White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (6)
"Para que a civilização se estabelecesse, Jamestown teria de ter o aspeto de uma aldeia inglesa normal, bem como esforços para promover bons hábitos entre a população. A colónia precisava de se libertar da sua imagem de colónia penal e de criar raízes mais sólidas. Precisava de mais do que tabaco. Precisava de manadas de gado, de campos de cultivo e de melhores relações entre patrões e empregados. Acima de tudo, precisava de muitas mulheres mais fáceis de gerir. (...)
Tudo o que se exigia das mulheres era que casassem. Esperava-se que os futuros maridos as comprassem, ou seja, que pagassem as despesas de passagem e as provisões. Cada mulher era avaliada em 70 quilos de tabaco, que foi o preciso preço exigido a Jane Dickenson para ela comprar a sua liberdade. Não surpreende, pois, que, com o seu valor calculado em tabaco, as mulheres da Virgínia fossem tratadas como mercadorias férteis. Vinham com testemunhos do seu caráter moral, impressionando os ‘lavradores industriosos’ de que não lhes estavam a vender uma má mercadoria. Um fazendeiro em particular escreveu que uma remessa anterior de fêmeas era ‘corrupta’, e ele esperava uma nova safra que fosse garantidamente saudável e favoravelmente disposta à reprodução. A carga de fêmeas era acompanhada de cerca de duzentas cabeças de gado, um lembrete de que o agricultor da Virgínia precisava de ambas as espécies de reprodutores para recuperar as suas raízes inglesas.”
Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 27-28. Trad. OLima 2024.
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