segunda-feira, 11 de novembro de 2024

LEITURAS À MARGEM

Os Orangemen católicos do Togo e outros conflitos que conheci (13)

“O discurso durou apenas seis minutos (ela nunca fala mais do que isso, exceto na abertura do Parlamento. A sua equipa deixou claro que seis minutos era o máximo absoluto). Continha muito do discurso habitual sobre a história das nossas nações e a importância de um novo futuro baseado na cooperação. Mas depois dirigiu-se diretamente a Rawlings, elogiando as suas realizações no sentido de levar o Gana para o caminho da democracia e da estabilidade económica. (...)
Mas havia uma bicada escondida:

No próximo ano, Sr. Presidente”, entoou a Rainha, ‘V. Exa. abandonará o cargo apósdois mandatos, de acordo com a vossa Constituição’.

A Rainha prosseguiu desejando eleições pacíficas e mais progressos, mas foi abafada pelos gritos de “ouvi, ouvi” e pelo agitar dos papéis de ordem das bancadas, bem como pelos aplausos da galeria do público. (...)

A Rainha parou por um momento. Olhou com perplexidade e preocupação para a algazarra à sua volta. A Rainha não tem experiência de falar para nada para além de um silêncio abafado e respeitoso. Mas, à exceção de alguns rostos sombrios nas bancadas do governo, era uma algazarra alegre e ela prosseguiu até ao fim do seu discurso.

Quando regressámos ao Labadi Beach Hotel, Robin Cook estava completamente furioso. Entrou de rompante no escritório privado improvisado, instalado em dois quartos de hotel.
'Que desastre. Quem é que escreveu aquilo?
'Err, fui eu, Secretário de Estado', disse eu.
'Você, Sr. Murray! Eu devia ter adivinhado! Quem é que o aprovou?'
'Foi o senhor.'
'De certeza que não!'

'Sim, Secretário de Estado. Aprovou o texto final ontem à noite'.
O seu secretário particular teve de ir buscar a cópia do texto que ele tinha assinado. Acalmou-se um pouco e foi ainda mais apaziguado quando o robusto secretário de imprensa da Rainha, Geoff Crawford, disse que era de opinião que era bom que a Rainha fosse vista a defender a democracia. Só podia ficar bem na imprensa britânica. Ele provou ter razão”.

Craig Murray, The Catholic Orangemen of Togo and Other Conflicts I Have Known (2008) –Atholl 2017, pp 191-193.


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