domingo, 29 de outubro de 2023

Bico calado

  • “(...) Depois de Israel ter declarado guerra em resposta ao facto de o Hamas ter matado mais de 1.400 israelitas e feito cerca de 200 reféns, as cotações dos principais aproveitadores da guerra americanos e europeus dispararam. Uma reportagem do Eyes on the Ties – o site de notícias da LittleSis e da Public Accountability Initiative – tem como alvo cinco empresas norte-americanas com histórico de fornecimento de armamento a Israel. A reportagem sublinha que, ao anunciar um pedido de financiamento suplementar que inclui US$ 14,3 bilhões para Israel, Joe Biden invocou 'trabalhadores americanos patrióticos' que estão 'construindo o arsenal da democracia e servindo a causa da liberdade', mas são os CEOs das empresas de armamento que arrecadam dezenas de milhões por ano, e acionistas de Wall Street, que são os verdadeiros beneficiários do belicismo. Eis os 5 gigantes da indústria visados ​​que registaram coletivamente US$ 196,5 bilhões em receitas militares em 2022: Boeing (US$ 30,8 bilhões), General Dynamics (US$ 30,4 bilhões), Lockheed Martin (US$ 63,3 bilhões), Northrop Grumman (US$ 32,4 bilhões) e RTX, anteriormente Raytheon (US$ 39,6 bilhões). Os principais acionistas destas 5 empresas de defesa consistem em grande parte em grandes gestores de ativos, ou grandes bancos com alas de gestão de ativos, que incluem BlackRock, Vanguard, State Street, Fidelity, Capital Group, Wellington, JPMorgan Chase, Morgan Stanley, Newport Trust Company, Longview Asset Management, Massachusetts Financial Services Company, Geode Capital e Bank of America.” Jessica Corbett, Common Dreams.

  • “(...) O que caracteriza o ataque atómico dos Estados Unidos ao Japão é a desproporção dos meios utilizados, a sua desumanidade, o desprezo pelas populações, pelas consequências, a invocação de um hipócrita direito de defesa, o objetivo de domínio de um território, de eliminação de qualquer oposição, de demonstração de força a vizinhos e à comunidade internacional. O ataque de Israel a Gaza segue linha a linha a narrativa utilizada pelo Estados Unidos para justificar o ataque nuclear. Não se trata de facto, de nenhuma ação de defesa de Israel. Israel possui o mais poderoso aparelho militar da região — eufemisticamente designado por Forças de Defesa! — e o apoio do maior aparelho militar planetário, o dos Estados Unidos, com o seu hegemónico sistema de alta tecnologia espacial. (...) Quando os chefes de Israel falam do Hamas como ameaça estão a ofender a inteligência das pessoas comuns e estão-se a desconsiderar a si mesmo: o Exército de Israel teme o Hamas? Os dirigentes políticos de Israel consideram que o Hamas pode destruir o Estado de Israel? (…) Outra falácia é a de Israel ser a única “democracia” da região! Uma democracia de apartheid religioso! Os defensores desta tese entendem que um genocídio cometido por uma “democracia” é diferente de um genocídio praticado por uma ditadura. Os mortos que os distingam. Também foi um estado democrático, os EUA, que lançou as bombas atómicas. Já agora, também foi outro estado democrático, um exemplo para o mundo, a Inglaterra, o responsável pelo maior genocídio reconhecido do século dezanove, o de 60 milhões de africanos que o inglês Cecil Rhodes eliminou na África Austral. Este inglês muito inteligente e ambicioso era, tal como os atuais dirigentes israelitas, um racista religioso e justiçava a eliminação de outros povos com a superioridade do homem branco, tal como o regime de Israel justifica a eliminação de não judeus, em particular de palestinianos. Descreveu o pensamento que justificou o genocídio no seu testamento (Last Will and Testament): “Considerei a existência de Deus e conclui que há uma boa hipótese de ele existir. Se for verdade, deve ter um plano. Portanto, se devo servir a Deus, preciso descobrir o plano e fazer o melhor possível para o ajudar a executá-lo. Como descobrir o plano? Em primeiro lugar procurar a raça que Deus escolheu para ser o instrumento divino da futura evolução. Inquestionavelmente, é a raça branca… Devotarei o resto da minha vida ao propósito de Deus e a ajudá-lo a tornar o mundo inglês”. Os dirigentes de Israel, dos Estados Unidos e da Europa, o dito Ocidente Alargado, habitado pelo “homem banco”, cristão e judaico, seguem os mesmos princípios religiosos de Cecil Rhodes. Gaza, tal como a África, tal como Hiroshima e Nagasaki, são apenas territórios de seres sub-humanos que podem ser eliminados como qualquer espécie inferior. Contra eles o homem ocidental pode lançar as suas mais destruidoras armas e os seus mais ferozes animais de ataque. O facto de vivermos, no Ocidente, em regimes de representação através do voto, torna-nos a todos cúmplices do genocídio do colonialismo, da bomba atómica e agora de Gaza.” Carlos Matos Gomes, Em Gaza, como em Hiroshima e como no colonialismo - Medium.
  • “(...) Os movimentos coloniais de colonos distinguem-se do colonialismo padrão – como o domínio britânico na Índia – pelo facto de a população colonizadora desejar não apenas roubar os recursos da população nativa, mas também substituir a própria população nativa. Há muitos exemplos disto: os colonos europeus desapropriaram povos nativos no que hoje chamamos de Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo. A definição de genocídio no direito internacional descreve exatamente o que aqueles europeus fizeram à população local: assassinatos em massa; aplicação de condições calculadas para provocar a destruição física de toda ou parte da comunidade nativa; prevenção de nascimentos na população local; e transferência forçada de crianças nativas para a população colona. Os colonos europeus que hoje se autodenominam americanos, canadianos, australianos e neozelandeses nunca tiveram de responder pelos seus crimes contra esses povos nativos. O que possivelmente explica porque é que os países europeus e os seus colonos coloniais estão hoje a alinhar-se contra o resto do mundo para apoiar Israel à medida que este intensifica o genocídio industrial em Gaza. A verdade é que a ordem mundial “ocidental” foi construída sobre o genocídio. Israel está apenas seguindo uma longa tradição. (…) No atual ataque a Gaza, está a implementar um modelo misto: genocídio para aqueles que permanecem em Gaza, limpeza étnica para aqueles que conseguem sair (assumindo que o Egipto finalmente ceda e abra as suas fronteiras). (...)” Jonathan Cook, With Hamas gone, Gaza still wouldn't be free (A eliminação do Hamas não fará Gaza livre)
  • Há 6 mentiras que as corporações contam desde sempre, e o novo livro de Nick Hanauer, Joan Walsh e Donald Cohen Corporate Bullshit: Exposing the Lies and Half-Truths That Protect Profit, Power, and Wealth in America (Tretas corporativas: denunciando as mentiras e meias-verdades que protegem o lucro, o poder e a riqueza na América) fornece uma taxonomia essencial disso: Negação pura, Os mercados podem resolver problemas, os governos não, Os consumidores e os trabalhadores são os culpados, As curas do governo são sempre piores que a doença, Ajudar as pessoas só as prejudica e Todos os que discordam de mim são socialistas. Via Cory Doctorow.

Sem comentários: