À medida que a guerra continua em Gaza, o Líbano também é alvo. Os bombardeamentos israelitas com armas químicas incendiaram milhares de hectares de campos e florestas. Em Alma al-Chaab, uma aldeia libanesa na fronteira com Israel, os jardins floridos das casas foram reduzidos a cinzas fumegantes. E 45 mil hectares de terra foram queimados num único dia. “Israel está deliberadamente ateando fogo aos nossos campos de oliveiras, abacateiros, laranjeiras… É uma nova tática que visa os civis sem matá-los diretamente”, denuncia Dom Maroun, sacerdote da aldeia predominantemente cristã. Já restam apenas 80 pessoas em 1.000, Israel quer que saiamos. » Quase 30.000 civis já fugiram do Sul, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações.
Bombas de fósforo branco foram usadas para queimar mais de 40.000 oliveiras no sul do Líbano, no auge da temporada de colheita da azeitona. O governo libanês apresentará uma queixa às Nações Unidas “para protestar contra a brutalidade do inimigo e a sua violação do direito internacional e da soberania do Líbano”. A Amnistia Internacional e a Human Rights Watch confirmaram o uso de bombas de fósforo branco pelos militares israelitas.
A sua utilização em civis é estritamente proibida pelo
direito internacional. “Em contato com o oxigénio, o fósforo branco queima tudo
o que toca a 850°C”, explica Abbas Baalbaki, investigador ambiental. O gás é
altamente tóxico para os seres humanos e pode causar queimaduras graves no
trato respiratório e na pele. O fósforo branco também é extremamente
inflamável, representando um risco para as terras agrícolas e a vegetação
local. Estas bombas, se não pegarem fogo imediatamente, podem ser ativadas décadas
depois, ao menor movimento, diz Abbas Baalbaki. “O ambiente fica assim poluído
com substâncias químicas até setenta anos depois, contaminando toda a cadeia
alimentar, a terra e os rios”, alerta o ativista.
“É uma forma de ‘violência lenta’ que não afeta
diretamente o corpo físico das pessoas, mas sim o ar que respiram, a água que
bebem e o ambiente em que vivem’, explica Ahmad Beydoun, estudante de
doutoramento na Universidade Técnica de Delft, na Holanda, que estuda a
militarização ambiental no Médio Oriente.
No caso de Israel, o investigador identifica uma
genealogia clara da ‘Nakba”’(‘catástrofe’, ou exílio forçado dos palestinianos)
de 1948 até ao presente. ‘Já naquela época, o exército israelense envenenava a
água dos poços na Palestina para forçar a saída dos nativos. A ideia de queimar
vegetação é nova, mas não surpreende: é uma tática social que contribui para o
despovoamento da região’, explica.
Para Abbas Baalbaki, o activista ambiental dos Sulistas
Verdes, esta dimensão ambiental do conflito é indiscutível: “Israel compreendeu
que os habitantes do Sul do Líbano valorizam muito as suas terras e que alguns
nunca as abandonarão. Então ele tem como alvo essa mesma identidade e tenta
causar o máximo de dano possível. Ninguém quer viver num campo de ruínas
fumegantes.’
Nada de novo para o ambiente do sul do Líbano, que há
muitos anos sofre com a guerra com o seu vizinho: durante a guerra de Julho de
2006 entre o Hezbollah e Israel, um derrame de petróleo envenenou as praias de
areia fina do sul, local de nidificação de tartarugas; um medo renovado hoje.
As minas terrestres das guerras recentes ainda estão escondidas ao longo da
fronteira, representando um grave perigo para o gado, a vida selvagem e os
agricultores.
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