sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Bico calado

Poema de António Russo Dias, a propósito da intervenção de rangel no Parlamento EuropeuFonte.

«O segundo homem mais rico do País, com um património avaliado em 1763,2 milhões de euros, voltou há dias a terreiro para, numa entrevista à SIC Notícias, ensinar o primeiro-ministro a governar. O reputado treinador de bancada de governos sucessivos Alexandre Soares dos Santos tem todo o direito à sua opinião, e, tratando-se de um gestor de sucesso, há, obviamente, todo interesse em ouvi-lo. Isso não significa, porém, que o Sr. Pingo Doce venha comer-nos as papas na cabeça e tomar-nos por imbecis. Dizer que António Costa está a “comprar o eleitorado” ao querer reduzir o número de horas de trabalho e as taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde, e defender a necessidade de se reduzir primeiro a dívida antes de se arrancar para políticas de desenvolvimento é de alguém que ignora a realidade do País. E, já que criou uma fundação para a conhecer, devia socorrer-se mais dos dados que esta disponibiliza antes de falar. É uma pena que alguém tão brilhante como Soares dos Santos nunca se tenha aventurado a apresentar-se ao eleitorado, deixando o conforto da bancada para descer ao relvado. O Sr. Pingo Doce esteve seguramente demasiado ocupado a gerir as empresas e o património da família, e a engendrar esquemas para pagar o mínimo de impostos em Portugal, através de sofisticados mecanismos de “otimização fiscal”, que reduzem o encaixe do Estado e aumentam o défice orçamental e a dívida pública. Falar de crime de “evasão fiscal” seria cometer outro. A difamação é punida por lei e eu não estou para ter chatices com a Justiça. Além de que, tecnicamente, os expedientes usados são legais. O Sr. Pingo Doce e muitos outros nada mais fazem do que aproveitar um sistema legal que permite a passagem de largas centenas de milhões de euros entre os dedos do Fisco, sem para tal ter de se infringir a lei. Muda-se a empresa para um país com um regime fiscal mais brando e aproveitam-se internamente benefícios fiscais – muitas vezes criados por cedências do poder político aos lóbis empresariais. Só neste capítulo o Estado perdeu receitas fiscais num valor próximo dos 100 milhões de euros, entre 2010 e 2014, a favor de vários ramos do universo Jerónimo Martins - Soares dos Santos - Pingo Doce. Um cálculo (apressado e ao qual pode ter escapado uma ou outra parcela), a partir das estatísticas do Ministério das Finanças (pode consultá-las clicando AQUI), levou-me à módica quantia de noventa e seis milhões trezentos e oitenta e dois mil trezentos e vinte e dois euros e vinte e dois cêntimos.» Francisco Galope in O Sr. Pingo Doce tem direito à sua opinião, Visão 1fev2016.

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