sábado, 28 de setembro de 2024

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (25)

“Para os ansiosos comentadores sociais, o ‘orgulho de casta’ e o ‘orgulho de raça’ estavam a ser atacados, as velhas barreiras da defesa da ‘pureza de sangue’ e da ‘exclusividade social’ estavam a desaparecer em resultado de uma enxurrada de legislação republicana. As atenções viraram-se para as mulheres brancas. Já em 1867, começaram a formar-se sociedades secretas, como os Cavaleiros da Camélia Branca, que se organizaram pela primeira vez no Louisiana. Os membros juravam casar-se com uma mulher branca e concordavam em fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para impedir a ‘produção de uma descendência bastarda e degenerada’. Em 1868, Francis Blair Jr., o candidato democrata à vice-presidência, percorreu o país e fez da ameaça dos vira-latas uma das principais questões da campanha. No ano seguinte, o presidente do Supremo Tribunal da Geórgia, Joseph Brown, tomou uma decisão monumental. O ex-governador rebelde decidiu que os tribunais tinham o direito de dissolver todos os casamentos inter-raciais. A ‘miscigenação’ foi classificada com uniões incestuosas e casamentos entre idiotas, que o Estado já proibia. Ao gerar crianças ‘doentias e efeminadas’, insistia Brown, esses casamentos abomináveis ameaçavam ‘arrastar a raça superior para o nível da inferior’. Ele estava a repetir a definição estabelecida usada pelos criadores de animais para categorizar um mestiço. Ainda mais reveladora é a lógica eugénica de Brown: o Estado tinha agora o direito de regular a reprodução para evitar a contaminação da raça anglo-saxónica.”

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 183-184. Trad. OLima 2024.

Sem comentários: