quarta-feira, 4 de setembro de 2024

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (10)


“A expressão mais pura da filosofia reprodutiva de [Benjamin] Franklin surgiu na sua sátira de 1747 ‘O discurso de Miss Polly Baker’. Ao comparecer perante um juiz, Polly era considerada culpada de ter tido um filho ilegítimo pela quinta vez. Falando em sua própria defesa, Miss Baker descreveu-se como uma mulher trabalhadora: ‘Trouxe ao mundo cinco belas crianças, com o risco da minha vida; mantive-as bem com o meu próprio trabalho, sem sobrecarregar a cidade.’ A sua auto-confiança era reforçada pelo conhecimento do seu serviço patriótico. Ela tinha aumentado o ‘número de súbditos do rei, num país novo que realmente quer gente’. A mensagem era que ela devia ser elogiada e não castigada.

O apelo de Baker não era para si. Ela queria casar-se; queria mostrar a "Indústria, Frugalidade, Fertilidade, e Competência em Economia, pertencentes ao caráter de uma boa esposa’. Era culpa dela que os solteiros abundassem? Como poderia a sua ação ser considerada pecaminosa quando se olhava para a ‘obra admirável’ de Deus ao criar os seus belos filhos? Não tinha ela cumprido o seu dever mais elevado, ‘a primeira e grande ordem da Natureza e do Deus da Natureza, Crescei e Multiplicai-vos?’ Para Franklin, Deus e a natureza estavam do lado de Miss Baker, e leis tolas e sanções antiquadas da igreja do outro. Para reforçar o seu ponto de vista, acrescentou uma coda humorística: o juiz que ouviu o seu discurso ficou convencido e casou com ela no dia seguinte.

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, p 67. Trad. OLima 2024.

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