sábado, 9 de novembro de 2024

LEITURAS À MARGEM

Os Orangemen católicos do Togo e outros conflitos que conheci (11)

Da esquerda para a direita: Reagan, Thatcher, Bush I, Bush II, Blair (Corrupção? Não vejo nenhuma corrupção')

“Após três ou quatro intervenções evasivas de peritos, fiz a minha breve intervenção de quatro minutos. Referi-me a um estudo recente do Banco Mundial que apontava para um aumento acentuado da corrupção no Gana a todos os níveis. Prossegui dizendo que era completamente errado encarar a corrupção como uma doença exclusivamente africana, e observei que na maioria dos casos de corrupção em grande escala em África estavam envolvidas empresas ocidentais, incluindo empresas britânicas. (…)
Porém, vi-me em maus lençóis porque uma empresa britânica sentiu que os seus interesses no Gana poderiam ser prejudicados e decidiu apresentar uma queixa formal em Londres. O resultado foi uma investigação formal sobre o meu discurso e a razão por que o tinha feito, que foi levada tão a sério que foi conduzida pelo próprio Subsecretário Permanente, Sir John Kerr. A investigação terminou com uma carta formal de Sir John. Ele decidiu que não tinha havido má conduta. Eu tinha razão em fazer o discurso, que estava de acordo com a política em matéria de corrupção e tinha sido devidamente autorizado pelo Departamento para o Desenvolvimento Internacional. No entanto, escreveu-me uma carta formal de repreensão, afirmando que eu não deveria ter dito que as empresas britânicas estavam envolvidas em corrupção, pois poderia ter prejudicado interesses. Sir John tinha, de facto, conseguido reverter uma decisão ministerial precipitada de me retirar de Accra devido ao meu discurso anti-corrupção.
Fiquei indignado com esta parvoíce. Como é que, com alguma credibilidade, podíamos condenar a corrupção em África se nos recusávamos a admitir que as empresas britânicas estavam por vezes envolvidas? Faltava-lhe toda a credibilidade intelectual - 'condenamos a corrupção, que é sempre obra de pretos e lations'. Uma política anti-corrupção que se recusasse a reconhecer a existência de corrupção britânica não era digna desse nome (44). Mas, pelo menos, o Gana sabia que eu tinha chegado."

(44) A atitude de Sir John Kerr prefigurava o comportamento chocante do governo no escândalo de suborno de armas da BAE Saudi, em que o New Labour tentou ilegalmente subverter o Estado de direito e impedir a investigação de subornos no valor de mais de mil milhões de dólares. Infelizmente, o Governo do Reino Unido já não tem qualquer credibilidade em questões de corrupção internacional.

Craig Murray, The Catholic Orangemen of Togo and Other Conflicts I Have Known (2008) –Atholl 2017, pp 171-173.

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