As petrolíferas
têm vindo a ser alvo de um escrutínio jurídico crescente e enfrentam acusações
de defraudar investidores, extorsão de fundos e uma vaga de outros processos
judiciais. Mas há quem defenda que podemos responsabilizá-las alegando
homicídio.
Esta teoria jurídica é exposta num artigo aceite para publicação na Harvard Environmental Law Review. Nela, os autores (Arkush e Donald Braman, professor da George Washington University Law School ) argumentam que as empresas de combustíveis fósseis "não têm estado simplesmente a mentir ao público, têm andado a matar membros do público a um ritmo acelerado, e os procuradores deveriam chamar a atenção do público para esse crime". O artigo baseia-se em parte no crescente conjunto de provas de que as empresas de combustíveis fósseis sabiam dos danos que os seus produtos causavam e enganaram o público a seu respeito.
Nada disto é
novo. Procuradores-gerais e cidades utilizaram essa informação para processar
as petrolíferas por danos financeiros causados pela subida dos mares, incêndios
e calor. A BP foi processada após o derrame de petróleo da Deepwater Horizon no
Golfo do México em 2010, tendo a BP assumido a culpa de 11 acusações de
homicídio involuntário de trabalhadores que morreram na plataforma e levando a
um acordo de 4 mil milhões de dólares. Os
procuradores da Califórnia em 2019 acusaram a Pacific Gas & Electric Co. de
homicídio por mortes relacionadas com um incêndio em 2018, que matou 85
pessoas. A PG&E declarou-se culpada de 84 acusações de homicídio
involuntário por ter causado o incêndio e foi multada em 4 milhões de dólares.
Mas o novo
documento argumenta que a investigação climática das petrolíferas e a luta
contínua para adiar os regulamentos climáticos constituem um "estado
mental culpável" que tem infligido danos às pessoas, incluindo a morte.
Homicídio é um
termo que inclui acusações que vão desde homicídio involuntário a homicídio. A
primeira é uma acusação menor quando a morte foi causada sem intenção, enquanto
que o homicídio é reservado aos casos em que o arguido tinha conhecimento de
que a tomada de uma ação específica poderia matar alguém ou se envolveu num
homicídio premeditado. Arkush considera que as empresas de combustíveis fósseis
sabiam que os seus produtos agravavam a crise climática e, no entanto, continuaram
a extrair petróleo, gás e carvão.
Os autores recomendam uma sentença particular caso as empresas de combustíveis fósseis sejam consideradas culpadas de homicídio: reestruturando-as como empresas de utilidade pública, semelhante ao que aconteceu à Purdue Pharma como parte do seu acordo por contribuir para a crise dos opiáceos. Isso permitiria a rápida desativação da produção de combustíveis fósseis e o consequente aumento dos investimentos em energia limpa e protegeria os trabalhadores e as comunidades ligadas às empresas de combustíveis fósseis.
Fontes: Brian Kahn, The Guardian e Lesley Clark.
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