PERANTE AS CATÁSTROFES CLIMÁTICAS, OS ATAQUES AOS ECOLOGISTAS INTENSIFICAM-SE. PARADOXALMENTE, ELES TORNARAM-SE O INIMIGO A ABATER.
Em Valência, Espanha, os ambientalistas são acusados pelos reacionários de terem agravado as inundações que mataram mais de 200 pessoas em outubro passado. O partido de extrema-direita Vox acusa-os de destruírem barragens e de se recusarem a limpar os rios. Na realidade, apenas pequenas barragens em fim de vida foram desmanteladas nos anos 2000, mas isso não teve qualquer efeito na extensão dos danos, segundo os especialistas.
Nos EUA, durante a passagem dos furacões Helene e Milton, os meteorologistas também receberam ameaças de morte. Trump e os seus apoiantes levaram a cabo uma campanha de difamação em grande escala para denunciar o papel do governo democrata no surto de tornados e desacreditar os climatologistas. O campo republicano repetiu falsas alegações de que a administração Biden-Harris tinha redirecionado fundos de ajuda destinados às regiões devastadas para programas para migrantes.
No Brasil, em 2019, Jair Bolsonaro insinuou que as associações ambientalistas estavam a incendiar a Amazónia para manchar a sua reputação. O Acordo de Paris foi descrito como uma "conspiração internacional" que, na sua opinião, procurava minar os seus esforços para promover o desenvolvimento do país.
No Canadá, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Maxime Bernier afirmou que "muitos dos incêndios florestais foram ateados por terroristas verdes para impulsionar a sua campanha contra as alterações climáticas".
Em 2007, Naomi Klein descreveu o advento de um "capitalismo de catástrofe" que capitalizaria as catástrofes naturais. Esta "estratégia de choque", que recebeu o nome do livro seminal do intelectual canadiano, está também a afetar a França. Estão a desenvolver-se dinâmicas semelhantes com a mesma retórica difamatória. Depois da era do greenwashing, vem a era do greenblaming ou greenbashing. Em 2022, na região das Landes, em França, perante a dimensão dos mega-incêndios, os ecologistas foram criticados por se recusarem a gerir a floresta (em vez de questionarem as monoculturas industriais de resina, altamente inflamáveis). O mesmo aconteceu com as inundações no Norte de França. A revista de Michel Onfray acusou os ecologistas de não quererem desobstruir os canais para proteger as rãs. Em janeiro passado, perante a cólera dos agricultores, os ecologistas foram também apontados como os principais responsáveis pelo mal-estar da comunidade agrícola.
"Isto serve sobretudo para desviar as atenções. Faz parte de uma estratégia mais vasta para obstruir os esforços de luta contra as alterações climáticas", afirma a historiadora Laure Teulière. Os detratores querem impor as suas próprias soluções pró-crescimento e pró-tecnologia para a crise ambiental", afirma a investigadora. Apresentam os ecologistas como um inimigo interno perigoso e violento, e também como um grande ingénuo, um sonhador, com ideias desfasadas, ineficazes e utópicas. O objetivo é desacreditar e deslegitimar os denunciantes e retirar-lhes o fôlego.
No futuro, estes ataques poderão tornar-se ainda mais intensos. Num artigo publicado na revista online The Conversation, os investigadores Iwan Dinnick e Daniel Jolley mostram que este tipo de retórica está a ganhar terreno. O aumento do número de catástrofes naturais está, paradoxalmente, a encorajar o ceticismo em relação ao clima e a retórica anti-ambiental, explicam os investigadores. Os preconceitos cognitivos podem explicar este facto. "As pessoas têm uma necessidade fundamental de se sentirem seguras no seu ambiente. A partir do momento em que as alterações climáticas são reais, representam uma ameaça existencial, razão pela qual algumas pessoas as rejeitam em favor de teorias da conspiração para recuperarem um sentimento de controlo".
Gaspard d’Allens, Ecologistas, os novos culpados da crise climática – Reporterre.
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