“Para Ramiro, o dia 25 de abril de 1974 continuaria a ser «uma ferida na História». Combater os comunistas fora, desde sempre, a sua missão. «Gostava de ter sido ministro do Trabalho, para acabar de vez com as greves. No período das bombas, senti uma especial vontade de punir sindicalistas», confessara. Ele, sim, estivera na primeira linha da luta «durante um período muito difícil da pátria». «Prestei um serviço ao País», vangloriava-se, puxando pelos galões: «Devia mas é ser condecorado, porque fiz muito mais pela pátria do que muitos dos que são parlamentares. O que eu merecia era uma estátua.» Ele, afinal, sempre estivera certo. Os comunistas eram «um fantasma com pés de barro» e o País fez jus à luta «contra os comodistas e os oportunistas». Dali em diante, pedia que não o insultassem, se fizessem a fineza. «Não assumo o meu passado de bombista. Assumo o meu passado de revolucionário, talvez de características muito especiais. Mas bombista, não», reclamara. Aos seus feitos de outros tempos passaria a chamar «manobras de diversão». Com fins políticos, claro. «Evidentemente que de santo não tenho nada, não fui condenado por ir à missa duas vezes.» Mas considerava-se, para o bem e para o mal, o produto de uma época. «Fiz tudo de livre vontade e consciente do que estava a fazer. Quando eu tinha 30 anos, achava que os meios justificavam os fins. Não voltaria a atuar da mesma maneira, mas não estou arrependido.» Ramiro seguiu então o seu caminho. «Livremente.»”
Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 339-340.
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