segunda-feira, 7 de outubro de 2024

BICO CALADO

  • “Lisboa tem mais excluídos em prédios degradados do que expats e nómadas digitais, tem mais famílias ciganas e africanas em barracas e abrigos do que franceses em Campo de Ourique ou norte-americanos no Chiado. Tem mais comércio tradicional a fechar do que 'start ups' e mercearias asiáticas, tem mais desesperados nas paragens de autocarro nos subúrbios do que turistas em tuk-tuks no centro, mais saudosistas e idosos com reformas miseráveis do que brasileiros ou alemães, mais gente sem dinheiro para pagar a prestação do carro do que ciclistas escandinavos. Mas com a desigualdade cada vez mais visível aumentam as distâncias entre os velhos e novos habitantes, os seus hábitos de vida e valores, entre os que têm e os que não têm. A tensão aumenta entre estratos sociais cada vez mais distantes e culturalmente estranhos entre si. É um clima fértil para discursos de ódio de populistas com soluções tão simples como falaciosas.” Miguel Szymanski.
  • “Se o país arde, o bombeiro André convoca conferências de imprensa para exigir penas maiores para os pirómanos. Não vai pegar num balde para ajudar, falar de eucaliptos ou da limpeza das matas. Nada de coisas que possam dar trabalho. Vai apenas criar mais um alvo para o ódio; neste caso, quatro ou cinco malucos que puxam fogo à mata. Sobre o negócio que, posteriormente, se faz na zona ardida… fica para outra altura. Mas, enfim, o drama real é mesmo ver as casas em chamas, mortes de bombeiros e aldeias arrasadas. Os holofotes não se fixam no Ventura, e isso é uma chatice.” Tiago Franco, O Labirinto do Chega – P1.
  • Netanyahu colocou aparelhos de escuta na casa de banho do antigo primeiro-ministro britânico, revela Boris Johnson no seu livro de memórias ‘Unleashed’. Fonte.
Ilustração Hugo Pinto
  • “(…) Pouco depois de iniciada a guerra de extermínio em Gaza, Israel já anunciara também que a sua guerra era em quatro frentes: em Gaza, contra o Hamas, no Iémen, contra os tutsis, no Líbano, contra o Hezbollah, e, a seu tempo e inevitavelmente, contra o Irão. Com a ofensiva no Líbano, que numa semana provocou mais de um milhão de deslocados e decapitou a cúpula militar do Hamas, Israel conseguiu duas coisas: desviar as atenções do continuado morticínio em Gaza e provocar o Irão a reagir. Tudo estava previsto, ensaiado de há muito e planea­do com os Estados Unidos, que forneceram as bombas de uma tonelada e as bombas perfuradoras que destruíram o abrigo subterrâneo onde se escondia Nasrallah e agora se apressaram a dizer que não apenas defenderam e defenderão Israel dos simbólicos ataques aéreos iranianos, como também estão empenhados em ajudar Telavive numa “adequada resposta” ao ataque iraniano de terça-feira. Qual resposta? Provavelmente aquilo que Israel deseja há muito e que o ex-PM israelita Naftali Bennett defendeu na CNN americana: um ataque às instalações nucleares e petrolíferas do Irão. Porque, ao contrário de Gaza e dos palestinia­nos, ninguém chorará uma lágrima pelos iranianos ou os seus aliados, incluindo no mundo árabe sunita, a via está aberta para aquilo a que Bennett chamou “uma oportunidade única”. E se alguém, como Guterres, cumprindo o seu dever como secretário-geral da ONU, tenta ainda evitar a catástrofe, Bennett chama-lhe “cobarde” e o MNE israelita “amigo de terroristas”. Porque o terrorismo, já se sabe, está só do outro lado, mesmo que Israel leve a cabo operações de extermínio contra os seus inimigos “terroristas” em território de três países soberanos: Síria, Líbano e Irão. Coisa que não me consta que esteja ao abrigo de qualquer lei ou tratado internacional. (…)” Miguel Sousa Tavares, Expresso 4out2024.
  • O CH andou a pressionar para que se investigassem barcos chineses fantasmas. A conta já chegou para pagar: a desinformação custou 45 mil euros às Forças Armadas. Fonte.

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