Bico calado
- “(...) Depois de Israel ter declarado guerra em resposta
ao facto de o Hamas ter matado mais de 1.400 israelitas e feito cerca de 200
reféns, as cotações dos principais aproveitadores da guerra americanos e
europeus dispararam. Uma reportagem do Eyes on the Ties – o site de notícias da LittleSis e da Public
Accountability Initiative – tem como alvo cinco empresas norte-americanas com
histórico de fornecimento de armamento a Israel. A reportagem sublinha que, ao
anunciar um pedido de financiamento suplementar que inclui US$ 14,3 bilhões para Israel, Joe Biden invocou 'trabalhadores americanos patrióticos' que estão
'construindo o arsenal da democracia e servindo a causa da liberdade', mas são
os CEOs das empresas de armamento que arrecadam dezenas de milhões por ano, e
acionistas de Wall Street, que são os verdadeiros beneficiários do belicismo. Eis os 5 gigantes da indústria visados que registaram coletivamente US$ 196,5 bilhões em receitas militares em
2022: Boeing (US$ 30,8 bilhões), General Dynamics (US$ 30,4 bilhões), Lockheed
Martin (US$ 63,3 bilhões), Northrop Grumman (US$ 32,4 bilhões) e RTX,
anteriormente Raytheon (US$ 39,6 bilhões). Os principais acionistas
destas 5 empresas de defesa consistem em grande parte em grandes gestores de
ativos, ou grandes bancos com alas de gestão de ativos, que incluem BlackRock,
Vanguard, State Street, Fidelity, Capital Group, Wellington, JPMorgan Chase, Morgan
Stanley, Newport Trust Company, Longview Asset Management, Massachusetts
Financial Services Company, Geode Capital e Bank of America.” Jessica Corbett,
Common Dreams.
- “(...) O que caracteriza o ataque atómico dos Estados
Unidos ao Japão é a desproporção dos meios utilizados, a sua desumanidade, o
desprezo pelas populações, pelas consequências, a invocação de um hipócrita
direito de defesa, o objetivo de domínio de um território, de eliminação de
qualquer oposição, de demonstração de força a vizinhos e à comunidade
internacional. O ataque de Israel a Gaza segue linha a linha a narrativa
utilizada pelo Estados Unidos para justificar o ataque nuclear. Não se trata de
facto, de nenhuma ação de defesa de Israel. Israel possui o mais poderoso
aparelho militar da região — eufemisticamente designado por Forças de Defesa! —
e o apoio do maior aparelho militar planetário, o dos Estados Unidos, com o seu
hegemónico sistema de alta tecnologia espacial. (...) Quando os chefes de
Israel falam do Hamas como ameaça estão a ofender a inteligência das pessoas
comuns e estão-se a desconsiderar a si mesmo: o Exército de Israel teme o
Hamas? Os dirigentes políticos de Israel consideram que o Hamas pode destruir o
Estado de Israel? (…) Outra falácia é a de Israel ser a única “democracia” da
região! Uma democracia de apartheid religioso! Os defensores desta tese
entendem que um genocídio cometido por uma “democracia” é diferente de um
genocídio praticado por uma ditadura. Os mortos que os distingam. Também foi um
estado democrático, os EUA, que lançou as bombas atómicas. Já agora, também foi
outro estado democrático, um exemplo para o mundo, a Inglaterra, o responsável
pelo maior genocídio reconhecido do século dezanove, o de 60 milhões de
africanos que o inglês Cecil Rhodes eliminou na África Austral. Este inglês
muito inteligente e ambicioso era, tal como os atuais dirigentes israelitas, um
racista religioso e justiçava a eliminação de outros povos com a superioridade
do homem branco, tal como o regime de Israel justifica a eliminação de não
judeus, em particular de palestinianos. Descreveu o pensamento que justificou o
genocídio no seu testamento (Last Will and Testament): “Considerei a existência
de Deus e conclui que há uma boa hipótese de ele existir. Se for verdade, deve
ter um plano. Portanto, se devo servir a Deus, preciso descobrir o plano e
fazer o melhor possível para o ajudar a executá-lo. Como descobrir o plano? Em
primeiro lugar procurar a raça que Deus escolheu para ser o instrumento divino
da futura evolução. Inquestionavelmente, é a raça branca… Devotarei o resto da
minha vida ao propósito de Deus e a ajudá-lo a tornar o mundo inglês”. Os
dirigentes de Israel, dos Estados Unidos e da Europa, o dito Ocidente Alargado,
habitado pelo “homem banco”, cristão e judaico, seguem os mesmos princípios
religiosos de Cecil Rhodes. Gaza, tal como a África, tal como Hiroshima e
Nagasaki, são apenas territórios de seres sub-humanos que podem ser eliminados
como qualquer espécie inferior. Contra eles o homem ocidental pode lançar as
suas mais destruidoras armas e os seus mais ferozes animais de ataque. O facto
de vivermos, no Ocidente, em regimes de representação através do voto,
torna-nos a todos cúmplices do genocídio do colonialismo, da bomba atómica e
agora de Gaza.” Carlos Matos Gomes, Em Gaza, como em Hiroshima e como no
colonialismo - Medium.
- “(...) Os movimentos coloniais de colonos distinguem-se
do colonialismo padrão – como o domínio britânico na Índia – pelo facto de a
população colonizadora desejar não apenas roubar os recursos da população
nativa, mas também substituir a própria população nativa. Há muitos exemplos
disto: os colonos europeus desapropriaram povos nativos no que hoje chamamos de
Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo. A definição de
genocídio no direito internacional descreve exatamente o que aqueles europeus
fizeram à população local: assassinatos em massa; aplicação de condições
calculadas para provocar a destruição física de toda ou parte da comunidade
nativa; prevenção de nascimentos na população local; e transferência forçada de
crianças nativas para a população colona. Os colonos europeus que hoje se
autodenominam americanos, canadianos, australianos e neozelandeses nunca
tiveram de responder pelos seus crimes contra esses povos nativos. O que
possivelmente explica porque é que os países europeus e os seus colonos
coloniais estão hoje a alinhar-se contra o resto do mundo para apoiar Israel à
medida que este intensifica o genocídio industrial em Gaza. A verdade é que a
ordem mundial “ocidental” foi construída sobre o genocídio. Israel está apenas
seguindo uma longa tradição. (…) No atual ataque a Gaza, está a implementar um
modelo misto: genocídio para aqueles que permanecem em Gaza, limpeza étnica
para aqueles que conseguem sair (assumindo que o Egipto finalmente ceda e abra
as suas fronteiras). (...)” Jonathan Cook, With Hamas gone, Gaza still wouldn't
be free (A eliminação do Hamas não fará Gaza livre)
- Há 6 mentiras que as corporações contam desde sempre, e o
novo livro de Nick Hanauer, Joan Walsh e Donald Cohen Corporate Bullshit:
Exposing the Lies and Half-Truths That Protect Profit, Power, and Wealth in
America (Tretas corporativas: denunciando as mentiras e meias-verdades que
protegem o lucro, o poder e a riqueza na América) fornece uma taxonomia
essencial disso: Negação pura, Os mercados podem resolver problemas, os
governos não, Os consumidores e os trabalhadores são os culpados, As curas do
governo são sempre piores que a doença, Ajudar as pessoas só as prejudica e
Todos os que discordam de mim são socialistas. Via Cory Doctorow.
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