segunda-feira, 22 de abril de 2024

REFLEXÃO: ÁGUA MAIS BARATA NO ALGARVE É ERRO CRASSO

O ex-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) Nuno Lacasta considera um erro crasso o tarifário da água no Algarve estar abaixo da média nacional, em plena situação de escassez hídrica.

As tarifas de água urbanas do Algarve são, em média, 15% a 17% inferiores à média nacional. Numa região de escassez [hídrica] (...), ter água mais barata do que em zonas de abundância é um erro de análise crasso”, disse o ex-presidente da APA, que deixou o cargo no final de janeiro, após cerca de 12 anos em funções. Nuno Lacasta falava num debate sobre a crise hídrica no Algarve promovido pela Ordem dos Economistas - Delegação Regional do Algarve, realizado em Faro.

Para o docente universitário e consultor em ambiente e sustentabilidade, manter os preços atualmente cobrados pelos serviços de abastecimento no setor urbano, que inclui o turismo, significa “dar um incentivo econó ico óbvio para as pessoas não pouparem água”. Segundo Nuno Lacasta, esta é uma de três “disfunções”, em termos económicos, que encontra na análise à temática da escassez de água no Algarve.

As outras duas disfunções passam pela existência dos segundos contadores, normalmente utilizados para rega de jardins ou enchimento de piscinas e que têm um tarifário mais favorável, e pela utilização de água potável na rega.

“Como é possível andarmos a gastar para rega água para beber”, questionou, acrescentando: “Andamos a gastar dinheiro dos nossos impostos para despoluir e para limpar a água para beber. E, no entanto, utilizamos esta água para regar espaços verdes ou lavar carros”.

Nuno Lacasta criticou ainda o nível de perdas de água no abastecimento público do Algarve, “entre 20% a 40%, dependente de cada município”, considerando que o país foi “complacente” com a situação e dormiu “à sombra da bananeira”, apesar do forte invest mento realizado no setor nas últimas décadas.

JN, 21abr2024.

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