quinta-feira, 21 de março de 2024

BICO CALADO

  • “(…) No milhão de eleitores do Chega, mistura-se quem está do lado do explorador e do explorado, há muito antigo emigrante ilegal que hoje ataca os imigrantes, e há quem grite contra a corrupção, mas que, como acontecia com Berlusconi em Itália, inveje o “empreendedorismo” de corruptor e corrompido. (…) Esta viragem à direita é tudo menos inédita. Lembremo-nos do que foram os anos 1980, a cultura furibundamente antirrevolucionária, anticomunista e antidescolonizadora (que defendia a continuidade da dominação colonial e racial), numa reação contra a herança do 25 de Abril, que, também então, deu vitórias eleitorais à AD (1979-83) e a Cavaco na sua fase hegemónica (1987-95). Os 54,7% que toda a direita juntou agora em Portugal (sem contar com a emigração) é inferior aos somatórios de 1987 (55,6%) e 1991 (57,3%), e superam por pouco os 52,5% de 2011, com Passos Coelho. Todas aquelas direitas foram um dia derrotadas. E estas sê-lo-ão também. Demorará tempo, custará, como sempre, muito trabalho e muita luta, mas essa é a tarefa de quem, nas esquerdas, nos sindicatos e nos movimentos sociais, saiba juntar politicamente os milhões de nós que queremos defender democracia, direito ao trabalho, à saúde e à educação pública e gratuitas, à habitação, e liberdade. Ou julgarão eles que o 25 de Abril caiu do céu?!" Manuel Loff, Barganha – Público 20mar2024.
  • “É evidente que temos de respeitar democraticamente um milhão e 109 mil votos que o partido de André Ventura recebeu, mas também devemos respeitar o facto de mais de 8 milhões de portugueses não terem votado nas ideias dele. Aceitar sem combate político vigoroso, intenso, sim, mas correto, decente e esclarecedor o crescimento das ideias do Chega mais perniciosas para o justo equilíbrio democrático português é desrespeitar a maioria dos portugueses - e, portanto, ceder às reivindicações do Chega mais corruptoras da arquitetura do Portugal constitucional é trair a vontade de 8 em cada 9 portugueses com capacidade eleitoral, é desrespeitar uma imensa maioria que não manifestou apoio a um partido que já prometeu “acabar com o regime”. O Chega deve ter todo o acesso ao poder político que a Constituição lhe dá e que a Justiça lhe permite - a grande votação que conquistou dá-lhe esse direito, mas não deve ter nem mais um milímetro para além desse espaço, e qualquer cedência para além disso, qualquer ato que amplifique, para lá do necessário e legítimo, a sua influência é, simplesmente, uma traição à maioria dos portugueses. Se Luís Montenegro o fizer não atraiçoa apenas uma promessa eleitoral, falseia o sentido de voto dos portugueses que o fizeram na AD, dos outros que votaram em todos os outros partidos menos no Chega, dos que votaram em branco ou dos abstencionistas: nenhum desses portugueses, 88% do universo eleitoral, manifestou-se no sentido de mudar o regime saído do 25 de Abril, ao contrário dos 12% de portugueses eleitores que votaram em André Ventura (e estou a presumir que todos eles querem isso, o que é muito discutível). O principal problema da política em Portugal não é, portanto, André Ventura, é a ineficácia do combate às suas ideias e às suas táticas políticas, é a cedência ao seu projeto - e aí a responsabilidade não é dele. (…) O principal problema político de Portugal não é André Ventura e o seu milhão e tal de votos. O principal problema político de Portugal é os restantes 8 milhões de portugueses que não votaram no partido que ele lidera não estarem convencidos de que o combate democrático ao Chega é uma questão vital, de sobrevivência, de viabilização de uma 'República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária' (...)" Pedro Tadeu, O principal problema é André Ventura? - DN 20mar2024.

  • O genro de Donald Trump, Jared Kushner, defendeu a limpeza étnica da Faixa de Gaza durante uma entrevista na Universidade de Harvard em 15 fevereiro de 2024. Contextualização e pormenores no Guardian.
  • "Já leu, ouviu e viu inúmeras histórias sobre a suposta interferência chinesa no Canadá, mas quantas vezes é que os media dominantes mencionaram a subversão canadiana noutros países? Não acredita que o Canadá faz isso? Eis alguns exemplos. Em 2004, os EUA, a França e o Canadá invadiram o país para derrubar o governo eleito do Haiti. A eleição de René Préval dois anos depois reverteu parcialmente o golpe, mas os EUA e o Canadá reafirmaram o seu controlo após o terramoto de 2010, intervindo para tornar Michel Martelly presidente. Este facto deu início a mais de uma década de governo do PHTK. Após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em meados de 2021, o Grupo Central liderado pelos EUA e pelo Canadá escolheu Ariel Henry para liderar o país, contra a vontade da sociedade civil. Um sinal da decadência política do Haiti é o facto de, em 2004, haver 7 000 funcionários em cargos eleitos, enquanto hoje não há nenhum. Na passada sexta-feira, o antigo presidente hondurenho Juan Orlando Hernandez (JOH) foi condenado por um júri de Nova Iorque por acusações de tráfico de droga. JOH tornou-se presidente depois de Ottawa ter apoiado tacitamente a destituição do presidente social-democrata Manuel Zelaya pelos militares. Antes da sua destituição em 2009, os funcionários canadianos criticaram Zelaya e, posteriormente, condenaram as suas tentativas de regressar ao país. Não tendo suspendido o seu programa de treino militar com as Honduras, o Canadá foi também o único grande doador das Honduras - o maior beneficiário da assistência canadiana na América Central. Seis meses mais tarde, Ottawa apoiou uma farsa eleitoral e a subsequente eleição de JOH, marcada por substanciais violações dos direitos humanos. JOH desafiou então a constituição hondurenha para se candidatar a um segundo mandato, que o Canadá apoiou. Há também uma ligação direta entre o golpe de Estado apoiado pelo Canadá em 2014 na Ucrânia e a invasão devastadora da Rússia. Ottawa desempenhou um papel significativo na desestabilização de Victor Yanukovich e na expulsão do presidente eleito. A expulsão de Yanukovich impulsionou a tomada da Crimeia por Moscovo e uma guerra civil no Leste, que a Rússia expandiu maciçamente há dois anos. Num episódio simbólico da influência e interferência canadianas, o primeiro-ministro do Peru, Alberto Otárola Peñaranda, interrompeu a sua viagem à conferência da Prospectors & Developers Association of Canada, em Toronto, na semana passada, para se demitir. Envolvido num escândalo de corrupção e casos amorosos, Peñaranda tornou-se primeiro-ministro após a destituição, em dezembro de 2022, do presidente Pedro Castillo. Ottawa apoiou o governo "usurpador" que suspendeu as liberdades civis e enviou tropas para as ruas. O embaixador do Canadá no Peru, Louis Marcotte, trabalhou arduamente para reforçar o apoio ao governo de substituição através de uma série de reuniões e declarações diplomáticas. A intervenção do Canadá para minar a democracia palestiniana também permitiu a campanha de massacre e fome em massa de Israel em Gaza. Depois de o Hamas ter vencido as eleições legislativas em 2006, o Canadá foi o primeiro país a impor sanções contra os palestinianos. O corte da ajuda e a recusa de Ottawa em reconhecer um governo de unidade palestiniano foram concebidos para semear a divisão na sociedade palestiniana. Contribuiu para estimular a luta entre o Hamas e a Fatah. Quando o Hamas assumiu o controlo de Gaza, Israel utilizou esse facto para justificar o seu cerco à faixa costeira de 360 Km2 e uma série de campanhas mortíferas que causaram a morte de 6.000 palestinianos antes de 7 de outubro. Embora os media tenham relatado as histórias acima referidas, recusam-se a discutir o papel negativo de Ottawa." Yves Engler, Por favor, ignorem a nossa subversão lá. Concentrem-se na 'interferência' deles aqui - Dissident Voice.
  • Guterres, a ONU, a força, a esperteza dos espertalhões e o direito. João Carlos Graça, Resistir.
  • Fraudes a fundos da UE já ultrapassaram 70 milhões de euros em três anos. Não há registo recente de um valor tão elevado em fraudes na obtenção de fundos europeus, como o que levou a mais de 80 buscas em todo o país, entre as quais às residências e escritórios de duas figuras públicas, o empresário Manuel Serrão e o jornalista da TVI Júlio Magalhães, além de Nuno Mangas, presidente do COMPETE, o organismo do Governo que gere estes apoios. DN 20mar2024.

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