Newsletter: Receba notificações por email de novos textos publicados:

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

RAQUEL VARELA, O CANTO DO MELRO – A VIDA DO PADRE JOSÉ MARTINS JÚNIOR (13)


“Uma nova igreja era um sonho que vinha de longe. Mas sempre irrealizado por interdição da Câmara Municipal, que se recusava a emitir o alvará, alegando que a diocese se opunha. O Padre Martins, suspenso a divinis, não tinha legitimidade para requerer obras na igreja.

A audácia dos residentes contra os poderes públicos, governo e diocese, que se opunham veementemente a qualquer valorização do templo, ganhava corpo e, em 1989, quando Martins foi eleito presidente do Município, o sonho começou a tomar forma. (…)

Enquanto decorriam as obras, sobreveio então o despudor da Igreja diocesana. Estava construída a torre sineira, mas faltava-lhe a «cereja»: o carrilhão e o relógio cimeiro. Após contacto com a empresa bracarense, que mandou um técnico analisar in loco os termos do contrato, estabeleceram-se verbalmente preços e prazos. Passaram-se meses e a empresa nada dizia, não obstante os faxes enviados à administração. O Padre Martins e um membro da Comissão Paroquial dirigiram-se pessoalmente a Braga para pedir explicações por tão estranho silêncio. Tudo se deslindou então:

— Não podemos executar esse projeto. Ordem expressa do senhor Bispo do Funchal.

— Mas o que está feito, ampliação e torre, não é do bispo. O povo é que construiu — objetaram.

— Não podemos. Fomos ameaçados. Se montarmos o carrilhão na Ribeira Seca, perderemos todos os contratos em carteira para outras igrejas na Madeira.

— O Bispo Teodoro Faria não nos pode derrotar, como não nos derrotou quando mandou o governo atacar a nossa igreja com setenta polícias. Vamos a outra empresa — decidiu a Comissão.

Depois de muito andar, foi em Avintes e em Barcelos que encontraram carrilhão e relógio.”

Raquel Varela, O canto do melro – A vida do Padre José Martins Júnior – Bertrand 2024, pp 173-174.

Sem comentários: