quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Bico calado

  • O artista indignado com os custos envolvidos na Jornada Mundial da Juventude não se pode queixar da generosidade das entidades públicas. Só em ajustes directos, Bordalo II angariou já 27 contratos públicos, incluindo de 15 municípios, diversas empresas públicas, a Presidência do Conselho de Ministros e até universidades. Só na zona do Parque das Nações, onde ontem desenrolou um tapete de notas falsas, recebeu já duas encomendas públicas por ajuste directo em valores acima de 100 mil euros. Mas isto é uma gota de água. Bordalo II tem facturado freneticamente. Nos últimos três anos, a sua Mundofrenético encaixou mais de 3,4 milhões de euros. O PÁGINA UM foi ver em quanto isso dava em tapete de notas verdadeiras. (...) Assim, considerando que uma nota real de 500 euros – e não a dezena de notas falsas desenroladas ontem – tem uma dimensão de 160 por 82 milímetros, Bordalo II teria capacidade de compor um lustroso tapete gigantesco se usasse 6.808 notas verdadeiras de 500 euros correspondentes sensivelmente à sua facturação de 3,4 milhões de euros dos últimos três anos. Bastaria dispor lotes de 10 notas de 500 euros, lado a lado, para ter uma largura de 82 centímetros, e depois replicar longitudinalmente. Ficaria com um tapete de quase 110 metros. Mas se Bordalo II preferisse usar notas de 10 euros – com uma dimensão de 127 por 67 milímetros –, então aí um tapete de cerca de 80 centímetros de largura (formado por 12 notas) estender-se-ia por mais de 3.600 metros. (...)”
  • “(...) Pode-se dizer que os artistas “famosos” já não precisam do Estado para nada; e que, por vezes, é o contrário; quantas vezes não vemos políticos colarem-se e desejarem ver os artistas colarem-se à sua ideologia e às suas campanhas eleitorais. Pelam-se por isso. E sabemos também que há artistas que aceitam as contínuas benesses do Estado, acabando por se tornarem reféns (por vezes com fama e proveito) de uma concepção de “Arte do Regime”. Mas aí, terminado o efeito, será a própria qualidade das suas Artes que, mais tarde ou mais cedo (mesmo depois das suas existências), será posta em causa. Será que era bom ou foi bom por causa dos amparos políticos? – eis a magna questão. (...) Na verdade, a Arte constitui um elemento vital da nossa identidade e da expressão cultural, que nos conecta, nos inspira e nos desafia a olhar o Mundo sob diferentes perspectivas. Por isso, a criatividade deve ser, assim, fomentada e encorajada para que novos talentos, que queiram quebrar barreiras, possam emergir e contribuir para a riqueza artística de um país. Daí o problema das escolhas imediatas e directas. Toda a Arte escolhida por uma entidade pública sem critérios, nem abertura absoluta a candidatos, não é Arte; é Frete. (...) ver um artista como Bordalo II – que deseja impor-se como uma voz dissidente e com concepções diferentes no uso de materiais como discurso estético e social – a beneficiar de 27 contratos por ajuste directo não se “ajusta” bem à sua mensagem. Não cola. Não há cola consistente para segurar as suas críticas ao sistema. Soam a falso.(…)” Página Um.
  • A OCDE exerceu forte pressão para impedir a Austrália de aprovar legislação que teria proporcionado o maior avanço de transparência até agora sobre os impostos das empresas multinacionais. A tentativa deliberada da OCDE de bloquear o progresso no combate aos paraísos fiscais terá implicações significativas para a próxima votação na Assembleia Geral da ONU sobre o início de negociações formais que poderiam transferir a liderança em matéria de impostos globais da OCDE para as Nações Unidas. Mark Bou Mansour, TJN.
  • Economistas de renome da ICRICT (Comissão Independente para a Reforma da Tributação Internacional das Empresas) criticaram o FMI (Fundo Monetário Internacional) por abusar do seu papel nas renegociações da dívida para forçar os países a adotarem regras fiscais da OCDE – regras que a própria pesquisa do FMI mostra que tornariam mais difícil para os países pobres aumentar os impostos necessários. TJN.
  • A estratégia da UE visa externalizar as suas fronteiras e repelir os migrantes considerados indesejáveis. Os fundos da UE não se destinam a garantir direitos ou ajuda humanitária, mas principalmente a assegurar o financiamento da polícia de fronteiras. De acordo com o Fórum Tunisino para os Direitos Económicos e Sociais (FTDES), o resultado é que o acordo promove a Tunísia de ‘polícia de fronteiras’ europeia para ‘guarda prisional’ europeu. Sami Adouani e Robin Frisch, IPS.
  • A empresa de camiões Yellow entra em falência e deixa 30 mil desempregados. Cairnsnews.
  • O blogueiro chileno-americano Gonzalo Lira, que foi preso pela secreta ucraniana em maio pelas suas supostas simpatias pró-Rússia, reapareceu online para partilhar um relato angustiante de suas experiências enquanto aguardava um julgamento. Numa série de 25 tuítes postados na noite de segunda-feira, Lira revelou que foi submetido a espancamentos e extorsão durante a sua prisão preventiva. ANR.
  • A Grã-Bretanha considerava Israel uma ameaça maior do que a URSS em 1945. Richard Medhurst. A propósito da colocação de uma lápide no Kind David Hotel comemorando o ato bombista, terrorista dos israelitas do Irgun em 22 de julho de 1946. Todo o contexto na versão em língua inglesa da Wikipedia. A versão portuguesa é inexplicavelmente truncada.

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