domingo, 16 de junho de 2024

“QUANDO PORTUGAL ARDEU” 4

“Os primeiros serviços de informação da democracia sobressaltam-se com a contínua evasão de capitais. Uma das empresas apanhadas nos esquemas é a Agência Abreu: os clientes pagam uma volta ao Mundo, mas saem no primeiro destino e recebem o dinheiro restante já fora do País. A fuga de valores torna-se desporto nacional, praticado até pelos mais insuspeitos. A Nunciatura Apostólica, ‘embaixada’ do Vaticano, retira do País, por mala diplomática, 600 contos (quase 98 mil euros nos nossos dias). As representações da Itália e dos EUA seguem o exemplo. A família do industrial António Champalimaud recorre a formas mais prosaicas, com recheio de monta: a ex-mulher, Cristina de Mello, simula a ida a um casamento em Espanha. Veste-se para a ocasião e faz leite-creme para tentar salvar uma travessa da Companhia das Índias. Os militares mandam-na parar, sem detetar o estratagema. Remexem a sobremesa, mas não ficam a lamber os dedos.”

Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 59-60.

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