“O Governo do PSD, namorado pela extrema-direita, veio explicar que vai ter mão firme contra os pirómanos e resolver os incêndios com mais polícia. Depois do governo PS ter explicado em Pedrógão que a culpa era do mato e que ia resolver tudo com uma máquina de cortar mato. Só há uma palavra proibida – eucalipto. Digam comigo: não se pode dizer a palavra eucalipto.
Terá passado despercebido do governo, já que de nós cidadãos não, que só ardeu eucalipto porque não há mais nada para arder. Que o eucalipto é o pirómano, o criminoso, que joga novos fogos a km de distância. E que a polícia não estava lá para cumprir os mínimos de segurança, encerrando estradas. São centenas as imagens de estradas e auto-estradas a arder e que se não fosse o google maps e o Waze, e a desobediência das pessoas, teríamos provavelmente um drama ainda pior do que o de Pedrogão. As imagens são dos carros a ser abandonados, a arder, são das pessoas a vir em sentido contrário em plena autoestrada a fugir, e nem um polícia se vê. Um!
Mas o Governo anuncia mais uma taskforce para mais polícias. Vou dizer-vos, com sinceridade, depois de um mês fora daqui, em silêncio, só a ver, fazer e falar de coisas bonitas, no meio de florestas lindas, que o que mais me incomoda é que a lógica do capitalismo – palavra proibida, como o eucalipto -, nos empurra todos os dias para falar de propostas absurdos, em debate com medíocres. De cada vez que procuramos dar um salto e pensar, somos empurrados pela ignorância alheia para baixo.
Queremos falar de um país com cidades pequenas, ligadas por comboio, redes de bicicleta ao longo de rios, agricultura biológica, parques naturais, floresta diversificada, e temos que responder a nada. Esse é um dos grandes truques deste sequestro intelectual que vivemos.
Estamos sempre a responder a nada. Não há um diagnóstico correto, uma ideia consistente, planeamento por anos de nada, já que o mercado, os accionistas, querem retorno a meses, sobra um caos e um terramoto de propaganda. TEDx em vez de política.
Um dia isto dá a volta, há muita gente farta, indignada, e que sabe planear e pensar o país, na educação, na saúde, no território, nos transportes. Parte do problema dos media, sem contraditório, é fazer-nos pensar que não há, perdemos assim a esperança. Mas há. São urgentes formas de jornais, que venham dos sindicatos e das comissões de trabalhadores, das associações, que abram uma nova esfera pública, que dê espaço, com contraditório, a quem pensa a sério o país e acredita nele.”
Raquel Varela, A Polícia e o Eucalipto.
Adenda:
“(…) Há dezenas de anos que ficamos à espera a ver o que acontece às matas, sobretudo de eucaliptos. Os governantes o que querem é que as tragédias não lhes retirem votos, que de resto tudo bem ! Alguns aparecem DEPOIS a capitalizar sobre os acontecimentos. E como nossa senhora não apaga fogos seguimos todos os anos o ritual dos alertas coloridos e ficamos a ver o que se vai passar. O autarca de sever do vouga relatou a sequência dos fogos na sua região, como eles surgiram. É de estarrecer !!! Lá atrás se as autoridades policiais tivessem agido investigando o mais pequeno incêndio e os tribunais penalizado os seus autores, hoje o panorama seria muito diferente. Mas não daria nem para negócios, nem para tresloucados, nem para aparições dos políticos de turno, consternados a prometer mundos e fundos, sabendo que mais depressa vão 250 milhões para os nazis e gatunos de kiev do que para trabalhos efectivos na NOSSA floresta. (…)” Oxisdaquestao.
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