sábado, 14 de setembro de 2024

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (17)

Em Encounter Between a Corncracker and an Eelskin, do Almanack de Davy Crockett de 1837, o ocupa rústico defende a sua rapariga das palavras escorregadias e sedutoras do comerciante da cidade. Almanaque de Davy Crockett de 1837, American Antiquarian Society, Worcester, Massachusetts.

“A ele [Andrew Jackson] faltava certamente a educação e o polido berço dos seus antecessores presidenciais. (...) No imaginário popular, Jackson era inseparável de uma paisagem selvagem e muitas vezes violenta. Após a sua célebre vitória na Batalha de Nova Orleães, em 1815, foi identificado como um “rústico verde” que tinha vencido o “invencível” inimigo britânico. Para outros, ele era o “Napoleão dos bosques”. A sua ascensão política fez-se através da violência, tendo chacinado a fação Red Stick da Nação Creek nos pântanos do Alabama em 1813-14, enquanto deixava centenas de soldados britânicos mortos nos pântanos de Nova Orleães em janeiro de 1815. (...) Jackson não parecia nem agia como um político convencional, o que era uma parte fundamental do seu atrativo. (...)

O seu temperamento impetuoso eausência de comportamento erudito marcaram-no para sempre. Um inimigo declarado disse-o da melhor forma: “Impetuoso nas conversas normais, compensa com juramentos o que lhe falta em argumentos.” Não sendo conhecido pelo seu raciocínio subtil, Jackson era direto nas suas opiniões e rápido a ressentir-se de quem discordasse dele. Os palavrões que gritava colocavam-no ao nível de soldados comuns e de malucos.

Em A Backwoodsman and a Squatter (1821), um satírico captou esses tipos da fronteira, gente conhecida por “escarranchar o maxilar e proferir um juramento furioso”. O estilo agressivo de Jackson, o seu recurso frequente a duelos e lutas de rua, os seus actos furiosos de retaliação pessoal e política pareciam enquadrar-se naquilo que um francês com simpatias jacksonianas descreveu como o “rude instinto de liberdade masculina” do ocidental. Segundo esse código, a independência vinha da eliminação de ameaças potenciais. A ameaça podia vir dos índios americanos, de ocupas rivais, de adversários políticos ou do que o “corn cracker” do Almanack de Davy Crockett, de 1837, descreveu como “pele de enguia” dos orientais que usavam palavras pomposas para conseguir o que queriam.”

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 119-121. Trad. OLima 2024.

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