Marcelo Rebelo de Sousa - caricatura de Gargalo.
- “(...) Marcelo não quer saber de ti, de mim, do PSD, do PS — Marcelo não quer saber de nada: olha-se ao espelho e faz-lhe a vontade. (...) Marcelo instrumentalizou a Presidência para o seu projeto pessoal de exercício da política: um carrossel de festividades sem nenhuma relação com a realidade, ou as necessidades de cada instante. Marcelo desligou da realidade há algum tempo, já. Mas beneficia ainda do facto de em Portugal o respeitinho pela Presidência ser absoluto: ele é intocável e inescrutinável por uma Imprensa que manobra com rara mestria desde há 50 anos. Marcelo fala, a Imprensa baba. É assim desde que Marcelo aprendeu a falar. (...)” Paulo Querido.
- «Em 26 de Janeiro de 1988, a Austrália branca celebrava o 200º aniversário da invasão britânica. Estávamos no meio do Verão. A bordo de um iate no porto de Sydney, o correspondente de vinhos e gastronomia do Sydney Morning Herald enviava esta reportagem "festa ímpar": "Nada que eu tenha visto, nem o funeral de Churchill, nem a Aida em Luxor, nada, nenhuma cena em 52 anos pode igualar isto. Mil mastros, quilómetros de cordame expostos ao longo da junção do céu e do mar como um enorme conjunto de violinos... Há elegantes festas de almoço, chás requintados em algumas das mansões. Mas as pessoas reais estão reunidas na proximidade eufórica ... aplaudindo cada embarcação que passa, exultando no espetáculo... Que se lixem os críticos. Se eles não compreendem que uma nação precisa dos seus rituais, dos seus cerimoniais, das suas oportunidades para mostrar como se pode portar bem quando lhe dão oportunidade e estímulo . . então não há esperança para ela". (...) Trinta mil aborígenes australianos desfilaram em Sydney no dia do Bicentenário. A polícia reduziu esse número para metade, claro, e os comentadores, que não tinham mais nada a dizer sobre o assunto, afirmaram incessantemente que o desfile tinha sido pacífico. Só que eles tinham insinuado que poderia ter sido de outra forma. No porto, um veleiro, que deveria representar uma das "Primeiras Frotas", ostentava um anúncio da Coca-Cola. No cais, o Príncipe de Gales fazia um discurso gentil aludindo à verdade de que uma nação é julgada como civilizada pela forma como todos os seus habitantes são vistos. O primeiro-ministro, Bob Hawke, não fez tal comparação. "Na Austrália", disse ele com veemência, "não deve haver privilégios de origem". As pessoas dos autocarros, os "críticos", sabiam o que ele queria dizer. Enquanto ele falava, as famílias dos que morreram sob custódia policial atiravam flores para Botany Bay. Muitos dos segredos da Austrália não sobreviveram ao ano do Bicentenário. Pessoas de todo o mundo interessaram-se pela luta de um povo sobre o qual pouco sabiam. Para elas, o ressurgimento dos primeiros australianos parecia um fenómeno do século XX e o verdadeiro objetivo do Bicentenário. A Sociedade Anti-Escravatura, que em 1970 publicara um relatório referindo que "muitos aborígenes vivem numa pobreza dependente que é extrema segundo os padrões mundiais", informava em 1988 que "estas observações continuam a ser válidas”. Um estudo das Nações Unidas concluía que os aborígenes viviam em "pobreza, miséria e frustração extrema" e condenava o Governo australiano por estar a "violar as suas obrigações em matéria de direitos humanos". O mais grave de tudo é que a Austrália era comparada abertamente com a África do Sul.» John Pilger, A secret country – Vintage 1989, pp 76-80.
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