quinta-feira, 18 de maio de 2023

Agrotóxicos: um "Atlas" global expõe o desastre

Um AtlasMundialagora publicado, expõe uma série de dados sobre esses produtos tóxicos. As mulheres são vítimas inocentes do uso de agrotóxicos no mundo.

Principais dados:

1 — O consumo de pesticidas no mundo aumentou 80% desde 1990

A União Europeia gostaria de reduzir o consumo de agrotóxicos para metade até 2030. Em França, o plano Écophyto tinha esse objetivo. Mas tanto em França como na União Europeia, o consumo está estagnado em vez de cair. Em outras partes do mundo, determinados continentes concentram o aumento do consumo. Na América Latina, mais que dobrou (+119%) entre 1999 e 2020. No mesmo período, a África aumentou o seu consumo em 67%. A União Europeia garante a proibição dos pesticidas mais perigosos. No entanto, isso não a impede de continuar a fabricá-los no seu território e exportá-los. O Reino Unido, a Alemanha e a Itália são os três maiores exportadores desses pesticidas proibidos na Europa por serem muito perigosos. Eles são vendidos principalmente no Brasil, Ucrânia e África do Sul. Enquanto 195 pesticidas considerados "extremamente perigosos" pela ONG Pesticide Action Network são proibidos na UE, apenas 20 são proibidos no Mali, 19 na Nigéria, 18 na Argentina.

2 – Quatro empresas controlam 70% do mercado global de agrotóxicos

A indústria de agrotóxicos está concentrada nas mãos de um punhado de empresas. Syngenta, Bayer, Corteva e BASF controlavam 70% do mercado global de pesticidas em 2018 (contra 29% 25 anos antes). As mesmas detêm 57% do mercado de sementes. O mercado de pesticidas cresce 4% ao ano desde 2015 e pode atingir os 130,7 mil milhões de dólares (120 mil milhões de euros) em 2023. Mas "a rentabilidade do setor dos pesticidas seria atualmente impossível sem o apoio público e a cobrança coletiva dos impactos negativos", estima o Atlas. Calcula ainda que em França, em 2017, os benefícios da indústria dos pesticidas atingiram 200 milhões de euros a mais do que as despesas por eles geradas (poluição das águas, tratamento das doenças que provocam, etc.) custaram 372 milhões de euros. Ou seja, quase duas vezes mais caro.

3 – 80% dos solos europeus estão contaminados

Na Europa, as análises mostraram que em 317 canteiros agrícolas testados, mais de 80% continham resíduos de pesticidas. A água também está contaminada. Segundo um estudo da Agência Europeia do Ambiente, cerca de um terço das estações europeias de monitorização das águas superficiais apresentaram níveis de pesticidas superiores aos limites nacionais entre 2013 e 2019. No ar, foram encontrados resíduos de pesticidas a mais de 1.000 quilômetros de seu local de aplicação.

4 – As mulheres estão mais expostas aos perigos dos pesticidas

As mulheres, menos alfabetizadas no mundo, portanto menos capazes de ler rótulos e conselhos de aplicação, são mais vulneráveis ​​aos pesticidas, aponta o relatório. Por exemplo, no Nepal, 53% dos agricultores do sexo masculino lêem e entendem os rótulos, em comparação com 25% das agricultoras. No Gana, 65% dos agricultores do sexo masculino conhecem os pesticidas proibidos, em comparação com 5% das agricultoras.

5 – Mudar o sistema agrícola custaria menos

“É todo o sistema agrícola e alimentar que precisa de ser mudado”, explica Mathilde Boitias, diretora da Fábrica Ecológica e coordenadora do Atlas. A agricultura orgânica é a única que garante a não utilização de agrotóxicos sintéticos. A União Europeia gostaria de triplicar o número de quintas orgânicas até 2030. Isso custaria 1,85 bilhão de euros por ano, menos do que os custos sociais ligados aos pesticidas, sublinha l'Atlas.

Marie Astier, Reporterre.

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