quarta-feira, 3 de julho de 2024

‘QUANDO PORTUGAL ARDEU’ 14


"Foi na tarde de 13 de julho de 1975 que Rio Maior deu o tiro de partida para o ‘Verão Quente’. O clube local disputava um amigável com o Vitória de Setúbal, para angariação de fundos. Meia cidade estava no jogo. De Alpiarça, Almeirim e redondezas eram esperados militantes e dirigentes do PCP para uma reunião no Grémio da Lavoura. No concelho fora posto a correr que o partido iria ocupar aquele organismo corporativo herdado do fascismo. Era boato, mas a crendice fora alimentada a rédea solta por relatos das ocupações a Sul. ‘Fomos de aldeia em aldeia, de porta em porta, mobilizar o povo contra os comunistas’, recorda Joaquim Nazaré Gomes, fundador da associação que, mais tarde, gerou a poderosa Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). Nela fez história José Manuel Casqueiro, antigo funcionário do Centro da Reforma Agrária. (…)

Onde uns viram um ‘espontâneo levantamento popular’, outros apontaram manobras ‘reacionárias’, alimentadas por caciques locais de direita e forças subversivas.

Na liça entraram paus, forquilhas e foices. As sedes do PCP e da Frente Socialista Popular (FSP), força política nascida de uma dissidência do PS, foram esventradas e o recheio queimado na rua. Os monárquicos do PPM louvaram o sucedido. As ações, escreveram em comunicado, eram formas de luta por ‘um Portugal verdadeiramente livre e próspero’."

Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 122-123.

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