamos ao triste espetáculo de uma direita para quem o Estado só é despesista quando está em causa o pagamento de prestações sociais.» Mariana Mortágua in Marques Mentes, JN 10mai2016.
  • «E se, de repente, as pessoas que defendem a Escola Pública também inundassem o Presidente da República – e, já agora, o Primeiro-Ministro – com cartas a exigir a aposta na rede de ensino público? E se, num exercício de cidadania activa, pedíssemos aos nossos governantes que canalizem os recursos do Estado para as escolas que são de todos, em vez de desviarem uma parte do orçamento para a Educação para milionários grupos económicos que se habituaram às rendas garantidas do Estado? Num golpe publicitário que recorreu à manipulação de crianças, a malta da Direita fez chegar 50 mil cartas ao Presidente da República. Se forem cidadãos adultos e conscientes a reivindicar a optimização da forma como o Estado gasta os nossos impostos, quantas centenas de milhares de cartas chegariam a Belém e a São Bento?» Uma página numa rede social, FB.
  • «Em 2011, a então ministra da Educação, Isabel Alçada, pediu um estudo à Universidade de Coimbra para saber se havia turmas no privado que estavam a ser financiadas pelo Estado apesar de haver oferta disponível em escolas públicas próximas. António Rochette foi o autor do estudo que concluiu que era possível cortar esses contratos de associação em 80% dos colégios. Cinco anos depois recorda ao Expresso Diário as pressões que sentiu. “Fui linchado, fui enxovalhado nas redes sociais, nos jornais. Até mata-frades me chamaram”» Expresso 10mai2016.

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