“No número de inverno de 1975/1976 da revista Foreign Policy, Tad Szulc, antigo correspondente internacional no New York Times, e repórter prestigiado pelas suas investigações sobre a preparação da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, escrevia: «No verão passado, a CIA teve largos contactos com grupos do Norte de Portugal, onde as sedes do Partido Comunista foram queimadas e destruídas por multidões enfurecidas. Não se sabe se os fundos da CIA foram canalizados para esses motins. Mas o que se sabe é que a CIA se infiltrou em algumas organizações conservadoras do Norte do País trabalhando diretamente com membros da Igreja Católica. Alguns dos contactos da CIA foram tratados em Washington através de emissários de Portugal», relatava o jornalista. O artigo vinha na sequência de um outro, publicado no Times de Nova Iorque, em setembro, no qual se garantia, recorrendo a quatro fontes em Washington, que a CIA transferira para o PS e outras organizações políticas vários milhões de dólares em cada um dos últimos meses. O trabalho acrescentava que as estruturas sindicais também estariam a ser usadas para conduzir dinheiro da agência de espionagem dos EUA para Portugal. A informação era fiável. Por essa altura, já havia decorrido, segundo um memorando desclassificado de 16 de setembro de 1975, um encontro entre Carlucci e altos funcionários dos ministérios dos Negócios Estrangeiros dos EUA, Alemanha Federal, Reino Unido e França. Nessa reunião secreta, Carlucci defendeu então a entrega de armas aos partidos democráticos ‘como contraponto à ajuda que o PCP estava a receber nesse campo da URSS (…). Talvez deva ser dada aos partidos moderados uma vantagem semelhante’, justificou.”
Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 161-162.
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