“Em 1975, no cerco ao Palácio de Cristal esteve, por exemplo, o ex-governante do PSD Agostinho Branquinho. À época, o dirigente social-democrata militava no MRPP, onde se radicalizara Durão Barroso, que viria a tornar-se primeiro ministro, apoiante fervoroso da segunda Guerra do Iraque, presidente da Comissão Europeia e, em 2016, chairman do grupo Goldman Sachs. (…)
Pedro Baptista, esse, era um líder na OCMLP, a organização que, a par das figuras ligadas ao jornal O Grito do Povo e outros movimentos, comandou as operações. ‘Fazer do Porto uma espécie de reduto onde a fauna e flora dos dirigentes reaças’ pudessem circular era, para ele, ‘totalmente insuportável’. Nas suas memórias, o antigo deputado do PS assume os créditos de desvario: ‘Todo o imenso trabalho de agitação, propaganda, mobilização e organização na região foi feito por nós, e quase só por nós’, vangloria-se, sem arrependimentos, mas disponível para os juízos da História. (…)
Entre aqueles que também se acercaram dos muros do Palácio estavam Ricardo Magalhães, secretário de Estado do Governo do PS em 2005, Marcelo Correia Ribeiro, ex-delegado da Secretaria de Estado da Cultura escolhido por Santana Lopes em pleno cavaquismo, ou José Manuel Dias da Fonseca, presidente da MDS, holding de corretagem do grupo Sonae e antigo administrador da Casa da Música. O ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, também passou por lá, mas mais tímido e distante. Então mero ‘jotinha’ social democrata, menor de idade, era um ‘mirone’ entre muitos, mas ‘em discordância com tudo o que estava a acontecer’. Mas nem tudo foi tão linear quanto pareceu. Do Minho vieram também seguidores ‘à paisana’ do PPD e do CDS, de militantes a pequenos industriais de fábricas de botões da Trofa, ajudar a virar carros dos congressistas e criar agitação ‘para culpar a esquerda’. O PCP tirou, à força e a tempo, alguns militantes mais excitados que se encontravam no local. O partido dera ordens para não se envolverem e, nos dias seguintes, condenou os acontecimentos. O PCP, garantira o secretário-geral Álvaro Cunhal, ‘não organizou, não participou e não apoiou as manifestações’. De nada valeu: a culpa ‘oficial’ pelo sucedido foi-lhe sempre debitada.”
Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 99-101.
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