quarta-feira, 11 de setembro de 2024

BICO CALADO

  • Durante muitos anos vivi mesmo ao lado da prisão de Megiddo, no norte de Israel, onde o jornal israelita Haaretz publicou novas imagens de guardas israelitas a torturar palestinianos em massa. (...) Há várias prisões de grandes dimensões como Megiddo, no norte de Israel. É aí que os palestinianos vão parar depois de serem retirados das suas casas, muitas vezes a meio da noite. Israel e os media ocidentais dizem que estes palestinianos foram ‘detidos’, como se Israel estivesse a aplicar algum tipo de procedimento legal legítimo aos sujeitos oprimidos - ou melhor, aos objetos - da sua ocupação. Na verdade, estes palestinianos foram raptados. As prisões estão invariavelmente localizadas perto das principais estradas de Israel, presumivelmente porque os israelitas se senem tranquilos por saber que os palestinianos estão a ser presos em tão grande número. (Recorde-se que a transferência de prisioneiros do território ocupado para o território do ocupante é um crime de guerra). Mesmo antes das detenções em massa dos últimos 11 meses, a Autoridade Palestiniana calculava que 800.000 palestinianos - ou seja, 40% da população masculina - tinham passado algum tempo numa prisão israelita. Muitos nunca tinham sido acusados de qualquer crime e nunca tinham sido julgados. Não que isso faça alguma diferença - a taxa de condenação dos palestinianos nos tribunais militares de Israel é de quase 100%. Parece que não existe um palestiniano inocente. Pelo contrário, a prisão é uma espécie de rito de passagem aterrador que tem sido suportado por gerações de palestinianos, que lhes é exigido pela burocracia que gere o sistema de ocupação do apartheid israelita. A tortura, mesmo de crianças, tem sido uma rotina nestas prisões desde o início da ocupação, há quase 60 anos, como os grupos israelitas de defesa dos direitos humanos têm documentado regularmente. A prisão e a tortura de palestinianos servem vários objetivos para Israel. Esmaga o espírito dos palestinianos, individual e coletivamente. Traumatiza geração após geração, criando medo e desconfiança. E ajuda a recrutar uma grande classe de informadores e colaboradores palestinianos que trabalham secretamente com a polícia secreta israelita, o Shin Bet, para frustrar as operações de resistência palestiniana contra as forças de ocupação ilegais de Israel. Este tipo de resistência palestiniana, note-se, é especificamente permitido pelo direito internacional. Por outras palavras, aquilo que o Ocidente denuncia como ‘terrorismo’ é, de facto, legal, de acordo com os princípios que o Ocidente estabeleceu após a Segunda Guerra Mundial. Paradoxal, para dizer o mínimo. A humilhação e o trauma sistematicamente infligidos a estas centenas de milhares de palestinianos e à sociedade palestiniana em geral - e a total falta de preocupação da chamada ‘comunidade internacional’, ou, pior ainda, a sua cumplicidade - têm inevitavelmente alimentado o crescente extremismo religioso entre partes de uma sociedade palestiniana que já foi largamente secular. Se não há justiça, não há reparação a oferecer pelas instituições internacionais criadas por um Ocidente que tanto apregoa o seu secularismo como ostenta os seus valores cristãos, então, concluem os palestinianos, talvez possam encontrar justiça - ou pelo menos retribuição - não através de ‘negociações’ fúteis e manipuladas, mas através de um maior empenhamento na resistência violenta levada a cabo em nome do Islão. Isto explica o aparecimento do grupo Hamas no final da década de 1980 e o seu crescimento incessante em termos de popularidade. A militância islâmica sem remorsos do Hamas contrastava com o nacionalismo secular mais acomodatício da Fatah, há muito liderada por Mahmoud Abbas. O apoio ao Hamas era algo que Israel cultivava com todo o gosto. Compreendia que o islamismo desacreditaria a causa palestiniana aos olhos dos ocidentais e ligaria ainda mais o Ocidente a Israel. Mas o sistema de tortura de Israel - quer em prisões ‘normais’ como Megiddo, quer na gigantesca prisão a céu aberto que Israel fez de Gaza - também levou a uma determinação cada vez maior entre grupos como o Hamas de se libertarem através da violência. Se Israel não podia ser convencido, se só compreendia a espada, então era essa a linguagem que os palestinianos falariam a Israel. Foi precisamente esta a razão de ser das atrocidades de 7 de outubro. Se ficais horrorizados com o 7 de outubro, mas não estais mais horrorizados com o que Israel tem vindo a fazer aos palestinianos há mais de meio século nas suas prisões, então ou estais num estado de profunda ignorância - o que não surpreende, dada a falta de cobertura mediática do domínio despótico de Israel sobre os palestinianos - ou estais em profunda negação. Se não conseguis ver a relação causal entre os abusos bárbaros infligidos aos palestinianos, geração após geração, e os crimes cometidos em 7 de outubro, então não compreendeis a natureza humana. Não tendes consciência interior de como agiríeis se o vosso pai e o vosso avô tivessem sido torturados numa prisão israelita, um trauma transmitido através das famílias de forma pouco diferente da cor do cabelo ou da constituição física. As cenas filmadas em Megiddo. As imagens de homens emaciados, quebrados pelos espancamentos na prisão. O desaparecimento de centenas de médicos nas câmaras de tortura de Israel. O vídeo de um homem palestiniano a ser violadopor guardas prisionais israelitas. A constatação, por parte de organizações israelitas e internacionais, de que isto acontece sistematicamente. Estes horrores estão bem visíveis à nossa frente. Mas muitos de nós desviam o olhar, voltando ao pensamento mágico da nossa infância, em que, quando tapamos os olhos, o mundo desaparece. Os horrores do sistema prisional de Israel não são novos. Há décadas que se verificam. O que é novo é o facto de Israel ter intensificado os abusos. Agora, sente prazer nas atrocidades que antes escondia como um segredo obscuro. Israel está perdido. Está mergulhado num buraco negro e genocida. A questão é: ides deixar-vos sugar para o mesmo vazio? Ides continuar a tapar os olhos? Será que a tortura acaba só porque preferis não a ver? Jonathan Cook, As câmaras de tortura israelitas não são novas. Foram elas que provocaram a violência de 7 de outubroSubstack.
  • No primeiro dia do novo ano letivo, as crianças palestinianas de Hebron foram obrigadas a voltar para trás, a alterar o seu percurso escolar habitual e, de um modo geral, foram assediadas pelos soldados da ocupação israelita. Fonte, com vídeo.
Giacomo Cosua/MEM/NurPhoto via Getty Images
  • Adeptos italianos viraram as costas em sinal de protesto quando o hino nacional israelita foi tocado antes do jogo de ontem entre a Itália e Israel para a Liga das Nações da UEFA. A Itália venceu o jogo por 2-1 na Bozsik Arena, em Budapeste. O jogo foi transferido para a capital húngara devido a problemas de segurança em Israel. O município italiano de Udine, onde se realizará o próximo jogo entre as duas equipas, a 14 de outubro, já manifestou relutância em acolher o jogo devido a preocupações de segurança e sensibilidades políticas relacionadas com o ataque israelita à Palestina. Fonte
  • Macron escolhe para o seu primeiro ministro um chefe de gabinete implicado num caso de fraude fiscal envolvendo ‘otimização’ de impostos para o PSG. Quando se trata de poder, há uma frente e uma retaguarda. Muitas vezes, os ministros mudam, mas os “diretores de gabinete” permanecem: são os altos funcionários não eleitos, desconhecidos do público, que mantêm os ministérios a funcionar, orientam as decisões e calibram a linguagem, enquanto os seus ministros se contentam em aparecer nos media. Muitas vezes, estes indivíduos obscuros têm mais poder do que os próprios ministros. Fonte.
  • “Carmo Afonso foi saneada da última página do Público. Era uma das cronistas mais populares e nenhuma explicação foi dada, logo a mais óbvia permanece. Foi substituída por Pedro Adão e Silva, mais conforme à sabedoria convencional, a que não passa sem verberar contra “o populismo”. Por exemplo, até na TAP conseguiu convocar umas supostas “instrumentalizações populistas desastrosas”, mas sem dizer quem, quando ou porquê.  Mais importante, muito mais importante, desde que começou a escrever há meses na última página, Adão e Silva ainda não encontrou oportunidade para se debruçar sobre o genocídio em curso na Palestina, mas já escreveu várias vezes sobre Kamala Harris, incluindo sobre os seus gostos musicais. É uma das principais apoiantes do mortífero colonialismo sionista e já garantiu que vai persistir na linha de sempre dos EUA.” João Rodrigues, Com drama - Ladrões de bicicletas.
  • Mais de 180 bibliotecas públicas do Reino Unido fecharam ou foram entregues a voluntários desde 2016. Cerca de 2 000 postos de trabalho foram cortados e as zonas mais carenciadas tinham quatro vezes mais probabilidades de perder uma biblioteca do que as mais ricas. Fonte.
  • “Em Julho de 2020, a Nova Economia (Nova School of Business and Economics, a antiga Faculdade de Economia da Universidade Nova) encontrou-se na rara situação. A Revista Sábado – pela mão de Bruno Faria Lopes – reportava que os altos escalões da faculdade se sentiam incomodados com os artigos de opinião de Susana Peralta. As colunas desta docente no Público, que por vezes criticavam mecenas da instituição, como a EDP, não eram bem acolhidas. (…) Dias mais tarde, era a vez de Fernanda Câncio assinalar que o reitor da faculdade recebia centenas de milhares de euros do Santander, apesar de ter exclusividade com a faculdade. Se antes deste episódio, os seus críticos eram figuras abertamente de esquerda – o colunista Britânico Owen Jones apelidou-a de universidade do consenso – agora a Nova Economia passava a ter de lidar com fogo amigo. As críticas começaram a partir de personalidades como o economista Luís Aguiar-Conraria da Universidade do Minho, insuspeito de afinidades revolucionárias.” República das bananas, Substack.
  • A ex-diplomata norte-americana Victoria Nuland veio a público assumir que os EUA e os seus aliados disseram à Ucrânia para abandonar as conversações de paz de Istambul em março de 2022. Fonte.

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