quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

BICO CALADO

Foto: SWNS/Lesley Marshall

  • Desde 2017, para a Autoridade Tributária e Aduaneira limpar as suas instalações é uma "urgência imperiosa" que resulta da sujidade causada pelos seus funcionários e contribuintes, algo classificado como "acontecimentos imprevisíveis". Com este esdrúxulo argumento tem-se justificado cerca de duas dezenas de contratos de 'mão-beijada' sempre à mesma empresa, a francesa Samsic. O mais recente contrato por ajuste directo foi celebrado na passada sexta-feira, pelo valor de 928.016,85  euros, que com IVA se transforma em 1.141.460,73 euros, e abrange serviços que começaram já em Outubro e se finalizam no próximo domingo. Ou seja, como em casos anteriores, a Autoridade Tributária e Aduaneira aceitou o início da prestação de serviços por uma empresa sem existir um contrato a suportá-lo, corrigindo a ilegalidade poucos dias antes do termo dessa aquisição.” P1.
  • Uma semana depois de suspender as entregas, a unidade Daihatsu da Toyota fechou as linhas de produção nas suas 4 fábricas no Japão. A medida ocorre depois que foi revelado que a empresa falsificou testes de segurança em mais de 64 modelos e três motores de veículos, incluindo 22 modelos e um motor vendido pela Toyota. Os modelos afetados incluem alguns da Mazda e Subaru vendidos no Japão, bem como modelos da Toyota e Daihatsu vendidos em todo o mundo. MWM.
  • “(...) Feitas as devidas proporções de tempo e população total, por cada ucraniano morto morreram já 246 palestinianos em Gaza. Parecem poucos? Para Biden, Von der Leyen (ou para António Costa), quanto custa uma vida palestiniana? Quanto custa a vida de milhares de crianças, das centenas de profissionais de saúde, jornalistas, trabalhadores e voluntários das agências das Nações Unidas e das ONG humanitárias que, todos os dias, as bombas do ocupante israelita eliminam com, até agora, total impunidade? Face a todas as provas de um genocídio em curso contra um povo sujeito a ocupação, nenhum governo da NATO ou da UE impôs sanções a Israel (que viola o direito internacional há 75 anos e ocupa ilegalmente territórios palestinianos há 56) como impôs à Rússia ao fi m de horas da invasão de território ucraniano. Não se abriram de par em par fronteiras para acolher refugiados palestinianos como se abriram para milhões de ucranianos, não se romperam relações comerciais, não se montou esquema algum de boicote cultural contra Israel como, de forma precipitada e desproporcionada, se montou contra escritores, artistas ou orquestras russas – pelo contrário, a campanha de boicote (BDS) que desde há anos está organizada contra a ocupação israelita é criminalizada em vários estados ocidentais (EUA, Alemanha) por ser “antissemita”! Gaza ilumina com uma luz muito crua a nossa visão ocidentalista, preconceituosa, supremacista, do mundo e de quem o habita. Podem os israelitas matar, sequestrar (prender sem acusação nem julgamento é o quê?), violar todos os dias direitos humanos, que os Estados NATO não deixam de lhes fornecer, desde há décadas, apoio militar. Se se aplicasse a mesma retórica que se aplica na Ucrânia, não deveriam os mesmos Estados enviar armas para apoiar os palestinianos e o seu direito à autodeterminação, reconhecido em todos os tratados e resoluções das Nações Unidas? (...)” Manuel Loff, O gueto está a ser liquidado – Público 27dez2023.

  • “Em 1946, o escritor e ativista Carey McWilliams sugeriu que os mexicanos nos Estados Unidos "não eram realmente imigrantes; eles pertencem ao Sudoeste". Afinal, explicou McWilliams, grande parte do Oeste americano, incluindo os estados da Califórnia, Texas, Colorado, Arizona, Novo México, Utah e Nevada, tinha pertencido ao México até a Guerra Mexicano-Americana ter redesenhado as fronteiras internacionais de ambas as nações. Após a vitória dos EUA em 1848, o Tratado de Guadalupe Hidalgo prometeu que os setenta e cinco mil a cem mil mexicanos que já se encontravam no Sudoeste receberiam "todos os direitos dos cidadãos dos Estados Unidos", incluindo a cidadania. Mas, embora os mexicanos tivessem recebido esses privilégios de brancura por lei, estavam longe de ser iguais. Apesar de "pertencerem" ao Sudoeste, os mexicanos tornaram-se "estrangeiros na sua terra natal" depois de os americanos terem anexado a região na sequência da vitória dos Estados Unidos. As garantias constitucionais oferecidas pelo Tratado de Guadalupe Hidalgo não foram respeitadas e muitos mexicanos perderam as suas terras por meios legais e ilegais. A sua brancura foi posta em causa e um novo sistema de segregação racial "Juan Crow" foi institucionalizado no Sudoeste. No início do século XX, havia bairros, escolas, lojas, restaurantes, barbearias e teatros mexicanos separados. Alguns mexicanos foram até privados de direitos. Erika Lee, America for Americans – a history of xenophobia in the United States. Basic Books/Hachette 2021, pp 149-150.

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